terça-feira, 28 de abril de 2009

Gripe Mexicana

Os recentes acontecimentos já eram mais que esperados.

Há anos os infectologistas e epidemiologistas esperavam que surgisse uma mutação no vírus influenza que causasse uma infecção (logo, uma epidemia) perigosa ao ser humano.

O vírus influenza é natural nas aves domésticas, em especial dos patos asiáticos, e seguidamente, e até podemos dizer uma vez por ano, muta para os porcos, e destes para o homem com ainda mais facilidade.

Tal acontece em média uma vez por ano. Exatamente por tal motivo nos vacinamos (em especial idosos e crianças) uma vez por ano, quando nos tornamos relativamente imunes (ou seja, nossos anticorpos ficam disponíveis, preparados) a última variedade do vírus (pelo menos, a que conseguimos isolar).






O vírus influenza (http://www.bma.org.uk/)

As vezes a mutação é ruim para o vírus, logo, pouco maligna para nós. As vezes não, e aí que reside o problema. Estatisticamente, e até podemos dizer probabilisticamente, e façamos uma analogia com um dado, exemplo mais simples de se entender probabilidades, cai 4, 5 ou 6, e temos o jogo ganho, e o vírus nos dá apenas uma febrezinha, e parcela da população nem sequer tem mais que um desconforto.

Mas as vezes cai no dado 3, 2 ou 1. E aí reside o problema. Nestas jogadas, perdemos o jogo.





A última vez que caiu, digamos 1, foi durante a "febre espanhola" (ou "gripe espanhola"), de 1918-1919, com uma taxa de letalidade de 6 a 8 % na sua fase mais maligna.

Foi o que chamamos de pandemia, afetando todo a humanidade, em praticamente todos os pontos da Terra. Atingiu especialmente os jovens. Calcula-se que tenha atingido 50% da população mundial, tendo matado de 20 a 40 milhões de pessoas, sendo considerada o fenômeno epidêmico de todos os tempos. Suas mortes registradas superaram as da Primeira Guerra Mundial (19 a 20 milhões estimados). Mas não se conhece o verdadeiro total, pela falta de estatísticas confiáveis, principalmente na China e Índia, que podem esconder um número ainda maior de vítimas.

Foi tão evastadora que não poupou classes sociais ou posições de poder (a peste negra, em comparação, matava mais a população pobre e "servil", pela presença e proximidade de ratos), a tal ponto que o presidente do Brasil, Rodrigues Alves, foi uma de suas notórias vítimas.


Sabemos que vírus mutam, e comparamos tais mutações a dados, mas temos de entender porque que mais cedo ou mais tarde, somos castigados com um resultado 1.


Probabilidades e Distribuição de Poisson


Quando lançamos um dado, logicamente de seis dados, a probabilidade de cair qualquer de seus dados é UMA em SEIS, ou 1/6, como nos habituamos a tratar em matemática.

Uma pergunta adequada a ter esta resposta seria:

Qual a probabilidade de em UM lançamento, termos o resultado 1 em um dado?

Mas quando perguntamos:

Qual a probabilidade de em UM MILHÃO de lançamentos, termos UM resultado 1 pelo menos em um dado?

A resposta não será 1/6, pois esta é a resposta de aproximadamente em quantos destes um milhão de lançamentos cairá o resultado 1 (aproximadamente 166666 vezes).

A probabilidade de cair um dado PELO MENOS com o resultado 1 em um milhão de lançamentos é de um número que TENDE a 1, e podemos dizer com segurança, por um caminho mais de "juízo" que matemático, que sabemos que certamente, ao se lançar um dado durante um milhão de vezes, teremos pelo menos um resultado igual a 1.

Em outras palavras, por um caminho inverso, é praticamente impossível em um milhão de lançamentos, que não caia 1.

A distribuição que trata deste tipo de problema em probabilidades é chamada de distribuição de Poisson. Ela trata de probabilidades que sejam "acumulativas" (notemos as aspas, pois não trata-se de uma simples soma). Quanto mais tempo (ou lançamentos) passa, mais provável ocorrer aquele evento esperado, ainda que em cada lançamento, a probabilidade do resultado 1 seja 1/6, mas se ele "até agora não ocorreu", certamente ocorrerá no futuro, ou AGORA.

Exatamente por estas questões, que a MEGASENA acumula, mas não acumula eternamente, pois mais cedo ou mais tarde, e podemos afirmar um limite até hoje de mais ou menos 9 semanas, alguém é o feliz ganhador de uma "bolada".

A curva de uma distribuição acumulada nos dá a idéia mais clara do que tratamos:

(Grato à Wiki-en!)
Como dizia um ex-professor de Álgebra Linear e Geometria Analítica: -Não sei se me fiz claro?

Para um entendimento mais formal do que apresentei, recomendo a leitura do bem claro e simples artigo da Wiki-pt:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Distribui%C3%A7%C3%A3o_de_Poisson

Assim, dentro da questão que estamos tratando, vírus mutam aleatoriamente, e neste aleatoriamente, mais cedo ou mais tarde, mutam sendo danosos ao extremo ao ser humano.

Assim, se esta atual epidemia não se tornar uma pandemia, mais cedo ou mais tarde, tal como é certo que quando jogamos dados tiramos o mais baixo valor, os vírus mutarão para uma epidemia mais grave, e talvez, uma pandemia.

Assim, temos de estar preparados. Mas será que estamos?___________________________________________

A seguir:

Medicação e tratamentos

Medidas pessoais

Medidas governamentais

A questão populacional

X-Men Origins: Wolverine




Estreia esta sexta o filme X-Men Origins: Wolverine, e como já percebi que as visitas a este blog aumentam com a citação de filmes, e sem querer negar meu medíocre mas existente talento para marketing, vamos tratar do tema dos "mutantes" da Marvel, dos quais, inclusive, sou fã (embora não tanto, confesso, como de Lanterna Verde, meu super-herói favorito, e de Batman, na minha opinião, o melhor e mais profundo - se explorado - personagem já criado para os quadrinhos e seus subprodutos).

Assim, iniciemos pelo X-Men Wolverine

Vemos que este super-herói dispõe de dois, digamos, no jargão do meio, superpoderes: capacidade de regeneração e o esqueleto de adamantium. Façamos uma dissecação de tal personagem, e o termo aqui é exatamente este biológico.


O que é regeneração?


Em termos simples, é a capacidade de após ter-se tecidos destruídos, estes voltarem ao estado inicial.


Notemos que nós fazemos isto, mesmo para queimaduras de segundo grau, mesmo para cortes profundos e num certo nível, até para nossos órgãos, como o fígado, e mesmo lesões mais graves, mas com um retorno apenas parcial.


Isto se deve exatamente a um quadro de manutenção do ser vivo... vivo, e foi desenvolvido pelo processo evolutivo desde as mais simples criaturas até os mais complexos seres da natureza.


Neste processo, algumas capacidades, vamos dizer macro, de regeneração foram perdidas, como a capacidade que as salamandras tem de repor até mesmo um membro inteiro, ou as lagartixas e determinados lagartos a cauda, perdida para escaparem de predadores.


. Regeneração da salamandra (www.cellscience.com)

Exatamente porque evoluímos, quando perdemos um braço, a não ser no futuro com a interferência de tecnologia, o perdemos até o último de nossos dias, e o mesmo se dá com "primos" mais próximos, como qualquer primata e mais genericamente com qualquer mamífero, como vemos nossos cães e cavalos de raça, mantidos vivos sem passar por um sacrifício ela veterinário or nosso apego a um cão amigo e querido, mesmo "pernetinha" ou um rentável cavalo de raça reprodutor, ainda que com uma sofisticada prótese.


Mas não temos a mesma capacidade de regeneração e até de reprodução assexuada após esquartejamento de uma estrela do mar, exatamente porque no processo evolutivo e até na complexação de nossos sistemas, perdemos tal capacidade de nossos ancestrais em comum.

Mas notemos que tais regenerações sempre demandam tempo, para o conjunto de reações químicas produzir e reproduzir os tecidos perdidos e alimento, que substituirá a massa perdida.


Tempo implica em limitações de produção de determinados materiais a determinada velocidade por reações químicas, assim, mesmo com enormes reservas e ingestão de nutrientes (que serão direta e indiretamente futuros componentes de nossos organismos). Se produzimos imensa quantidade de novos componentes, realizando muitas reações a alta velocidade, geramos calor (a maior das reações bioquímicas dos animais é na verdade exotérmica, produz calor para o ambiente). Podemos pensar que num determinado limite, a própria produção acelerada de energia nos fritaria (basta ver os peculiares metabolismos de pequenos mamíferos, como os menores roedores, ou do beija-flor, que te tal monta precisa ingerir açúcares o dia inteiro e não sobrevive a não se controlando sua temperatura corporal num limite que seria insuportável para os demais seres vivos, ou a limitação de distância percorrida pelos guepardos, que ao gerarem determinada temperatura em seus corpos, são obrigados a repousar e resfriarem-se para caçar novamente).


Mas antes desta questão térmica, temos uma questão de "balanço de massa" que é inquebrantável desde Lavoisier.


Se ingerimos 1 quilograma de alimento, já a grosso modo, só podemos aumentar nossa massa (peso, mais popularmente), em 1 quilograma, e ainda desprezando perdas na geração de energia, transpiração e mesmo na diluição na digestão de água, entre inúmeras outras perdas desta massa.


Esta limitação de "fonte para gerar resultado", de "massa que entra menos massa que sai igual a massa que fica", limita muito dos monstros da ficação, e outro tanto de super-heróis, desde Hulk, em sua anabolia (ou "ficar bombado") em segundos, até Alien, O Oitavo Passageiro, e seu crescimento em inúmeras vezes de volume a partir de seu "nascimento" de infelizes abdômens.


De onde concluímos que se Wolverine perde um músculo do braço, e não se alimenta, independentemente da velocidade (e de sua "salamândrica" capacidade de regeneração), necessitará ou se alimentar ou digerir internamente outra parte do seu corpo para produzir a parte perdida.


Assim, se real fosse, de parte perdida em parte perdida, em uma das tradicionais lutas brutais da Marvel, acabaríamos por apenas ter o famoso esqueleto de adamantium.


Quais os materiais mais duros e resistentes que temos?


Mesmo o mais resistente dos metais/ligas (que são combinações de metais), que posso citar como sendo determinados aços especiais, as ligas de titânio, as ligas nobres de molibdênio, níquel e outros metais usados em exigências de alta tecnologia e esforços, possuem um limite a aprtir do qual ou se rompem por estiramento (o que chamamos em engenharia tração), ou fluem como um chiclete quando "apertados" (o que chamamos de compressão).


Assim, mesmo o mais forte metal/liga a partir de um determinado esforço rompe-se ou é esmagado, não interessando o quão bem projetado ou composto tenha sido.


Mas qual o motivo disto?


A questão é que sólidos não são em seus componentes, que podem ser átomos ou moléculas ainda mais ligadas entre seus átomos, ou mesmo cristais de numeroos átomos ou moléculas, como o são os aços e as ligas, não são "imovíveis" no tempo e no espaço. (Lembrando famoso ministro e uma de suas máximas: "imexíveis")


Assim, a partir de um esforço suficiente, qualquer material fluirá (comportar-se-á como fluido), mesm nas mais elevadas pressões, como as ue vemos no interior de determinadas estrelas num estado que chamamos "matéria degenerada", que apesar do termo, é exatamente a mais sólida e compacta de todas.


Assim adamantium na tradicional definição do universo ficcional da Marvel e do grande criador, figura mais que simpática, de Stan Lee, tal material não existe. (Embora, confesso, adoraria este em carros - desprezando o problema da inércia - maldita ! - ou em facas de cozinha





Por outras tantas não existe o inumbtênium (seria este o irônico nome?) de O Núcleo (The Core), assim como o próprio adamantium, pela incapacidade de qualquer material manter suas ligações no estado sólido a partir de determinadas temperaturas, que são limitadas no carbono (inclusive pelo mesmo motivo na dureza extrema e limítrofe dos diamantes) e no metal tungstênio. A partir de determinadas temperaturas, não só todos os sólidos se liquefazem ou diretamente viram gases, mas até os átomos, com seus núcleos e elétrons em órbita existem mais, e todos os materiais viram o que chamamos de plasma, e a partir de determinada temperatura, nem mesmo os próprios núcleo dos átomos conseguem se manter íntegros (aqui, chamamos de plasma de quarks, mas este é um tema que por si só já nos daria umas três blogagens quase insuportáveis de serem lidas!).


Logo, se bem atingido por raios de Cyclops, de suficiente intensidade, Wolverine não só viraria cinzas irrecuperáveis, como viraria uma poça de metal sem capacidade de voltar a sua foma anterior, pois este é outro personagem, o inesquecível T-1000, de Terminator 2: Judgment Day.


Mas estes são temas para outros textos.


Apesar de ciência não ser muito tolerante com determinadas afirmações, pois a própria natureza não é, lembrem-se que nem só de fatos e ciência vive o que seja a arte e a diversão, e há filmes que não são para serem pensados, mas sim para proporcionar bons momentos, escapismo, e comer-se pipoca (inclusive para gerar energia e regenerar nossos tecidos), portanto...


BOM FILME!


Mas lembrem-se: Cinema é um ritual silencioso.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Hipótese Gaia

Hipótese Gaia, muitas vezes chamada de teoria de Gaia (em citação a deusa grega da Terra) é uma tese do pesquisador britânico James Lovelock que a biosfera (todas as formas de vida) do planeta Terra são capazer de produzir, regular e manter as condições do meio ambiente. Esta conceituação foi apresentada originalmente em 1969.

Esta é a que chamo de hipótese Gaia moderada, que afirma que os seres vivos são uma grande força geológica.

Afirmações mais corajosas, e eu diria temerárias, afirmam que a Terra é um ser vivo. Eu discordo radicalmente eaté afirmo que não se pode dizer uma besteira destas. A Terra não tem um organism uma consequência de seu interior, logo, nem mesmo na superfície os seres vivos formam um conjunto único (e nem mesmo em fluxo biunívoco de fenômenos) com a geologia.

O mesmo já não se pode dizer dos oceanos, massas de água menores e da atmosfera, e isto veremos.

Juntamente com a bióloga norteamericana Lynn Margulis, Lovelock analisou compartivamente a atmosfera da Terra com a de outros planetas, vindo a propor que a vida na Terra altera nossa atmosfera, criando as condições para sua sobrevivência até proliferação.

A teoria, mesmo em sua forma original, mais moderada, foi vista com descrédito pela comunidade científica, ganhando inúmeros simppatizantes leigos entre místicos, "new agers", mas relativamente poucos pesquisadores.

A teoria ganhou corpo em aceitação com a fenomenologia do aquecimento global. Aqui trataremos de apresentar alguns fenômenos da história da Terra, que comprovam não só que a vida interfere na geologia do planeta, mas que o processo evolutivo aliado às modificações causadas pela própria vida propiciam novas formas de vida, abordando a questão Gaia de uma maneira ainda mais moderada, mas sólida.

Óxidos de ferro e Archaea

Archaeas são minúsculos organismos descobertos em rochas vulcânicas do estado norteamericano de Idaho e em minas na África do Sul, a mais de dois quilômetros de profundidade. Chegam a ser tão exóticos que ganharam a classificação num reino biológico exclusivo, fonte ainda de controvèrsias entre os biólogos, mas a questão aqui é apenas da classificação, e não da natureza exótica de seu metabolismo.

O que não se discute é que sejam monocelulares e sem membranas celulares, tal como as bactérias. Quanto a seu metabolismo, estes seres de ambientes extremos (extremófilos) alimentam-se de hidrogênio, compostos sulfurosos, manganês e óxidos de ferro, e até de metais pesados e seus compostos, e dispensam em seu mundo a ação da luz solar.

Sua própria descoberta perturbou as suposições originais de que a vida teria se formado inicialmente na superfícies dos mares e lagos ricos de nutrientes, como já o pensava Charles Darwin.

Oxidando derivados de enxofre, o metano, o ferro e outros metais, modificam a geologia nas quais estão significativamente, e podemos afirmar com segurança que muito do que vemos hoje no mundo, em especial as "terras vermelhas", ricas em óxido de ferro (III) (Fe2O3), partindo de óxido de ferro (II) (FeO).

Assim, podemos afirmar hoje com segurança que estes seres vivos (que talvez formassem um grupo imensamente mais numeroso em variedades e gigantesco em volume) tenham transformado uma paisagem acinzentada em nosso divertido mundo de grandes extensões vermelhas, como se vê na África, na Ásia, na América do Norte, na Austrália e até em nosso Brasil.


Fotossintetizantes e o oxigênio

Antes de surgirem os seres fotossintetizantes, a atmosfera era um acúmulo de metano, amônia, nitrogênio e dióxido de carbono. O metano havia se tornado mais raro pois muito de seu volume havia sido consumido na formação de toneladas e mais toneladas de seres vivos, na produção de aminoácidos. A amônia era muito reativa, e igualmente entrou na formação dos aminoácidos. O nitrogênio é bastante inerte - aliás, há substâncias que são extremamente explosivas não porque se decompõe em outras com extrema facilidade, mas sim porque a inerte molécula de N2 se forma com imensa facilidade. Já o CO2 estava disponível em abundância. Bastava surgirem organismos que consumissem a enorme disponibilidade deste gás com o uso da abundante energia solar para proliferarem, aliás, como bactérias.

Iniciada a era dos fotossintetiantes, nossa atmosfera nunca mais foi a mesma, e tornou-se inclusive tóxica para inúmeros organismos, e até passou por períodos de taxa de oxigênio mais alta que os 20% de hoje, como o Carbonífero, permitindo insetos enormes por facilitar sua respiração.


A seguir

Regulação de temperatura
Nossa presença como escala geológica
e nossa influência já antiga no meio ambiente

sábado, 25 de abril de 2009

Presságios Sobre Nosso Sol II


Devido a um comentário elogioso e interessado de meu leitor Vanius, onde apontou-me um detalhe do filme que me passou desapercebido, tratarei mais uma vez do apresentado no filme Presságio.

Em itálico, suas questões.

"Bem, tive a impressão que no momento da erupção os planetas estavam mais ou menos alinhados (os atores viam a simulação no computador)."

Primeiramente, vamos acrescentar ao nosso texto anterior, sobre a caoticidade do sistema solar, que os planetas não se alinham numa reta conforme os pontos em cima de um disco, como os de vinyl. Os planos orbitais dos planetas não formam um único plano.

Assim, em números, a inclinação da órbita da Terra sendo tomada como 0° leva a órbita de Mercúrio a ser num plano de 7° e a de Vênus a ser de 3,39° com o da Terra.

Assim, os alinhamentos são bastante mais complexos, mas vamos desprezar a questão e colocá-los num mesmo plano.

Temos de considerar que a "sombra" que Mercúrio faz em relação ao Sol e nossa Terra é insignificante em relação ao diâmetro do Sol (38% do diâmetro terrestre), mas na distãncia que estamos, tal sombra não é nula. É apenas anulada em seu efeito pela dispersão ("pouco foco") do imenso diâmetro solar e sua intencidade. O mesmo podemos dizer para Vênus, com seu diâmetro praticamente idêntico ao da Terra.

Mas o problema é que o bloqueio físico é pequeno, como um anteparo, mas o bloqueio gravitacional, NÃO.

Assim, temos o processo em etapas: digamos que saia uma grande "golfada" de gases do Sol. Eles irão em direção à Mercúrio, se em alinhamento com a Terra, e mesmo com o pequeno campo gravitacional deste planeta (proporcional a uma massa 6% da da Terra) será esta massa de gases atraída em direção a Mercúrio, até ganhando velocidade, mas ao passar, exatamente pelo mesmo motivo, será desacelerada (e isto implicaria em mais tempo de viagem, perda do total de gás a ir em direção à Terra. O mesmo se daria em Vênus, mas agora com um campo gravitacional de um planeta de massa 82% da da Terra.

Exatamente por este motivo, o vento solar assopra Mercúrio ao ponto deste ser (quase) isento de atmosfera, mas não produz o mesmo efeito em Vênus, que possui uma atmosfera que é quase um oceano de líquido em comportamento.

É de se observar que os campos gravitacionais não fariam os gases convergirem mais "colimados" em direção a Terra, mas os desviariam inclusive em outras direções, como um objeto qualquer, como um abajur corta o jorro de ar de um ventilador (observe as grades na frente de um turbocirculador de ar).

Assim, concluímos que o alinhamento protegeria a Terra, e não pioraria nosso problema.

Júpiter faz esta proteção não com os gases do Sol, mas com um problema muito mais nevrálgico à vida na Terra, como os impactos de asteróides e cometas (basta ver a extinção do Cretáceo ou as colisões de cometas, como a "pequena" colisão em Tunguska).
Logo, o "Gordo" é nosso amigo, assim como as "pedras" entre nós e o Sol.
"Como a força gravitacional é exercida tanto pelo sol quanto pelos planetas (salvo as devidas proporções) pergunto:se ocorresse uma erupção solar ela não iria seguir onde o campo gravitacional estivesse mais fraco (em direção aos planetas)?"

Aí reside a questão. O Sol não "gosta" de libertar seus gases. Tanto que o sistema solar juntou o máximo de materiais no Sol, e não no restante do seu espaço. Aqui, uma conceituação: o sistema solar é tudo que está DENTRO da "núvem de Oort", mesmo se esta for apenas uma boa hipótese e não um objeto. O sistema solar não se formou porque o Sol existe, e sim porque o que ERA o sistema solar condensou-se, agregou-se, mesmo quando o Sol ainda "aceso" nem existia, e sua evolução no tempo, produziu o Sol, concentração maior desta agregação.
Para efeitos ilustrativos, a massa do Sol está para a de Júpiter na razão de um número de 30 zeros está para um número de 27 zeros, ou em outras palavras, de 1000 vezes maior.
(Certamente o parágrafo acima horrorizará astrônomos, porque o que seja o sistema solar implica em existir o Sol, até para poder ter este nome, mas as vezes minha didática implica em fazer determinadas distorções.)



O sistema solar passou pela fase de um grande disco de acreção, e neste, agregaram-se os planetas. Mas voltando...
Daí temos, e acho até que a conclusão, pouco modestamente, é "luminosa" de que se o Sol produzisse explosões de grande alcance, o sistema solar seria impregnado de gases, e não está. Na verdade, é um enorme vazio com algumas bolinhas de rocha e algumas bolas de gás, e um tanto de entulho variado, como os asteróides e os cometas, sem falar, é claro, em uma bola de reações nucleares, com diâmetro de 1,5 para 4500 da órbita de Netuno (já que Plutão foi rebaixado a um "cometão", como brinco). Em adicional a isto, também percebe-se que os quatro internos não rochosos, e mesmo Marte, o mais externo, nem mesmo consegue manter grande atmosfera, de onde percebe-se que a região próxima ao Sol ABSORVE gases para o Sol, e não o contrário.

Mais uma vez estamos seguros, o que implica nossos 3,7 a 3,8 de presença de vida na Terra já quase 200 mil anos de macacos pelados impestando o planeta (leiam Humanidade Como Força Geológica, minha série sobre o tema).

"Não existe uma distorção do espaço (nem que seja pequena) entre os planetas e o sol?"

Sim, existe, e não é só de espaço, mas de espaço-tempo, inclusive, sendo o que causa a precessão do periélio de Mercúrio, grande problema da Astonomia, que guarda implicações com a Relatividade Geral, mas que é MUITO MAIOR, e exatamente nisto, próxima do Sol, que representa a imensa maioria da massa do sistema solar, e exatamente por isso, a maior concentração de seu campo gravitacional, e mais uma vez, exatamente por isso que lá se formou o Sol.

Para conhecer a precessão de Mercúrio em seu periélio, recomendo ler o artigo da Wiki pt, por sinal, de abertura e colaboração minha:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Precess%C3%A3o_do_peri%C3%A9lio_de_Merc%C3%BArio

Assim, a distorção pela gravitação intensa é o que leva aos gases não saírem de próximo do Sol, e somada a efeitos do intenso eletromagnetismo do Sol, ao comportamento "em arco" como se vê na imagem abaixo.


"Se sim, então talvez a direção de uma erupção não seja tão aleatória assim?"
A atração pelos planetas é determinada pelos campos gravitacionais dos planetas, mas a emissão (direção de saída) do Sol não. A emissão das erupções mesmo menores do Sol é bastante aleatória, e nem mesmo mostra-se direcionada pelos planetas, tanto que na imagem acima, observa-se que não se dá em nossa direção, nem mesmo no plano do equador solar.
Mas aí terei de perguntar: E se daria na direção da Terra, uma "pulga", ou na direção de Júpiter, um "besouro", e ainda mais dos outros gigantes gasosos?
Claro que os gigantes seriam os atratores maiores em gravidade, mas LOCAL, pois a gravidade se dá ao inverso do quadrado da distância, e neste caso, o imbatível em atração seria o pequeno Mercúrio, da mesma maneira e pelo mesmo motivo que as marés causadas pela Lua, um anão no sistema solar, não podem ser ultrapassadas nem mesmo pelo Sol, senhor absoluto da gravidade do sistema solar, e a causa maior de sua história evolutiva.
Logo, continuamos mais que seguros, e nesta posição que estamos, nosso planeta continuará a ser propício à vida em seus valores maiores de temperatura e radiação, a mesno que façamos MUITA bobagem.
E lembremos de minha máxima: A Terra é uma prisão da qual AINDA não podemos sair.

Mutações, radiações e aleatoriedade

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Mutações

As mutações são mudanças na sequência dos nucleotídeos do material genético (ou mais resumidamente, alterações no DNA) de um organismo. Sabemos que as mutações podem ser causadas por radiações ionizantes e outros fatores. Mutações, se produzem alterações nos seres vivos que sejam mais adequadas à sobrevivência ao ambiente (como uma maior resistência ao calor ou frio, como pelos mais densos para um animal que poderá ocupar regiões mais geladas , ou atrativas sexualmente, como penas mais coloridas numa ave, ou neutras, como quatro chifres no gado bovino), E (e é fundamental que se entenda este E) transmissíveis aos descendentes do ser vivo mutado, acabarão por produzir população de iguais características, e esta em modificação no tempo, até por mais mutações, resultará no processo contínuo em seu quadro mais amplo que chamamos evolução dos seres vivos.

Radiações ionizantes

Radiações ionizantes são aquelas capazes de ionizar átomos, e portanto, destruir ligações químicas em moléculas. Como o DNA é uma molécula, e bastante complexa, sua recepção à radiações é grande e produz efeitos.

As radiações ionizantes "tradicionalmente" são: radiação beta, radiação alfa, radiação gama. A estas vamos acrescentar para efeitos deste estudo a emissão de nêutrons e a emissão de prótons, e veremos em passos simples e firmes porque podem causar ação mutagênica.

Radiação Beta

A radiação beta é produzida pela emissão de elétrons a partir de nêutrons nos núcleos atômicos. Sua emissão faz com que um átomo de número atômico N "suba" para um número atômico N+1.
Em termos de uma "reação", o processo no nêutron pode ser representado por:
n → p + e + v

Onde n é o nêutron, p o próton, e o elétron (ou pósitron, de certa maneira podemos dizer um "elétron" positivo) e v um neutrino.

Como exemplo da "reação" em termos do átomo modificado por esta emissão, apresentamos o decaimento beta do sódio 22 ao neônio 22 (o sódio possui número atômico 11 e o neônio 10, de onde percebe-se que aproximadamente a massa atômica não diminui, exatamente porque o elétron representa pouco em termos de massa).
Na → Ne + e + v

Assim, deve-se entender que uma "molécula" de trivial sal de cozinha, NaCl (propriamente falando, o NaCl não possui moléculas no estado sólido e sim, apenas um arranjo cristalino), quando deste decaimento, se decomporá em cloro e neônio. Já num líquido, desprender-se-ão estes dois gases para o meio.
Aqui, destaco que em física nuclear a matéria se modifica das forma mais inimagináveis aos químicos do século XVIII.
Esta emissão se dá aleatoriamente no tempo e mais ainda, aleatoriamente em direção no espaço, de onde, em outras palavras, podemos dizer que sua ocorrência é imprevisível tanto em quando se dá como em para onde vai o elétron produzido.

Uma "reação inversa" da emissão beta é a captura de elétron, onde um elétron é absorvido por um próton num átomo produzindo um nêutron.

p + en + v

Um exemplo deste tipo de "reação" é a tranformação do potássio 40 no argônio 40:

K + e → Ar + v

De onde uma molécula contendo potássio em nosso corpo pode num determinado (mas aleatório momento, se o elétron beta com ele "colide") se transformar em um gás inerte, e romper a molécula neste ponto.




education.jlab.org


Radiação alfa

As partículas alfa são núcleos de hélio (He 2+), com dois prótons e dois nêutrons, assim, são emitidas por um processo de fissão, em um sentido mais classificatório.

Um exemplo, é a fissão do amerício 241 em neptúnio 237:

Am → Np + He 2+

Notemos que esta emissão também se dá aleatoriamente no tempo e em direção no espaço.




scienceblogs.com


Radiação gama

Esta radiação é emitida por inúmeras reações nucleares, tanto de fissão quanto de fusão, e é sempre associada a eventos de alta energia. Os "raios gama" são fótons, "luz invisível" e exatamente porque possuem alta energia e se originam em enérgicos fenômenos, causam tabém enérgicos fenômenos e alteram drasticamente outros átomos e ligações entre eles.

É a mais penetrante das radiações luminosas, superando mesmo os raios X (que também são radiações ionizantes, mas nem as trataremos).

Sua emissão é igualmente aleatória no tempo e em direção.



Emissão de nêutrons

Átomos com excesso de nêutrons emitem estes nêutrons e decaem a isótopos mais estáveis, como o que ocorre com o hélio 5, decaindo ao hélio 4.

Mais interessante para nós é a questão que nêutrons emitidos, seja porque fonte, ao "colidirem" com os átomos de nitrogênio 14 na atmosfera, produzem carbono 14 e hidrogênio.

n + N → C + H

Notemos que o mesmo pode acontecer com a grande quantidade de nitrogênio que possuímos em nosso corpo, de onde nossas bases nitrogenadas, no DNA, podem de um momento para outro passar a ser uma nova molécula.

O carbono 14 formado, por exemplo (e destacadamente) na atmosfera, absorvido pelos seres vivos, e depois até formando nosso DNA decairá em nitrogênio, e pelo decaimento beta:

C → N + e + v

De onde QUALQUER cadeia de carbono em nosso corpo, logo o DNA também, pode ser rompido em seu mais estrutural componente, e portanto, partir-se ou modificar-se radicalmente.

Notemos que os processos acima podem ser sinergéticos, um atuando sobre o outro, em cadeia quase ilimitada, e portanto, permanentemente mantendo nossa bioquímica instável.

Decaimento do nêutron

Notemos que a equação fundamental do decaimento beta é a mesma que descreve o decaimento do nêutron, que se dá fora do núcleo numa meia vida de aproximadamente 15 minutos:

np + e + v

De onde tiramos que um nêutron no espaço, fora dos núcleos, produz um próton e um elétron, sem isto ser determinável em tempo e direção dos produzidos, em processo mais uma vez aleatório.

Existem igualmente imissões de prótons, mas sua ocorrência é relativamente rara, e não será nem abordada aqui.



A aleatoriedade das radiações


Na intimidade da matéria

Após descrevermos as diversas radiações ionizantes, vamos recordar que sua ocorrência se dá aleatoriamente no tempo e em direção e portanto, podem ocorrer em qualquer átomo a elas propício, em qualquer situação de reação nuclear que as produza, e mais que isto, em qualquer região do universo, mesmo do nosso corpo, tanto em emissão quanto em absorção e seus efeitos.



No conjunto dos átomos


Se os átomos, mesmo numa poça d'água, mesmo num simples movimento browniano como o que se evidencia numa borra de café apresentam comportamento caótico multiparticulado, o que diremos de corpos celestes como as estrelas, mesmo o pequeno Sol, que as produzem, com destaque para a radiação gama, em um ambiente convulsivo mesmo da posição e direção de movimento dos átomos.

Assim, o ambiente de extrema agitação das partículas das estrelas e de suas organizações pelo universo, produzem aleatoriedade independentemente da emissão aleatória de direção e no tempo das próprias radiações, e a elas multiplica.


No conjunto dos corpos celestes e em nosso planeta

Agora percebamos que também as estrelas em seu conjunto são um sistema multiparticulado, que mostra-se ao apenas olhar-se a Via Láctea a noite, com sua distribuição aleatória e evolutiva de estrelas, de inúmeras e bem distribuidas idades, mesmo em seu comportamento tão homogêneo no tempo, pois enquanto algumas se formam, outras explodem e outras se apagam.

Devemos também somar as translações das estrelas umas ao redor de outras, em sistemas duplos e triplos e ainda mais complexos, a rotação das galáxias, a complexa translação das estrelas nestas, sua modificação de posição relativa no tempo, a permanente mesmo que lenta modificação das constelações, e até as translações das galáxias umas ao redor das outras.

Assim, recebemos radiações ionizantes de todo o universo, de todas as direções e inclusive, nos movimentos mais triviais, pois mesmo o mais sólido carvalho balança ao vento, e portanto percebemos que as ações das radiações são um sistema caótico (no sentido matemático-físico mais profundo), por si, e portanto, as mutações e sua ocorrência no tempo são em sua ação no biológico um processo estocástico (que se comporta na origem do termo do grego "Στόχος", suposição).

Portanto, e esta é nossa maior conclusão, a ação de radiações é aleatória, desde sua origem, e portanto produz efeitos aleatórios, como as mutações, e sendo as mutações um dos motores do processo evolutivo, se conclui que a mutação é igualmente um processo estocástico, e tal como afirmou DAWKINS, o relojoeiro é cego, e aqui estamos lendo e escrevendo porque sobrevivemos a este processo, não porque fomos evidente e conclusivamente planejados.

Mas atentemos, pois as mutações são aleatórias, e o ambiente é aleatório em seu comportamento geológico, até mesmo pelo citado comportamento aleatório das estrelas como o Sol e do geologismo do manto terrestre pelo mesmo motivo de sistemas multiparticulados, mas o efeito deste ambiente na seleção que resultará nos seres sobreviventes é determinante.

Mas isto é tema para outro texto.

sábado, 18 de abril de 2009

ESTAMOS NUM SISTEMA CAÓTICO

ESTAMOS NUM SISTEMA CAÓTICO

Após definirmos o que são os seres vivos, tanto em seu fluxo de energia quanto em sua constituição molecular, vamos apresentar o quão caótico é o planeta, o sistema solar, a galáxia, o aglomerado de galáxias e o imenso sistema de aglomerados de galáxias em que vivemos.

D.I. e o Sistema Solar - Algumas Observações

Recentemente fui questionado pelo meu amigo Ravick de uma interessante questão: Se a Lua se afasta progressivamente da Terra, órbita após órbita, não estaria a Terra fazendo o mesmo (ou o inverso) do Sol?

Após responder-lhe, veio-me a idéia de colocar mais extensamente os mesmo argumentos, fatos e mecanismos de minha resposta para ele para os outros membros desta comunidade, pois a questão, quando estendida, mantém seu não relacionamento com os Biblicistas e Criacionistas mais típicos, porém, analisado mais a fundo, realmente guarda relação com argumentos contra algumas de suas afirmações e diretamente, afasta algumas das mais comuns afirmações dos defensores do D.I. com nuances “deístas não moderadas”, que insistem na questão de que todas as variáveis propícias à vida na Terra são fruto único e exclusivo de um PLANEJADOR.

Assim sendo, comecemos do básico e do simples e avancemos a retrato mais sólido sobre exatamente o que é o sistema solar e seus planetas.Sabemos, desde Copérnico, Tycho e Kepler que a Lua órbita ao redor da Terra e esta ao redor do Sol, e assim nos manteremos sem cair em questões relativísticas (relacionadas com a Teoria da Relatividade), que nem seriam necessárias para o quadro amplo que pintaremos neste texto.
Orbitando a Lua ao redor da Terra, e tendo aquela uma massa significativa em relação a esta, comparativamente

Massa da Lua: 7,349 * 10^22 Kg

Massa da Terra: 5,9742 * 10^24 Kg

Assim sendo, temos uma proporção de 81 vezes a massa da Terra em relação à massa da Lua, o que já torna o sistema um sistema tipicamente binário, como podemos determinar já no simples sistema de equações:

Conhecendo o raio médio orbital da Lua: 384.400 Km

D1+D2=384400 (1)

, onde D1 é a distância do centro da Terra até o centro comum de gravidade do sistema e D2 a distância do centro de gravidade do sistema até o centro da Lua.

Sabendo que o equilíbrio de massas se dará em:

M1*D1 = M2*D2 (2)

Aplicando (1) em (2), temos

.’. D1=(384400*M2)/(M1+M2)

De onde D1=4671 Km aproximadamente, como pode também ser visto nesta referência:



Assim, a Terra e a Lua orbitam como um “halteres desequilibrado” ao redor do Sol, mesmo desconsiderando o mensurável afastamento progressivo da Terra e da Lua, da ordem de 3 cm por ano, o que ocasiona uma redução de nossa rotação (nosso dia) da ordem de 0,002 s por século, mas desconsideremos este “pequeno problema” temporariamente.

Se a Terra e a Lua mantém um “centro comum” em seu orbitar, devemos supor que É ESTE CENTRO que órbita ao redor do Sol, de onde concluímos que a Terra órbita ao redor do Sol numa “órbita elíptica senoidal”, flutuando para longe e para perto do Sol, sempre mantendo nesta órbita “por enquanto Kepleriana” o centro de massa de seu sistema binário com a Lua.

Mas se consideramos que a Terra-Lua realiza este peculiar movimento cíclico em função de ser um sistema binário, devemos considerar que o Sol o faz com TODOS os corpos do sistema solar, proporcionalmente às suas massas e distâncias.

A Terra e suas Precessões

A Terra possui a precessão de seus equinócios, que é a modificação de seu eixo de rotação em relação ao plano de sua órbita ao redor do Sol, e que se dá em ciclos de 25.800 anos. Mesmo neste movimento, a Terra ainda apresenta uma sutil variação de valor desta inclinação, que forma um cone, e portanto, temos um ciclo sobre ainda outro ciclo, uma obliquidade. A Terra também possui uma variação de sua excentricidade orbital, já que o Sol está num dos focos de uma elipse que é sua órbita, e tal elipse pode variar em forma, tendendo a ser mais circular ou ainda mais alongada.

Ciclos de Milankovitch

A Terra por fim, apresenta uma variação do ângulo do plano que esta órbita elíptica faz ao redor do Sol, em relação ao conjunto dos outros planetas, digamos, um plano médio do sistema solar. Esta variações orbitais são chamadas de ciclos de Milankovitch (Milutin Milanković, engenheiro e geofísico sérvio, 1879-1958). Tais ciclos, como os populares "biorítmos" dos anos 70 e 80 e ainda hoje em determinados círculos de "seguidores" determinariam os nossos ânimos, determinam o comportamento da Terra em relação à recepção de radiação solar, e se radiação, incluiriam as infravermelhas, e portanto, destaquemos, sua possível temperatura, portanto, somando aqui, também a composição da atmosfera e a refletividade da superfície.

O Sol

O centro de massa do sistema solar fica no interior do Sol, evidentemente um pouco afastado de seu flutuante próprio centro de massa (ATENTEM PARA ISSO!), pois o Sol é INSTÁVEL GEOMÉTRICA e MASSICAMENTE, pois possui vastos movimentos de convecção e modificações imensas de densidade a todo instante. Além do que, somadas às suas convecções, apreesenta ainda perturbações de toda a ordem nos seus "oceanos de plasmas" pois possui rotações dessincronizadas de suas massas. Em suma, como gosto de dizer: "é uma menininha com desritmia brincando com uma dúzia de bambolês depois de uma dose alta de LSD".

O centro de massa do sistema Solar pode ser estimado em uma FAIXA de distanciamento do "centro" do Sol, em função da massa total X distâncias dos planetas, mas devemos nos lembrar, que por não serem síncronas em velocidade angular, estas permitem que num dado momento os gigantes gasosos estejam distribuidos harmonicamente no "disco do plano do sistema solar", hora alinhados para um mesmo lado.

KEPLER NELES!

Assim, o sistema solar é um SACULEJO mantendo-se estável relativamente em seus jogo de múltiplas forças.O que podemos calcular com relativa facilidade é um EXTREMO da posição do baricentro do sistema solar, colocando as diversas massas do sistema solar (com o predomínio gritante dos gigantes gasosos, em especial de Júpiter, "O GORDO") e do óbvio Sol considerando que todos estejam alinhados na posição mais distante de suas órbitas, e no extremo oposto.

Um caso simplificado seria fazer o par Sol-Júpiter e desprezar os outros.

Assim sendo, devemos concluir que os sistema solar é um sistema de múltiplos pontos “atrativos e orbitantes” em que influências se acentuam na proximidade e se reduzem no afastamento, em que permanentemente as órbitas, suas posições e suas velocidades são minimamente influenciadas pelas ações de todos estes corpos entre si, portanto, embora dentro de determinadas modelagens e dentro de tempos razoáveis, podemos afirmar que estamos num sistema “newtoniano” simplificado e plenamente obediente às leis de KEPLER, mas a longuíssimo prazo, NÃO.

Estamos num sistema caótico APARENTEMENTE ESTÁVEL, que para os períodos de tempo com que lidamos se mostra previsível e regular, ao ponto de nisto construirmos nossa Astronomia e Astronáutica planetárias, mas de forma nenhuma é uma PERFEIÇÃO IMUTÁVEL, o que aliás, na natureza não existe.Assim sendo, pequenas alterações aqui e acolá sempre serão evidentes, como o afastamento da Lua e a alteração de nosso centro de massa Terra-Lua, que alterará nossa rotação e órbita solar, num mínimo, mas certamente alterará.

Os satélites de Marte, Fobos e Deimos, caem continuamente em direção à Marte e se recuarmos no passado mais longínquo de nosso sistema solar, perceberemos as várias alterações de ângulos e rotações dos mais diversos corpos, das mais variadas formas, desde um período maior de “agregação” de corpos disponíveis e recentemente formados até o estado aparentemente de “vácuo ordenado” em que nos encontramos.

Após este apanhado de conceitos, espero que meus leitores já tenham tido a intuição de que sendo o Sistema Solar agora entendível como um Sistema Caótico modelável APROXIMADAMENTE por um modelo KEPLER-NEWTONIANO, as órbitas de todos os corpos celestes são variantes no tempo, não necessariamente de mesma orientação e sentido de translação e não-coplanares, originadas de agregação, colisões e “mudanças bruscas de vetores”.

Nestas mudanças bruscas, hoje já não tão comuns de ocorrerem, devido à EVOLUÇÃO do Sistema Solar no tempo, causando a ausência de corpos massivos para proporcioná-las, devemos incluir, como caso menor, as colisões de asteróides e cometas e seu comportamento relativamente instável, devido a sua pequena massa, facilmente, pela pequena inércia de terem suas órbitas alteradas e infelizmente, volta e meia disseminadoras da destruição de formas de vida em nosso planeta, local ou extensivamente.

Devemos ter sempre em mente, que tal caoticidade se deve, lá nos primórdios do Sistema Solar, em suas origens na agregação de uma nuvem de gases e poeira de um a geração anterior de estrelas, necessariamente produtoras dos elementos químicos mais pesados do Sistema Solar ao redor de distintos e aleatórios centros de massa, sempre em convergência para o atual estado (de estrela central e maiores planetas) e não a partir de uma homogeneidade coerente e tampouco “do NADA”, como afirmam os criacionistas (que chamamos carinhosamente de "CRIAS"), sem base nenhuma, tanto na Geologia, como na Astrofísica, como na Astronomia, pois tais etapas de tais processos são evidenciáveis não somente por nossas evidências em diversos campos de ciências, digamos, mais palpáveis, mas também pela semelhança com outros sistemas observáveis em seus processos na “amostra das amostras” experimentais, que é o Universo.

Algumas elocubrações

O sistema Terra-Lua não é considerado um sistema duplo porque o centro de massa do sistema se encontra dentro do globo terrestre.Se a Lua se afastar suficientemente, esse centro se situará entre os 2 globos, mesmo que muito próximo da Terra. Seria correto dizer então que, no futuro, formaremos um sistema de 2 planetas, não mais planeta e satélite? Seremos um engraçado HALTERES CELESTE. O futuro do conjunto Terra-Lua é uma MAROMBA!
Obs.:Marombas são aqueles típicos halteres inteiriços de ferro fundido.

Onde certamente haverão CRIAS que dirão que tal forma é um sinal do GRANDE MAROMBEIRO CRIADOR DO UNIVERSO!



quarta-feira, 15 de abril de 2009

Presságios Sobre Nosso Sol

Assisti esta segunda feira, Presságio (Knowing) , com Nicolas Cage, mais motivado pelo nome de seu diretor, Alex Proyas, da ótima "extensão e fusão" feita aos contos de Isaac Asimov em Eu, Robô (I, Robot de 2004).

Tentarei revelar o mínimo possível sobre o roteiro, apenas citando que no filme, uma história de ficção científica, com nuances de religiosidade judaico-cristã, há um acidente de metrô muito bem feito e um acidente de avião que colocaria entre as cenas mais bem feitas da história do cinema até hoje, com nuances da mesma técnica de "mínimos cortes" de Filhos da Esperança (Children of Men, 2006), com fotografia similar e igualmente, um clima sombrio dentro de um "suspense" do início ao fim.

Curiosamente, a história em questão passa-se em 2009 (próximo a outubro se não me engano), e portanto, ano que vem já se tornará uma ficção sobre um universo alternativo onde ocorreu o narrado.

O ápice do filme se dá quando uma "super-erupção" do Sol ameaça a Terra, e neste ponto e argumento (nos termos cinematográficos), tratarei do que vi no filme, e pretendo com isto tratar algumas questões em minha área científica favorita, que é a Astrofísica.

Nota: Astrofísica é aquela ciência que deveria de chamar Astrologia, pois trata do comportamento no tempo e composição (similarmente à Geologia) dos Astros, mas infelizmente, uma pseudociência de muita popularidade parece que roubou o nome antes e NÃO DEVOLVEU.

Erupções do Sol

O Sol não é uma esfera tranquila. Muito pelo contrário, é o corpo mais dinâmico, agitado, turbulento, móvel, pois nos arrasta pela Via Láctea com ele (embora em relação aos planetas, pareça o que para Kepler num determinado momento era o próprio centro de um universo perfeito e geometricamente exato), do nosso sistema solar.

Não contente com isto, ainda é o corpo celeste mais barulhento do sistema solar, no que temos de agradecer que o som não se transmita no vácuo.

O Sol é tudo isto porque embora seja uma estrela bastante insignificante dentro da Via Láctea, sendo classificado como uma "anã amarela", de diâmetro médio de menos de 1,4 milhão de quilômetros, de temperatura de superfície que nem chega a 6000°C (há estrelas muito mais quentes), temperatura interior de menos de 16 milhões de °C, o que lhe permite apenas, por enquanto e por muito tempo, fundir prótons em núcleos de hélio pela cadeia próton-próton.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cadeia_pr%C3%B3ton-pr%C3%B3ton
(sendo o verbete de abertura e vigília minha, eu garanto o ali tratado)

Notem que de todas as formas procurei humilhar nosso "astro rei".

Mas se assim insignificante nosso monarca não fosse, não estaríamos aqui, e apenas este tema já dá margem a páginas e páginas deste autor (medíocre) e já deu a milhares de autores (incluindo gênios).

Sendo, ainda que uma insignificante, uma estrela, ela apresenta um comportamento um tanto heterogêneo no tempo, tal qual uma chaleira com água fervendo, as vezes produz respingos.

Estas erupções, mesmo na escala de nosso Sol, com seu jorros de plasma de altíssima temperatura, ao sair do Sol enfrentam um inimigo das estrelas muito mais poderoso que qualquer capacidade delas gerarem energia. Enfrentam o vácuo do espaço, suas enormes distâncias e em conjunto com isso, duas características da natureza: os gases não possuem volume fixo, sempre se expandem quando não encontram limitação e sempre o calor tende a se dissipar, esfriando os corpos.

Convenhamos que não há ambiente maior para qualquer coisa se esfriar que o espaço.

Mas pensemos na maior erupção possível a sair do Sol, e imaginemos como ela atingiria nosso planeta, antes mesmo de sabermos, na verdade, de que tamanho elas podem ser.

Nosso planeta se encontra a quase 150 milhões de quilômetros médios do Sol. Nosso planeta está sempre em movimento a quase 30 quilômetros por segundo orbitando o Sol. Mesmo para um "canhão" de calibre do Sol, somos um alvo de 12 mil quilômetros de diâmetro, o que por outras proporções poderia tratado como o equivalente a acertar com um canhão de 155 mm (usual entre forças armadas do mundo) uma pulga a 15 metros.

Se você pensa que a proesa acima é fácil, seria conveniente lembrar que a pulga em questão está num deslocamento tal que percorreria o diâmetro do projétil em 12 segundos.

Claro, que nesta escala, com esta velocidade, a priori, a proesa seria fácil. Mas infelizmente para os mais pessimistas e simpatizantes das pulgas o Sol não é um canhão que mira, e nem miraria no plano onde a Terra orbita, e sim é um atirador desnorteado e cego que atira para todos os lados.


A pulga já passa a ter, mesmo com sua velocidade proporcionalmente baixa, muito mais chances.

Mas acontece que as erupções solares não são um jorro de gás do diâmetro do Sol, e sim, um espirro, fração de seu diâmetro, de onde a pulga cruzaria o diâmetro em menos tempo.

Some-se a isto que as erupções solares não são um projétil sólido, e sim um jorro de gás, de onde a analogia com uma arma de fogo é completamente inadequada.

Qualquer um que tenha andado de balão ou simplesmente tenha lidado com uma tocha ou maçarico sabe que uma boca de chama de 15 cm acesa a 15 metros não provoca queimadura ou propaga chama seja no que for. Mas chamas não estão no vácuo, e portanto são "colimadas", seguem um caminho mais restrito, pela pressão da atmosfera onde se dão. Já as erupções solares enfrentam um "cone" de dissipação no espaço que para chegar até nós, teria um eixo de comprimento de 150 milhões de quilômetros e seria percorrido, mesmo que a velocidade da luz, em oito segundos, de onde o plasma perderia muito de sua energia já por radiação, mas notemos que ele não viaja nesta velocidade e portanto, seria o mesmo que uma chama, por mais quente que o seja, viajando pelo espaço por minutos, horas, antes de atingir um anteparo.

Mais e mais a pulga tem sorte.

Mas analisemos um vizinho da pulga, Vênus, que pode ser comparado ao Sol, assim como fizemos com a Terra, com uma outra pulga, mas agora a um pouco mais de 10 metros do mesmo canhão (ou tocha).

Se as erupções solares fossem significativas como danosas às atmosferas dos planetas como jorro de gases que as volatizariam e varreriam, Vênus, nos seus mais de 4 bilhões de anos, não seria o que é, com sua atmosfera pesada e fraco campo magnético (em relação a Terra). Lá, os fenômenos são de efeito estufa (recomendo ver minha blogagem "Prevenindo um futuro aquecimento global") e dissociação de determinadas substâncias pelas radiações ionizantes do Sol. Já que ele não é Mercúrio, completamente varrido de seus gases e torrado até a 427°C, embora tenha no outro lado temperaturas de -182°C - o que por si só nos dará outro argumento - sabemos igualmente que a Terra, mais distante, nestes anos todos e pela existência contínua da vida na Terra e pelos seus verdadeiros motivos de extinções em massa, também não o foi e nem será, dentro do atual comportamento do Sol.

Como já antecipei nas linhas acima, é evidente que o Sol não é um maçarico, ainda que proporcionalmente, para o caso das pulgas em movimento em questão, muito menos perigoso até o momento.

O Sol produz erupções que se dissipam e chegam aqui tremendamente diluídas e consideravelmente frias, isto já vimos. Mas lembremos que a pulga não é uma pulga trivial, e possui um "campo de força", o que foi, ainda que num filme catástrofe eu diria infantil, tratado em O Núcleo - Missão ao Centro da Terra (The Core, 2003) - tema para outra blogagem. E notemos com destaque que o campo magnético terrestre é protegido da ação de qualquer coisa vinda do Sol pelo nosso raio planetário, da ordem de 6 mil quilômetros de material denso. E vento solar nada mais é que a constante emissão de partículas pelo Sol, não suas erupções. Aliás, nossas sondas e até astronautas o enfrentaram e enfrentam, abrigados em blindagens não muito mais espessas que latas de refrigerante.


Mas que tipo de radiação do Sol podemos enfrentar, e em que quantidade?

O Sol produz radiação infravermelha e microondas, que em nada relacionam-se nem com nosso campo magnético nem com nossa atmosfera como proteção, e apenas nos aquece ao nível que temos, com o esfriamento pelo espaço que temos, com o efeito estufa que temos.

Logo, o Sol não nos torra, não nos incendeia, apenas nos aquece amenamente, e talvez, por nossos erros, transformemos conforto em desconforto.

O Sol produz radiação ultravioleta, que é diminuída em sua incidência na superfície pelo ozônio e pelas partículas em suspenção na atmosfera, e é barrada mesmo pela nossa pele, não atingindo nossos músculos, por exemplo. Mas o ozônio também é PRODUZIDO pela radiação solar, de onde a única maneira de o ozônio ter sua taxa diminuída, fora nossa ação e a de, talvez ,vulcões , seria o próprio Sol parar de produzí-la. Lembremos que ultravioleta produz câncer, cegueira, mas não gera calor.

O Sol, felizmente, é um péssimo produtor de radiação gama, exatamente porque apenas opera na cadeia próton-próton. Mas mesmo esta radiação, em determinada taxa e nível de energia, não consegue penetrar determinadas espessuras de materiais, razão porque podemos usar com bastante segurança reatores nucleares apenas com o isolamento de paredes de metal e concreto.

Não preciso dizer, acredito, que qualquer colina do interior paulista tem muito mais espessura que qualquer parede de qualquer instalação nuclear do mundo.

Assim sendo, mesmo um jorro de radiação anômala colimada, "coerente", como um laser, diretamente acertando a Terra, faria apenas uma ação menor que a que temos ao longo de anos em termos de radiações, e apenas durante alguns segundos. Ainda que ficasse nos "mirando", não esqueçamos que a Terra gira em sua superfície a 40 mil quilômetros a cada 24 horas, o que dá uma passagem por um jorro radioativo a velocidade de 1600 quilômetros por hora, e quem estivesse "no por do Sol", ficaria ao abrigo de qualquer radiação deste jorro pelas próximas 12 horas, grosseiramente falando. Quem estivesse sob a radiação, dela sairia a esta velocidade.

Logo, as bactérias que estão nas costas da pulga talvez não sejam das mais bem comportadas esolidárias, mas tem muito mais sorte que imaginamos em nossas paranóias de catástrofes.

Claro que nossa sorte não será eterna, e aqui meus presságios, pois quando o Sol sair da cadeia próton-próton, vai entrar na "combustão" de hélio, e aí já teremos ter nos mudado, como espertas bactérias, para outra pulga.

Mas tenhamos certeza: também não haverão almas caridosas que nos levem para outra pulga nem levem nossa pulga para outro cachorro que nos aqueça.


Acréscimos

Vídeo com animação que mostra no filme, completamente fora de escala, uma 'ejeção de massa coronal' destruindo a Terra:

Solar flare destroys earth

Artigos Wiki

Ejeção de massa coronal

Em português

Em inglês

domingo, 12 de abril de 2009

Humanidade Como Força Geológica IV

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Pesca

Peixes, as vítimas maiores de nossa presença na Terra

Durante a segunda guerra mundial, com a presença de submarinos e navios de guerra de praticamente todas as nações beligerantes, os mares e oceanos apresentaram uma inusitada situação, a da ausência de grandes barcos pesqueiros. Como resultado, seguindo as previsões de Darwin, que são válidas desde bactérias até baleias e elefantes, a população de peixes das mais variadas espécies explodiu.

É de se observar, que ao contrário de espécies ou que exploramos, como as vacas e o trigo, ou das espécies que convivem conosco, como os pardais e os pombos, ou das que gostamos pela companhia, como os gatos e os cães, os peixes são produzidos para alimento em quantidade pequena em relação ao pescado, e são, de certa maneira, extraídos em escala quase de mineração das massas de água doce e salgada do planeta.



Claro que pode-se afirmar que hoje cultivamos espécies marinhas e de água doce, desde salmões, tilápias até ostras, inclusive em quantidades de indivíduos que são maiores que as que tais espécies apresentaram na natureza antes de nossa ação. Mas não devemos esquecer que o grande volume de espécies que pescamos e removemos, para qualquer fim, das águas é imensamente maior que o número de espécies que cultivamos.

Atunídeos, um dos grupos de peixes mais ameaçados pela pesca.

Assim, em contraste com a explosão populacional verificada durante a Segunda Grande Guerra, é capaz que (e tal parece já acontecer) determinadas espécies venham a sofrer colapsos populacionais (aqui, a genética muitas vezes é a senhora de todos os fenômenos) ou que mesmo para espécies que não pescamos, venham a cusar impactos altamente destrutivos em outras que dels dependam. Igualmente, a pesca de determinadas espécies, principalmente de água doce, produzem a proliferação de espécies que são ou nocivas ou sejam vetores de espécies que nos são nocivas.

Especialmente problemática é a questão dos efluentes urbanos e industriais para as massas de água, tanto rios e lagos quanto das costeiras de nossos mares e oceanos, inclusive para a atividade pesqueira, mas aqui pularei este problema.




Tenho de destacar, que mesmo para uma possível de ser chamada de "pesca esportiva", nossa escala é tal hoje que ameaçamos inclusive espécies de grande porte de peixes, de onde imagens como as relatadas em O Velho e O Mar, de Ernest Hemingway, levado as telas com Spencer Tracy no papel principal, e solitário, em The Old Man and the Sea (1958) ou mesmo o tubarão branco (de tamanho bem razoável) de Tubarão (Jaws, 1975), de Steven Spielberg, passem a apenas existir como representados na literatura e nestas películas.


Pela agricultura e seus correlatos desenvolvimentos de genética, fertilizantes e defensivos, realizamos um, até podemos dizer, milagre da multiplicação dos pães, mas garanto que o correspondente dos peixes não realizaremos.

Assim, a escala de nossa atividade extrativa (e de nossa própria escala de população, pois ao que parece, os homens gostam de comer peixes e outros frutos das águas) de espécies de massas de água pode vir a ser o fim desta própria atividade, ainda que não represente, como triste metáfora evolutiva, o fim exatamente de onde iniciamos nossa caminhada sobre este planeta.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Humanidade Como Força Geológica III

A escala das nossas cidades

Ou como as florestas se tornarão obrigatoriamente parques.

Roma, quando do Império Romano, ao seu tempo, esteve entre as maiores cidades da Terra. Babilônia é citada a exaustão na Bíblia.

Para economizar outra progressão, digamos imediatamente que encontrariam hoje rivais em bairros de São Paulo, e não na própria São Paulo.


Mas não é mais São Paulo ou a Grande São Paulo que seja nossa Roma. Nossa Babilônia seria a, quando o termo é mais técnico e menos apavorante, "região metropolitana estendida" São Paulo-Campinas, ou, já que meu objetivo é causar mais que pensamentos sobre o tema, terror, a megalópole que mancha de cinza, mesmo vista do espaço, toda uma significativa fração do sudeste brasileiro.

Mas o problema não é terrível para os brasileiros. Os EUA tem sua "BosWash", de Boston a Washington, com seus 50 milhões de habitantes, a China tem a sua na região do delta do rio Pérola (com a formal sigla PRD), o Japão em Tokio e até os europeus tem a sua, com o divertido nome de Banana Azul (e notemos que neste caso a "cidade" rompe países).

Desde que o geógrafo Jean Gottmann plantou seus estudos sobre tais aglomerações, em momento algum de nossa história recente o processo de trasformação de cidades em grandes cidades e posteriormente em monstruosidades de 50 milhões de habitantes reduziu seu rítmo. Como disse Al Gore, e já o citei nesta série, "temos problemas".

Da mesma maneira que para uma cidade é necessário - como o foi para Londres, Paris ou Roma, milenares e berços de nosso desenvolvimento no ocidente - ter parques que a refresquem, oxigenem e propiciem espaços para lazer, faz-se necessário que as megalópolis, sendo fusões de grandes cidades, o tenham, digamos, numa mesma proporção que a mais moderna Nova York.

Façamo-nos de tontos agora e esqueçamos que qualquer grande cidade precisa de zonas circundantes para a horticultura.

Façamo-nos de mais tontos e também esqueçamos que qualquer cidade precise de áreas para a captação de água, atividades de distribuição e logística, transportes e indústria.

Façamo-nos de completos imbecis e não percebamos que uma cidade que cresce empurra para "fora" de si as áreas de produção agropecuária de suas necessidades, e esta área necessária e crescente tem de ocupar outra, que certamente, no longo prazo, seja muito mais necessária que alimentar ou ser cômoda e útil para a área que aqui tratamos como "cinza".

Ainda sim tem-se de manter uma proporção de "verde" para "cinza", da qual não se pode fugir.

Mas ao chegar a determinada escala, as cidades não só mais são uma colcha cinza com manchas verdes, mas impõe entre estas manchas verdes, em especial para as espécies animais, uma determinada distribuição e escala das manchas verdes que não converta para um isolamento genético que mais cedo ou mais tarde eliminará as faunas de cada mancha.

Citando a analogia que fiz da humanidade como formigas vorazes, nossas fronteiras de cidades e respectivas áreas de produção de alimentos e produção industrial com áreas verdes e outros ambientes "selvagens", são as trincheiras onde travamos nossas batalhas com as outras espécies que não nos interessam imediatamente.

Mas nem preciso me preocupar com tal problema (dentre tantos), pois os ecologistas já o fazem em sua luta pela manutenção de ambientes e espécies, e com muito mais qualidade e argumentos do que eu faria. Devo me concentrar noutro ponto, muito mais adequado ao foco que estou dando nesta série de textos.

Chegará a um momento, na taxa de crescimento das cidades que hoje apresentamos, que mesmo com uma distribuição harmoniosa de verdes e cinzas, mesmo dentro de confiável biologia, não teremos mais uma mancha no meio de um sudeste, como é o caso de São Paulo-Campinas (como esta megalópole pudesse ser limitada a só este eixo), e sim, os verdes primordiais sobreviventes é que pintarão uma imensa colcha de combinação de gosto discutível.

Mas nosso problema neste ponto é que não é uma questão de gosto sobre cores e suas combinações, e sim, de aritmética simples.

Certa vez ouvi em um filme a brilhante frase: -Terra é o melhor investimento porque é uma mercadoria que não se produz mais.

Sendo o saldo de terras utilizáveis finito, ao se debitar o mínimo que seja, este saldo diminui.

Tão simples e direto quanto isto.

Só as soluções para os problemas das megalópoles (independentemente de seu crescimento, "pois todo sistema quando não submetido à ação tende ao caos", lembrando meu professor Carlos David, citando um antigo chefe seu) demandam constante e até crescente geração de energia, de onde voltaríamos ao ponto tratado no texto anterior.

Assim, inexoravelmente, mantendo-se o ritmo de crescimento das cidades/população humana, chegaremos a um momento - e este momento, segundo estimativas, por exemplo da WWF, já passou e já estamos 30% acima do que o planeta pode fornecer (e mesmo se estes senhores e outros estejam errados, por este número assim passaremos) - em que as cidades poderão crescer, como amebas que parecem do espaço, mas não terão o que comer.

E como camundongos e coelhos quando colocados em espaços limitados, comem suas crias...

Talvez...

Humanidade Como Força Geológica II

A escala da produção de energia

Ou como vamos (ou não) chegar "ao rubro".

Observemos que ao longo da história da civilização, e tomemos apenas o, digamos, período cristão, passamos do século I ao século XVII usando apenas: nossos corpos, os corpos de animais, queima de, principalmente, lenha, e raras rodas d'água.

Com o advento da era industrial, e obviamente do seu motor, com o perdao do trocadilho infeliz, a máquina a vapor, passamos os séculos XVIII e XIX usando crescentemente máquinas a vapor nas mais variadas escalas. Aqui, podemos retornar brevemente a questão da mineração, pois da crescente necessidade de combustível para tais máquinas, nasceu a mineração de carvão, mas nem nos preocupemos com tal ponto, pois como veremos, nosso problema é muito maior que o consumo de um combustível fóssil qualquer e seus efeitos no ambiente.



Com a advento da, chamemos, era do petróleo, adicionamos um outro combustível fóssil a, chamemos assim, nossa planilha somatória de problemas. Notemos que o petróleo em si não foi o suficiente, e adicionamos a este o gás natural e já avançamos sobre as areias betuminosas, como se evidencia na relação de produção de óleo entre o Canadá e os EUA, e em breve, a não ser que outra rota seja traçada, avançaremos sobre o xisto.

Percebamos que a dificuldade de extração e produção de combustíveis já não é há muito o nosso problema, e sim, sua disponibilidade limitada.

Encerrada a análise dos combustíveis fósseis, percebamos que embora sejam usados para a geração de energia elétrica, e esta por si já caracteriza uma era de fonte/uso de energia em paralelo com a do petróleo, se iniciando um pouco antes desta (com o advento da iluminação pública elétrica e do uso de motores elétricos), também geramos energia por meio de turbinas que em nada relacionam-se com os combustíveis fósseis, como as hidroelétricas e as usinas nucleares, e mesmo neste caso extremamente dispensivo, massivamente (vide a França).

Não contentes em avançar, mesmo com os riscos, contando com as vantagens, sobre tal fonte de enorme capacidade como a nuclear, os países, em especial os ricos, há bastante tempo já esgotaram (ou quase) sua máxima capacidade de gerar energia de origem hídrica, e conjuntamente a isto, avançamos agora sobre a eólica, que somente nos EUA já propicia haver fábricas de geradores de grande porte produzindo três geradores por dia, o que permite instalar uma usina das que vemos no Brasil (em torno de 75 a 100 geradores) a cada mês.

Ameaçamos avançar sobre a geologia de nosso planeta, com a geração geotérmica, como já o fazem por absoluta disponibilidade e conveniência Islândia e Nova Zelândia. Citando estes dois, já pensamos e implementamos, quando não já está implementado, a geração de hidrogênio e seu uso como combustível, o que nos daria a imensa reserva mineral que são os oceanos como fonte de matéria prima numa escala inimaginável mesmo aos magnatas do petróleo da virada do século XIX para o XX, que ao seu tempo e hoje ainda, contruiram os maiores conglomerados industriais da civilização.

Falando em mar, poupar-me-ei de citar as marés e ondas, pois acho que o básico (se é que não é ridículo afirmar isto) já foi apresentado para perceber-se que estamos numa curva crescente exponencial de geração de energia, que mais e mais fomenta o crescimento de outras atividades que já analisei.

Mas como disse e repito, este ainda não é o nosso maior problema.

Em seu livro O Universo numa Casca de Noz, o físico Stephen Hawking apresenta uma questão simples, porém assustadora. Com o crescimento de nossa economia (e esta não relaciona-se diretamente e exatamente com nossa população, observemos), nossa geração de energia, que pela ineficiência que caracteriza todo processo de transformação de energia de algum tipo (como a hidráulica) em mecânica (qualquer máquina acionada por motor elétrico, por exemplo), ocorre uma dissipação de calor. Este calor irá para o ambiente, e o aquecerá (e nada adianta construirmos refrigeradores para o ambiente, pois a sua ineficiência gerará mais calor ainda para o ambiente). Com a progressão que temos no crescimento da geração de energia (e lógico, de seu consumo), ao cargo de 600 anos, pelos números históricos, nosso planeta chegará a temperatura de um metal ao rubro.

Observe-se que isto não tem relação alguma com o que seja o aquecimento global, que relaciona-se teoricamente somente com a presença de gases de efeito estufa na atmosfera e a energia do Sol, que lembrando bem, nem citei como fonte imensa da qual não exploramos uma ínfima parcela.

Mas voltando a temperatura de um metal em brasa, lembremos que não necessitamos de uma temperatura de cauterização para eliminar a possibilidade de vida na Terra (aliás, Vênus já o faz pelo efeito estufa e Mercúrio o sofre pelo Sol). Necessitamos apenas da temperatura de uma sauna.

Então, na atual taxa de crescimento de nossa demanda de energia (e esta mostra-se sinergizadora de mais demanda, e não um freio ao processo), chegaremos ao nível do insuportável em muito menos tempo que o que nos separa das grandes navegações européias.

Somemos um atenuador, para eu não ser acusado de ser um catastrofista (quase histérico). Observemos que nos últimos anos, desenvolvemos um número cada vez maior de "destinos" mais eficientes para nossas fontes de energia, em especial, a elétrica. Lâmpadas que mais iluminam que geram calor, máquinas com motores mais eficientes (esta progressão, na verdade, já chega a um século), processos industriais menos dependentes de calor, etc. Assim, o prazo para nossa temperatura de sauna se estenderia, mas não ilimitadamente, nem mesmo para números muito maiores que aqueles com que Hawking me causou o impacto que causou e motivou este texto, mas sim, o que calcularei agora.

Consideremos que ao invés de para uma economia crescente em 1% ao ano, não tenhamos um crescimento da geração/consumo de energia nem maior nem igual a 1%, e sim, míseros 0,1%. Então partindo da quantidade de calor que produzimos HOJE, e notemos que este número JÁ ESTÁ nos cálculos de Hawking, em 500 anos chegaremos a 64% a mais de geração de calor para o ambiente. Então uma nova era das navegações (distante igualmente no tempo) disporá de um número não assustador de calor perdido para o ambiente. Em mil anos, chegaremos a 170%, então talvez, numa nova Idade Média, não tenhamos invernos longos de origem vulcânica, mas sim, verões desconfortáveis. A um distância no tempo de 2000 anos, talvez voltemos a usar saiotes romanos, pois a dissipação de calor já estará em mais 600 %. A um intervalo de tempo como o da construção da pirâmides, já estaremos a quase 15 mil %, e talvez invejemos a vida do mais sofrido dos trabalhadores egípcios.

Dois pontos, antes de eu dar o "arremate":

-Não precisarei apresentar números de distâncias no tempo como os da adoção da agricultura ou ainda da "eva mitocondrial" para mostrar que tal progressão é insana em seus resultados, e não tardará a chegar ao problema que Hawking aponta.
-Observemos, e aqui fui na verdade desonesto, que para uma progressão da geração de energia de qualquer valor, para a dissipação de calor pela ineficência ser menor que esta, a eficiência tem de ser crescente, e isto gera problemas praticamente insolúveis no tempo, e limitados não pela tecnologia, mas sim, pelas leis da natureza, ou se quiserem, pela Física.

Números simples, contas fáceis, resultados claros.

Mas ao que me parece, não estamos no planeta para passar abrasador calor, e sim para perpetuarmos nossa espécie (aliás, na verdade, é só isso que fazemos, e as vezes, com os piores tropeços possíveis).

Assim sendo, e tal me parece cristalinamente óbvio, não podemos trasformar nosso planeta não na cela da qual por enquanto não podemos sair, e da qual não sairemos por muito tempo, pois isto o planeta que habitamos já é.


Não podemos transformá-lo na fornalha que nos matará.







Apêndice

No artigo "O Coração Turbulento da Terra", Ulisses Capozolli, na SciAm Br de maio de 2011, apresenta o modelo, ou escala, de  Nicolai Kardashev, no qual as civilizações de grupo ou nível I, tal como a nossa, que ainda queima árvores abatidas até para esquentar seus alimentos, dispõe de uma oferta energética de aproximadamente 4x10^19 erg/seg (como 1 erg é 1 × 10−7 joule, este valor corresponderia a uns 4x10^12 watts). Numa taxa de crescimento de 3 a 4% ao ano, atingiríamos em 3200 anos o grupo ou nível II (aproximadamente o mundo ficcional de Satr Trek), explorando toda a capacidade de geração de energia do Sol, numa escala de 4x10^33 erg/seg. Com mais alguns cálculos, poderíamos chegar ao tempo que levaremos para explorar toda a energia de todas as estrelas da galáxia, no grupo ou nível III, ou 4x10^44 ergs/s.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Humanidade Como Força Geológica I

 I_
Preparando o terreno

Neste texto, apresentarei algumas observações sobre a escalada que temos tido, desde uma espécie sobre a Terra, insignificante frente ao todo, ainda que construtora de grandes obras de arte e arquitetura, uma ou outra pequena alteração no ambiente, até os dias de hoje, quando nos colocamos ao lado das maiores forças da natureza, e ao que parece, ainda iremos mais longe, embora tenhamos de mudar alguns de nossos péssimos hábitos.

Algumas notas sobre cinema

Lembrando o filme Patton (no Brasil com o péssimo subtítulo "Rebelde ou Herói?", 1970, IMDB) sempre me vem a mente uma de suas falas, ao personagem principal ver, se não me engano já na Itália, um extenso comboio militar numa estrada: -Nenhuma atividade humana se compara à guerra.

Infelizmente, tenho de concordar com o autor do roteiro, e talvez, se verídica a citação, com Patton.


Uma coluna de tanques do 3o Exército, sob o comando de Patton, entrando em Bayreuth.

Para avançar sobre o que apresentarei, pegando ainda o tema da guerra como atividade humana, colocarei o dado adicional que na Segunda Guerra Mundial, a Operação Overlord, do desembarque das primeiras forças aliadas na França, em 1944, 155 mil homens foram utilizados na maior operação de desembarque anfíbio de todos os tempos, sem nem mesmo falarmos da enorme estrutura e recursos de retaguarda em navios, aviões e recursos logísticos diversos, como combustível, e tal planejamento e peparação, pelo menos demandou os dois anos anteriores, inclusive em armazenamento de recursos materiais, sem falar na preparação dos recursos humanos. Acrescentarei, por fim, que a distância a ser transposta, no desembarque, não ultrapassava, mesmo com os deslocamentos finais em terra, das diversas bases na Inglaterra, 400 quilômetros, que poderiam até ser somados (para nossa argumentação) à travessia do Atlântico pelos recursos vindos dos EUA.


Desenbarque anfíbio no "Dia D".

Claro, que não devemos esquecer o "pequeno" detalhe que tais forças enfrentariam um exército extremamente bem treinado e experiente, fortemente guarnecido em fortalezas e dotado de tecnologia superior em diversos campos (os blindados seriam o melhor exemplo), além de sustentado por uma das maiores potências industriais e econômicas do planeta, dispondo dos recursos de um continente inteiro e ainda um tanto de outro.

Menos de 50 anos depois, a Guerra do Golfo mostrou o cenário de uma hiperpotência (sim, eu gosto e uso este conceito), com orçamento militar superior a soma de todos os demais países do mundo, inigualável em tecnologia militar, dispondo de domínio total do espaço aéreo, retomou um país pequeno, enfrentando uma potência militar cambaleante após anos de guerra com outra, dispondo de um volume de recursos limitado a seu próprio território, sem estrutura industrial significativa a não ser no setor de petróleo, incapaz inclusive de produzir seu próprio alimento, com nada menos de 750 mil homens, total este que inclui também forças, não menos qualificadas, da chamada "coalisão", dispondo, evidentemente, do apoio das mais ricas nações do mundo além dos EUA, e de fontes de recurso que pela própria definição, a exceção do Iraque e algum apoio insignificante deste, seriam oriundos do planeta inteiro.


Duas cenas da Guerra do Golfo, a escala das forças envolvidas e a destruição provocada.


Guerra é uma serie de catástrofes que podem resultar numa vitória. - Georges Clemenceau.

Aqui, citarei o documentário Uma Verdade Inconveniente (2006, IMDB), na qual Al Gore apresenta que quando nasceu, tinhamos passado aproximadamente 10 mil gerações, desde nossa especiação final no que seja o Homo sapiens, para na data de seu nascimento, estarmos caminhinhando na faixa de 2,5 bilhões de habitantes, e ainda em sua vida, caminhamos já para 7 bilhões. Assim, tal como ele afirma em seu trabalho, eu afirmo de maneira similar: -Algo me diz que estamos com um problema!

Lembrando mais uma vez filmes, entre todas as obras até absurdas de ficção dos anos 50, uma das mais peculiares é "A Selva Nua" (The Naked Jungle, 1954, IMDB) do diretor Byron Haskin (o mesmo de Guerra dos Mundos, de 1953) com Charlton Heston, no qual o personagem principal, na floresta amazônica, enfrenta "marabunta", que são formigas em deslocamento ao número de milhões, devorando tudo pelo seu caminho, desde plantas até infelizes trabalhadores em suas canoas.

Vejam como são ingênuos os autores de tais roteiros e diretores e mesmo o despreocupado H.G Wells (o autor do romance original Guerra dos Mundos), que enquanto criava uma séria obra de ficção, embora com a ingenuidade científica de que seriam os invasores de Marte, perfeitamente perdoável, procurando criar uma grande metáfora para o massacre das forças colonialistas européias na África, aos moldes do que foi feito por Joseph Conrad em "O Coração das Trevas", inspirador de "Apocalipse Now" de Francis Ford Coppola (do qual poderia também lembrar que os EUA lançaram mais bombas sobre o Vietnã e Laos do que em toda a Segunda Guerra Mundial, no que voltaríamos à uma argumentação similar à inicial).

Mal perceberam estes autores que as "formigas em marcha" são as próprias pessoas que assistiriam seus filmes, e os piores invasores dos planeta são as que leriam seus livros, e com alguns significativos agravantes: não devoram apenas parte da floresta amazônica, que pode se recuperar (e sempre se recuperou das formigas), não matam apenas pobres infelizes em suas canoas, não podem ser detidas com óleo e rompimentos de represas e nem mesmo estão matando apenas uma civilização tecnologicamente inferior na distante África. Devoram as florestas do planeta inteiro, eliminam milhares de infelizes de sua própria espécie e de qualquer outra, mesmo que nos descuidos de sua marcha até insana, mesmo que ingênua, e já estão aqui, e não talvez por um acaso venham no futuro de um planeta distante.


Uma carcaça de elefante, na África.

Sobre "planeta distante", seria bom, antes do restante da apresentação, deixarmos bem claro de que não seremos mortos nem mesmo por microorganismos deste planeta - os senhores absolutos dele há 3,8 bilhões de anos - com os quais estamos em convívio há os mesmos bilhões de anos, inclusive os consumindo em nossos processos tanto biológicos internos quanto domésticos e industriais e muito menos poderemos fugir para qualquer planeta, tão distante quanto os mais maduros em termos de ficção científica na imensidão da distância assim como no tempo imaginamos, mesmo para que se tornem a mais desagradável das florestas ou mantenham-se como o mais árido deserto, pois volto a repetir: a Terra é o insignificante planetinha em que habitamos e embora agradável, é prisão terrível da qual ainda não podemos escapar, hoje, e pelo menos, ainda por muito, muito tempo.

Tendo isto apresentado, passemos a mostrar, além de descrição da escala dos esforços de guerra, outras atividades relacionadas até diretamente a esta, que nos transformaram em vorazes formigas em marcha, nunca antes imaginadas na ficção. Como li recentemente: "somos muitos":

Sem defender ou justificar nossa competição intraespecífica, o problema está em frear a nós mesmos: o desejo de deixar descendentes, o imperativo reprodutivo.

MILTON MENDONÇA JR; Professor do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências da UFRGS; O filme “Avatar” nos alerta: somos muitos


Uma cena do cotidiano da Índia. Não haveria na Terra população de formigas que a pudesse enfrentar.


A escala do estrativismo mineral

(ou como as montanhas foram removidas e levadas até novos Maomés)

Ao tempo dos egípcios a mineração de cobre, posteriormente o ferro, ao tempo dos romanos o enxofre, era feita por mãos humanas, em afloramentos superficiais extremamente destacados, sem a mínima ação significativa sobre o ambiente, e mesmo se o houve ao tempo das grandes civilizações do passado, atingiam um pequeno rio ou localidade (o Rio Tinto na Espanha ainda está lá, praticamente sem diferenças do seu passado romano, e continua sendo mais uma ação da geologia que uma ação humana). De pás e burros, bois e rodas d'água, passamos a máquinas a vapor, e destas ao diesel e as grandes máquinas elétricas e mistas, e hoje não mais localizamos superficiais jazidas. Nós modificamos a paisagem e até a geografia de regiões inteiras. Torna-se, nesta escala, desnecessário dizer que afetamos gravemente o ambiente. A literatura até popular dos ecologistas é abundante em exemplos, e os jornais são lotados de notícias de problemas oriundos deste processo, onde sacos no lombo de mulas se tornaram pás de centenas de toneladas que enchem caminhões de igual escala e alimentam fábricas que num dia produzem mais QUALQUER COISA que todo o Império Romano ou os Egípcios dispunham num ano inteiro.


O Rio Tinto, com sua característica dissolução de minerais, conhecido desde o tempo dos romanos.

Coloquemos antes de encerrar este ponto, um pequeno cálculo: com mulas que levem 100 kg em cada viagem, seriam necessárias 1 bilhão de viagens para mover o morro que habito em Porto Alegre, que estimo em 100 milhões de toneladas. Com a atual capacidade dos caminhões de mineração, seriam necessárias 200 mil viagens, e como tais caminhões fazem facilmente 10 de suas viagens por dia de trabalho, três caminhões fariam tal deslocamento no mesmo período de tempo em que foi construída a grande pirâmide de Giza.

Não é por outro motivo que já existem minas a céu aberto no mundo não maiores que o morro sobre o qual resido em Porto Alegre, mas sim maiores que a cidade onde este fica.

Explico: certa vez calculei, para um artigo, a massa do Morro da Polícia, de 298 m de altura, com quase o dobro da altura que o morro onde tenho residência, considerando-o um sólido de base de 5 por 5 km, com altura de 0,298 km, o que dá 7,45 km³ (um absurdo, pois ele não é um paralelepípido, o ideal seria considerá-lo uma pirãmide, mandando este valor para 1/3 de 7,45 km³, mas façamos assim, e consideremos então este volume de 7,45 bilhões de metros cúbicos. Com a densidade do granito em 2,6 ton por metro cúbico chegamos a um valor de 19,37 bilhões de toneladas. Nada excepcional para o mundo da atual mineração. Basta dizer que uma mina a céu aberto de 10 km de diâmetro, considerada como um cone, com 500 metros de profundidade, no mesmo material, já teria um volume de aproximadamente 13,8 km³. E temos minas a céu aberto muito maiores que isso.

Bingham Canyon Mine, Salt Lake City, Utah, uma das maiores do mundo, com diâmetro de aproximadamente 20 km.

Mesmo em terras brasileiras a escala da mineração já dá suas mostras, como claramente em Minas Gerais. Lembro-me de reportagem que mostrava paisagem de montanhas dos, digamos, anos 60 e na imagem atual, uma das monatnhas não estava mais lá. Agradeço desde já o fornecimento desta imagem.

Exemplos de destruição da paisagem em Minas gerais. à direita o Pico do Itabira.


Recomendações de leitura:



Minas de Mirni, Rússia, e Diavik, Canadá.


Aqui talvez me torne logo repetitivo, mas: -Algo me diz que estamos com um problema com nossas necessidades e consumo de minérios e matérias primas!


A escala da produção agropecuária

Se considerarmos a maior potência agrícola do passado, da antiguidade, sejamos específicos, que nem discutiria que seria o Egito, até porque sua produção agrícula era de certa maneira "estatizada", veríamos que ocupavam áreas férteis não maiores do que mesmo hoje ocupa o (atual) Egito, e certamente com atual produtividade por área maior. Mas notemos que hoje o Egito é um anão agrícola frente as grandes potências agrícolas do mundo, como os EUA e o Brasil. Mas não consideremos ainda o total de área cultivada, que é obviamente muito maior hoje que em qualquer data do nosso passado.


Uma visão da escala de proidução agrícola dos EUA.

Consideremos os métodos.

Os egípcios, assim como os povos nos 20 séculos posteriores, usavam arados puxados por animais de tração e quanto muito detinham formas primitivas de fertilização do solo, e praticamente nenhuma forma de defender suas plantações de ínúmeras pragas, quanto muito de irrigá-las, o que, inclusive nisto, crescemos em escala ao ponto de secarmos rios e lagos inteiros.



Interessantes leituras:

WASHIGTON CARLOS DE ALMEIDA; A AGUA NA AGRICULTURA - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DA ÁGUA NA AGRICULTURA. - www.abda.com.br

 "...as águas são muitas, infindas". - Pero Vaz de Caminha, Carta ao Rei de Portugal






Fragmentos de Leitura - diversos autores; Nordeste sertanejo: a região semi-árida mais povoada do mundo; Estudos Avançados; Estud. av. vol.13 no.36 São Paulo May/Aug. 1999; doi: 10.1590/S0103-40141999000200003


O "Mar" de Aral, uma das muitas tragédias de uso abusivo do recurso água, julgado ilimitado.

O mal uso da água – o Mar de Aral - www.planetaorganico.com.br


Hoje, temos uma escala de produção não muito menor em porte de máquinas do que a mineração, turbinada pela fertilização na escala da mineração, escalas de deslocamento de grãos e outros frutos da terra que estão entre as maiores atividade humanas e despejamos toneladas de qualquer tipo de defensivo ao primeiro sinal de pragas, independentemente de questões tecnológicas e até ambientais já resolvidas nos últimos anos, e as espécies que exploramos entre os vegetais e os animais estão entre as mais prolíficas do planeta, chegando a encurralar em pequenos nichos as então outras abundantes que não contam com o nosso apoio, a não ser em casos de que a protejamos.

Assim, temos outro problema com o que comemos, e exatamente porque assim comemos, estamos hoje neste nível de população que nos é um problema.



Na publicação original:
Por hora, tentando romper com meu perfeccionismo tolo e infantil (e que diminui demasiadamente meu número de publicações), ficarei por aqui, e prometo em breve o tratamento destes outros dois pontos:


A escala da produção de energia

Ou como vamos (ou não) chegar "ao rubro".

A escala das nossas cidades

Ou como as florestas se tornarão obrigatoriamente parques.