terça-feira, 28 de julho de 2009

Doa a quem doer, evolução é fato

,e matematicamente óbvio - I

Uma jornada pelas inúmeras falácias habituais dos criacionistas




Já há anos escrevi que criacionistas são meu hobby, minhas palavras cruzadas, meus "puzzles". Criacionistas tratam de maneira tão absurda e distorcida de tantos assuntos que refutá-los passa a ser um passeio, até podemos dizer uma jornada - quando não uma expedição, dada a selvageria de alguns - por inúmeros campos técnicos-científicos, e nisto, relembrá-los.

No "over kill" abaixo, passarei por inúmeros destes campos, procurando mostrar que os modelos físico-químicos-matemáticos dos criacionistas passam por uma graduação de argumentos pífios, ou por conceitos obscuros, premissas falsas, raciocínios errôneos, quando pelo menos relativamente bem contruidos, ou simplesmente ridículos, quando não apresentam conexão mínima com o que seja a realidade, mesmo em observações que uma simples criança faça com coisas domésticas.

Em contrapartida, procurarei, quando necessário ou adequado, mostrar os modelos físico-químico-matemáticos coerentes com os fatos, especialmente os combinatórios, que tratem da questão abordada.

O eterno retorno da Falácia de Hoyle




Recentemente, encontrei pitoresco blog de um evangélico na internet, com o mais que divertido argumento de que evolução é matematicamente impossível, o que na verdade, é sempre uma modificação seja como for da Falácia de Hoyle, que já tratei em um Knol.

Invariavelmente, criacionistas que enveredam por esta argumentação sempre citam números peculiares, sabe-se lá de que original fonte, como o de que as células, menores unidades vivas, tem 100 mil moléculas.

1) Como se qualquer colher de chá de sal não tivesse milhões, mas o que interessa não é o número de moléculas, e sim como estas se coordenam, e nisto está o mesmo motivo pelos quais minhas células da pele são bastante mais complexas que uma bactéria de minha "bebida láctea com lactobacilos vivos", mas nem por isso, exatamente em relação ao processo evolutivo, minhas células não são nem um pouco significativamente mais complexas que as células de uma minhoca, o que guarda intimidade com meu Knol sobre modelos matemáticos em evolução.

Isto se dá porque somos o rearranjo de células de um verme, apenas com "algumas" funções acrescentadas, e não mais que isso (a mudança para um cordado, um peixe, um anfíbio, um amniota, um mamífero primitivo em coisa alguma vai mudar esta afirmação, apenas, mudar a sua graduação).

Igualmente misteriosa, como se não estivesse já no argumento acima, é a afirmação de que nesta mesma célula, 10 mil reações químicas estejam ocorrendo nesta célula.

2)O que em si, também pouco interessa, pois exatamente como percebemos na complexidade em tamanho, estrutura e diversidade de moléculas, uma célula de meu corpo não é mais diversa em reações químicas significativamente que uma célula de uma minhoca, novamente, e portanto, ainda mais se tomarmos um animal muito mais complexo, outro, igualmente complexo - um primata qualquer - perfeitamente pode ser a variação deste. Logo, evolução por esta argumentação não pode ser derrubada como fato.

Curiosamente, e eu me atreveria a chamar, lembrando famosa "tirinha" humorística sobre o tema, de "falácia da surdez", os criacionistas não entendem que comprovar o surgimento miraculoso das células, mesmo de qualquer "filo", pouco importa, pois ainda sim, não se comprovaria que tais células ou menos ainda tais "filos" não pudessem evoluir. Aliás, em caminho contrário, para derrubar completamente e de vez o simples e óbvio raciocínio que está no núcleo da evolução, desde suas afirmações basais por Darwin, sem ao menos se citar filósofos que a pensaram e outros cientistas, é que bastaria comprovar o surgimento miraculoso de um organismo complexo, mesmo que fosse o, pasmemos, muito mais complexo que as primeiras formas de vida que afirmamos em biopoeise (do grego bio, vida, e poiéo, produzir, fazer, criar).

Estas formas de vida, sim, foram muito mais simples que ao leigo, como a imensa maioria dos criacionistas, e na generalidade em biologia específica sobre o tema, os lactobacilos de minha bebida.

Estas formas iniciais de vida seriam tão simples ao ponto de não poderem ser tratadas propriamente como uma célula no que hoje é este conceito, pois seriam estruturas inclusive difusas com o meio, muito mais um sistema de reações integradas, numa região de ambiente favorável, ou como teria a coragem de definir o conceito em termos, "região ou volume difuso de reações", o que Sagan trata de maneira brilhante em seu Cosmos, mostrando uma formação de moléculas surfactantes ou tensoativas (aquelas que contém um lado polar - hidrófilo, compatível com dissoluções aquosas - e outro apolar - hidrófobo ou lipófilo, aos moldes bioquímicos, compatível com substâncias apolares como os lipídios), isolando uma região, um volume onde se manifestariam as primeiras reações químicas da vida, mesmo que transitoriamente e com inconstante capacidade de auto-replicação.

Antes de avançarmos para outro ponto, um conjunto de observações sobre a falácia de Hoyle e determinadas questões sobre a combinatória de genes.

Mas a razão principal pela qual a falácia de Hoyle é pífia para se tentar, mesmo adaptada, derrubar a evolução dos seres vivos como fato é exatamente o motivo pela combinatória que a genética de uma bactéria, por mais simples que o seja, por novas combinações* chegará a se tornar a combinação que formará, coordenará, a formação de qualquer outro ser vivo, pois estes, ao nível genético, são apenas variações de combinatórias dos genes, que coordenam todas as suas funções e estruturas.

*E inclusive configurações destas combinações, porque a estrutura na qual o DNA não necessita, e não é, uma linearidade indivisível, e pode se apresentar em linearidades "em paralelo", aquilo que chamamos cromossomos.

A questão é que a combinação "do próximo passo" não é nem segue o/um planejamento para se chegar a este próximo passo, e sim, simplesmente é o próximo passo, e inclusive, não necessita de forma alguma ser um acréscmo de complexidade no organismo (o que já é um forte argumento contra o D.I., pois se era para depois simplificar, por quê antes tornou complexo?), nem mesmo o aumento da complexidade da própria carga genética, nem muito menos ser contínua no aumento ou redução desta combinatória em linearidade, e sim ser a divisão desta linearidade ou a fusão de linearidades em outras estruturas.

Em outros termos, para se fixar bem esta conceituação fundamental, evolução não é a combinatória para se obter a genética de uma forma de vida, mas a variação da genética da vida ao longo de gerações que resultou em variações da vida.

Então, retomando uma linha de raciocínio sobre este tema, não podemos jamais afirmar que houve a adequada e perfeita série de combinações para transformar uma bactéria numa figueira, por exemplo, mas sim que houve a série de combinações que levou uma bactéria a se modificar e chegar também numa figueira. Exatamente esta é a apreciação posterior sobre o processo evolutivo, porque teleologia (planejamento) alguma se evidencia na natureza. Portanto, se não se evidencia, afirmar que esta exista é apenas um ato de fé, é crer-se que tal planejamento transcendente à natureza exista, seja qual for o ente ou processo que o cause.

Aqui, para entender determinadas questões teológicas (com respeito à fé) de propor uma divindade atuante, recomendo ler Collins, um evolucionista teísta em meu artigo sobre a demonstração que o design inteligente é um criacionismo.

Comparações indevidas






Sobre estes já dois tiros na água (quando não em seus pés), os criacionistas sempre acrescentam frases de efeito, como que a carga genética tenha "a capacidade de armazenamento de informações de 30 volumes de uma enciclopédia".

Analisemos mais demoradamente esta afirmação.

Pegarei uma enciclopédia robusta, como a minha Delta Larousse dos anos 60. Possui 15 volumes, num total de 8318 páginas, com duas colunas de aproximadamente 67 linhas de 46 caracteres. Isto totaliza 16636 colunas, logo 1.114.612 linhas, logo 51.272.152 caracteres. Levarei o número a 100 milhões, pois sou caridoso com argumentações matemáticas criacionistas.

Nestas páginas está um armazenamento de dados "linguísticos" expressando um volume significativo de informações. Pode ser comparada com os 5 milhões de bases de uma carga genética de uma bactéria como a Escherichia coli?



Sim, pode, mas de maneira extremamente limitada. Genes não expressam palavras, nem o nome de um rei persa, tampouco um nome de uma cidade, muito menos uma equação matemática, e embora coordenem uma reação química, não a podem representar com nossos símbolos químicos. Genes coordenam atividades bioquímicas, e tão somente isso, e não são arranjados para fazer isso dentro de liberdades estilísticas/linguísticas/fonéticas que possuímos, como ao que em palavras de origem russa tenha sons que combinação alguma em português sejam usuais, por exemplo. Somente podem o fazer dentro de combinações simples e específicas, pois A só se combina com T (adenina com timina), e C com G (citosina com guanina).

Outra questão é que cargas genéticas não podem, a partir de seus códigos simples em variações a cada "caracter", produzir a partir de um conjunto enorme de letras, ironicamente, como uma sopa de letras, as obras completas de Proust, e sim, apenas "uma nova edição da Delta Larousse" (e talvez, com diversos erros). Aqui, o modelo comparativo mostra-se mais inadequado, pois seres vivos e suas moléculas e genética não são arranjos, mesmo que "inteligentes" (ordenados coerentemente para uma finalidade), são sistemas bastante limitados em liberdades de reações químicas.

É de se destacar este fato, pois mesmo nas evidentes mutações que possuímos quando nos nasce um sinal no rosto, ou quando um gato nasce com um "dedo" a mais, se fossem muito mais que isso, não permitiriam nossa vida ou a de um gato mais que alguns minutos fora do ventre de nossas mães, e tal é bastante evidente.



Mas somemos o argumento de que as primeiras formas de vida eram muitíssimo mais simples (inclusive, especialmente, geneticamente) que as altamente especializadas Escherichia coli, com o que, como vimos, genéticas não são enciclopédias ou obras literárias e lembremos da "falácia da surdez": ainda que esta primeira forma de vida nem tão simples tivesse surgido por milagre, ou ainda que qualquer um dos filos da natureza o tivesse igualmente se formado em meio a um ainda deserto que seja a atual savana africana, ainda sim um elefante ou uma acácia seria um milagre de ocorrência muito mais complexo e raro em se realizar, mesmo no arranjo de células por milagre criadas, e tampouco anularia o banal e evidente fato que tais seres vivos, assim surgidos miraculosamente, modificassem-se no tempo, logo, evolução continua sendo fato.

Números misteriosos ou incompreendidos



Aqui, pararei de sovar como de costume a verborréia criacionista e tratarei de desmentir uma outra tolice que tem sido espalhada vergonhosamente por defensores do Design Inteligente, que aceita e inclusive implica em processo evolutivo, por místicos de toda a ordem e inclusive por evolucionistas teístas um tanto confusos, ao ponto que na verdade, são defensores ainda que por ingenuidade do Design Inteligente.

Sagan, Dawkins ou qualquer outro autor sério em divulgação ou pesquisa ou ensino de evolução em Biologia NUNCA afirmou que "a possibilidade do homem ter evoluído é de uma em 100 quadrilhões" ou, como gosto de dizer, joça de número grande similar. O que qualquer autor são e informado afirma é que a possibilidade de o processo evolutivo seguir pelo caminho que seguiu, entre todos os outros possíveis, é exatamente, por exemplo para o humano, enormemente pequena, mas infelizmente, ou felizmente, assim se deu.

O ser humano, assim como um simpático e destacado elefante, não é o planejamento para se chegar a este que lhe escreve ou um elefante que tanto destaco em meus textos (pois elefantes são, como qualquer mortal percebe, visualmente destacados). O ser humano é o fluir de bifurcações de um cladograma, a ramificação de uma árvore da vida, que chegou no elefante ou neste que lhe escreve, assim com chegou numa minhoca ou numa acácia, numa Escherichia coli ou num lactobacilo. Esta probabilidade não é a que a partir de um amontoado de genéticas, tenha se chegado miraculosoamente em nós que somos/seríamos seu objetivo, assim como é/seria o objetivo o lactobacilo que eu devoro. Esta probabilidade é sim, de entre todos os caminhos possíveis e inúmeras combinações que poderiam variar de maneira praticamente infinita, quem escreve este texto não tenha tromba, pese 5 toneladas e goste de beber Escherichia coli sabe-se lá em que bebida feita do que, talvez acácias que se alimentem de minhocas (cuidado criacionistas, pois há plantas que se alimentam de insetos).






Neste momento, gosto de uma argumento oriundo da ficção científica. Esta probabilidade extremamente pequenas de mesma configuração da árvore da vida, é o que fazem contextos de ficção científica como Star Trek, com suas formas humanóides apenas divergindo na maquiagem serem infantis, e clássicos como Planeta Proibido, com suas portas em forma de diamantes serem coerentes, assim como as exóticas formas de vida levadas ao realismo em movimento de Star Wars, mesmo num universo adolescente, serem maduras cientificamente, ou uma única frase, como a ouvida em O Dia em Que a Terra Parou, em sua segunda versão - "Assumi a forma humana para que não lhe causasse repulsa." - sejam pronunciadas fazendo-nos pensar, e não causar risos.

Seria bom criacionistas e outros entenderem que esta pequeníssima probabilidade de sermos assim, não implicaria em não haver elefantes (ou algo parecido) inteligentes, que bebessem saborosas bebidas sabe-se lá do que feitas, e inclusive, entendessem que probabilidades baixas de uma determinada configuração resultante de um processo não implica em um processo não poder resultar em qualquer outra configuração.

Lei de Borel, a inexistente





Invariavelmente, criacionistas apelam para algumas falácias, quando não podemos dizer completas mentiras, quando também não absolutas tolices. Entre as primeiras, encontram-se a Falácia de Hoyle e suas variações, nos moldes do visto acima, entre as segundas, a assim chamada e jamais encontrada na literatura "Lei de Borel" e seus 10^50 (curiosamente, a imensa maioria dos criacionistas de quem até hoje li tal coisa jamais acertam como fazer uma notação de potência, mas isto é outra misteriosa questão). Tanto a Falácia de Hoyle no seu estado mais puro, como linkado acima, quanto a tal "Lei de Borel" eu tratei até a exaustão em dois Knols.

Espero em breve fazer uma associação desta questão da "Lei de Borel" criacionista com o lado sério da coisa, que é a lei dos grandes números e as distribuições e sua aplicação no entendimento evolutivo, como a distribuição de Poisson e a muito mais poderosa para tratar questões na variável tempo que é a distribuição de Weibull.

Em tempo, uma lida rápida na Wikipédia em inglês sobre a distribuição de Poisson, que é a mais trivial no tratamento de probabilidades mais complexas e "contínuas" do que os banais dados ou jogos de loteria, já dá uma mostra do nível de complexidade matemática que esta área do conhecimento humano já apresenta. Idem (e ainda mais) para a de Weibull. Logo, não serão criacionistas com suas afirmações nebulosas que vão derrubar o processo evolutivo por um raciocínio matemático completamente equivocado, ainda mais sobre simplesmente mentiras, pois sejamos claros, se o fosse assim fácil, os matemáticos do mundo já o teriam feito banalmente.
O mesmo mostraremos adiante em física e os físicos, na questão da termodinâmica como um possível empecilho para o processo evolutivo.

Muitas vezes me assombra o desespero (e talvez com sorte apenas ignorância) dos criacionistas em apelar para argumentos infelizes como "a chance de, por acaso, pegar um átomo específico em todo o universo seria de apenas 1 sobre 1 seguido de 80 zeros" ou ainda probabilidades de denominadores maiores que estas , quando, bastando entender um nível mínimo de químico de primário, sabe-se que os átomos de um elemento, aqui ou em Plutão, e até nas mais distantes estrelas e seus planetas são, mesmo com as variantes dos isótopos, exatamente iguais para fins químicos que os que tenho numa garrafa de água mineral que agora bebo.

Fantástico também é chegarem, além da absoluta desonestidade/estupidez do argumento acima, a desprezarem o belo e gritante fato da natureza que o vento que sopra em Campinas ou Hortolândia, ou Shangai ou Teerã, trazendo uma molécula (na verdade, miríades) sabe-se lá de onde, é a mesma que absorvida pela cevada na sua fotossíntese, produzindo amido, ou da cana em sua sacarose, contém o mesmo átomo que passará a ser composição de minha musculatura amanhã, por meio de minha cerveja no sábado ou de meu café na tarde de segunda. E esta argumentação simples e direta poderia ser estendida ao infinito, em números gigantescamente maiores em caminhos possíveis que o mais obsessivo dos criacionistas em escrever números aparentemente grandes baseados na verdade em bobagens.

Em outras palavras, nunca a biologia ou a química nos tratou como o arranjo de átomos individuais específicos, mas como átomos de elementos específicos.

Mas sejamos honestos (ao contrário deles): para chegar-se a esta capacidade de especificamente produzir a cevada amido, a cana açúcar, as leveduras a maravilhosa cerveja, o café sua poderosa e necessária a mim cafeína, e estes serem absorvidos nevralgicamente pelo meu corpo, serem divertidos ao meu cérebro e motivantes a minha produção intelectual, bilhões de anos de aperfeiçoamento pela mortes mais terríveis foram necessários.

Mas antes, muito antes disso, alguns milhões, na verdade centenas de milhões, de anos de geologismos, meteorologismos e até, usando um termo adorado pelos criacionistas, "catastrofismos" foram necessários, em que por meio, como já conhecemos, de milhões e milhões de raios de gigawatts de potência elétrica caíram em atmosfera tão infeliz à vida quanto é a de Vênus, espessa e pouco transparente quanto essa, protegendo as moléculas em síntese da radiação do Sol, sempre a decompor moléculas complexas (e atentem, também a modificá-las em sínteses até mais proveitosas e complexas, pois mesmo a radiação ultravioleta é ionizante, e havendo cargas em moléculas ou pedaços de moléculas ou átomos isolados, novas reações não tardam a ocorrer) até que se produziram polimerizações, e destas, catalisadores (fora o papel de catálise de inúmeros minerais) que propiciaram polimerizações específicas, em "ondas" de produção de moléculas que mais cedo ou mais tarde, colaboraram entre si, e inclusive, algumas modificações destas que eram capazes não de conduzir novas polimerizações similares, mas cópias QUASE idênticas, e exatamente graças a este sempre presente QUASE, o processo evolutivo, agora além do químico, mas que levou a mais simples bactéria imaginável a ser todas as formas de vida do planeta - pelo menos como evidenciamos até hoje.

Aqui, um acréscimo muito importante, relacionado com esta última frase: no passado, podem ter havido biopoeises em paralelo na Terra, mas até o momento, só uma parece que prevaleceu. Igualmente, pode em algum recanto obscuro do planeta estar ocorrendo esta de novo, ainda que tal, pela própria escala de geologia hoje disponível para produzir qualquer coisa, ser extremamente improvável. Mas além disso, desta improbabilidade pela escala geológica, atmosfera atual, etc, igualmente uma pobre forma de vida simples não passará mais que alguns minutos sem ser alimento de uma massa gigantesca de formas de vida que permeiam o planeta, desde os pássaros das mais altas altitudes e até das bactérias atuando na gordura de suas penas até quilômetros abaixo da superfície, mesmo em meio a rocha, decompondo e modificando nem só matéria orgânica, rica em carbono, mas também modificando até óxidos e sulfetos inorgânicos, pois ao longo da história, a vida adaptou-se a sobreviver a qualquer custo, mesmo o de digerir rochas.

Rivais que nos apoiam, ou "como quem eu cito não me colabora em coisa alguma"






Invariavelmente, os criacionistas, e notemos a ironia, mesmo os de Terra Jovem, os biblicistas literais e seus seis dias, apelam para citar o famoso em seu meio (e até no nosso, que o conhecemos até em nível mais completo e profundo que qualquer criacionista) livro de Behe, A Caixa Preta de Darwin.

Primeiramente neste ponto, nunca é tarde para cutucar os criacionistas, ainda mais os biblicistas, de que Behe (e diversos outros autores do design inteligente) não nega o processo evolutivo, muito menos a ancestralidade comum, muito menos afirma que o homem não tenha evoluído de outro primata, nem que não seja a evolução de uma bactéria primitiva e inclusive que não seja um parente afastado, como sempre brinco, até de um pé de brócolis.

O que, mais uma vez me parece ser uma "falácia da surdez", é que criacionistas, pouco interessando que inúmeros autores tem feito "esmagamentos" completos aos argumentos (que na verdade são "deus nas lacunas" adicionados de falácia do apelo à ignorância) de Behe e outros, como, destacadamente Orr, o próprio conjunto imenso de evidências de evolução dos olhos, inclusive na sua parte bioquímica, não só estrutural, a coagulação, e suas inúmeras variantes na natureza, em pleno acordo com o processo evolutivo dos diversos filos e seus sistemas próprios, a própria evidência, mais uma vez gritante, de que os flagelos bacterianos possuem variações, incompletas aos olhos de Behe, entre inúmeros filos de bactérias, etc.

A estes argumentos de biólogos e bioquímicos, somam-se os devastadores argumentos dos filósofos, contra os argumentos teleológicos, que inclusivem partem de um raciocínio simples, tomando de premissa que existe o designer, e provando que pouco interessa, pois este não teria de ser único, e neste campo, destaco o colosso intelectual que é Hume, que para toda a análise e inclusive seus mais ferrenhos críticos é considerado como aquele que encerrou esta questão.

Para tais questões, num quadro mais formal, recomendo humildemente meus dois Knols, tanto o que trata da pitoresca Falácia da Poça D'Água quanto o que trata do embrião da argumentação pelo D.I., que é o argumento do relojoeiro de Paley.

Os tombos de quem citamos

Mas antes de avançar para outro ponto, gostaria de colocar uma questão, que sempre "passa batida" por qualquer criacionista que cita Behe. Esqueçamos o flagelo bacteriano, e o consideremos um milagre. Mas observemos o olho completo de um peixe. Observemos o sistema de coagulação também de um peixe. Desafio qualquer criacionista e defensor mesmo mais sofisticado do D.I. a me mostrar, que dado que agora temos um olho completamente funcional, e igualmente um mecanismo de coagulação, ambos surgidos por milegre, que animais que o contenham não possam se modificar no tempo, e assim como um elefante, um cavalo, um crocodilo, um sapo ou seja que animal for, adequado ao caso, claro, não seja a modificação de um peixe, mesmo considerando que seja fato que tais órgão e mecanismo tenham sido soprados do barro por Aiye, a divindade da religião Yoruba - sim, por que gostaria de saber porque raios teria de ser o deus hebreu?



Assim, fica claro que mesmo com mecanismos bioquímicos tendo sido gerados por milagre, pouco interessa para a coordenação de células e seus tecidos em compor organismo diversos, e o processo evolutivo ocorrer. Esta argumentação, do tipo que na lembrança da "navalha de Ockham" chamo de "machado", é sempre útil para, a partir de colocar-se premissas exatamente iguais as da "parte contrária", demonstra-se de modo simples que suas conclusões são um "non sequitur", e de modo idêntico poderíamos fazer para a origem da vida, que aqui, colocarei como gerada por Orun, também da religião Yoruba, e igualmente pouco interessa tal milagre, pois após este, a vida evoluiu.

Aliás, este conjunto de argumentos deverá ser um acréscimo futuro a ser feito, ou uma continuação, do meu Knol O Motivo do Design Inteligente Implicar em Evolução, que trata do problema por outro caminho.

Outro ponto a ser até estudado por psicólogos, sociólogos e antropólogos, e garanto que renderia ótimas teses e seguros e aplaudidos mestrados e doutorados, seria da motivação quase masoquista* que criacionistas biblicistas acham, idependentemente de sua infeliz argumentação, seja lógica, seja matemática, seja física, seja química, seja bioquímica - e nem vamos falar da biologia, pois esta não existe sem a teoria da evolução - que ao citar qualquer passagem de Gênesis, seja falando de deus, pó, terra, água, barro, "segundo sua espécie", seis dias, etc, vão conseguir convencer alguém com um mínimo de senso de ridículo que estão corretos e a vasta e esmagadora maioria de pensadores ao longo, não dos últimos 150 anos após Darwin, mas nos últimos 300 anos após alguns fundamentos da filosofia e da própria filosofia natural, antes do que seja propriamente ciência, estão errados.

*Em caso de uma explicação que não passe pelo masoquismo, ainda que inconsciente, aguardo correspondência por e-mail. Desde já, grato.

Algumas apreciações

Aqui, observações pessoais:

Uma questão que é interessante a respeito dos criacionistas, especialmente quando tentam tratar com conceituações e técnicas de nível secundário (se muito) questões extremamente complexas é a de acharem que descobriram de alguma caixa mágica algum argumento fantástico para negar os fatos que pela sua própria natureza, são estudados com as mais avançadas técnicas e no mais alto nível.* Exemplifico com o próprio caso do uso de probabilidades, como se as probabilidades de algo sendo baixas, e não são, implicasse em tal evento não ocorrer, ou afirmações em genética, área extremamente formal (no sentido de matemático), como se exatamente o conhecimento da genética é que permite se entender porque ocorrem as modificações das espécies, exatamente a questão ao tempo de Darwin nebulosa sobre como as espécies se modificariam no tempo, e em se modificando, ou melhor, podendo se modificar, porque transmitiam relativamente grande quantidade de características assim como também as modificações ocorridas à sua descendência.



*Aguarde adiante A questão do nível de linguagem e cultura específica.

Mas dentro deste quadro de argumentações, é interessante se perceber que quando são confrontados com volume esmagador de argumentos, ainda se apegam a coisas que propriamente não entenderam como se os sustentasse, e exemplifico: em Knol sobre modelos matemáticos simples que apresento ao tratamento do processo evolutivo busco para tratar de maneira extremamente limitada as modificações das células em sua posição em relação a um "arquétipo" de um ser vivo os poliminós - como se não fosse trivial entender que somos arranjos de células mesmo sobre uma ótica fixista das espécies, exatamente porque não possuo o sexo de minha mãe e nem mesmo os exatos cabelos de meu pai, sem falar em chifres ausentes em vacas ou dedos a mais ou rabo a menos em gatos, casos muito mais gritantes de modificações das posições das células entre as gerações.

Tais poliminós são perfeitamente conhecidos em suas variações até um número grande de número de seus quadrados componentes, mas um equacionamento sobre como tais combinações se dá ainda não é conhecido na matemática, e nem mesmo se sabe se tal equacionamento existe. Mas o que interessa é que quadrados se acoplam em posições variadas, e crescentes com o número que destes, e isto é similar à células se arranjando no espaço, aliás em combinações infinitamente mais variáveis, basta ver que mesmo para animais pequenos como insetos, a variedade de formas é gigantesca, e nem precisamos apelar para os conhecimentos de genética ou mesmo evolução para perceber isso.

Mas ao ver esta dúvida sobre o equacionamento de poliminós, imediatamente um criacionista apontou para um de meus leitores que mais uma coisa em evolução não é conhecida! Mas percebamos que exatamente, o desconhecimento do arranjo dos poliminós é matemático, então, como poderíamos apelar para a matemática, que aqui mostra-se parcialmente desconhecida, para afirmar que evolução não ocorre?

A pergunta acima mostra que independentemente dos erros dos criacionistas, mesmo nos modelos matemáticos com que tentam encontrar argumentos para "refutar" o processo evolutivo, mesmo com a separação hoje definitiva entre o que seja uma matemática pura e a física, e consequentemente todas as ciências desta dependentes, incluindo a biologia, ainda sim os criacionistas apresentam uma argumentação desconexa, e cheguei a conclusão que a razão pura e simples disto é, do ponto de vista de método, não de motivação, é que não pretendem sustentar sua criação miraculosa dos filos dos seres vivos, coisa que bastaria motrar a própria abiogênese de qualquer forma simples (nem falemos das complexas) de vida (aliás, se provarem das mais simples possíveis, provarão biopoeise!), nem mesmo a separação inquebrantável e insuperável entre as espécies, contrariando a descendência universal, e muitas vezes, entrando em contradições com seus "grupos internos", suas divisões, afirmando que as formas de vida são absolutamente fixas, e negando os "baramins", necessários inclusive à sustentação do dilúvio bíblico e sua arca. Eles querem, antes de tudo, conduzir ao impossível absurdo até as coisas mais visíveis da evolução, como por exemplo, a inegável seleção natural, que inclusive, independeria de como e se as espécies se modificam - pois afirmar que o ambiente não se modifica é afirmar que ilhas como as de Tambora ou Krakatoa, só para citar dois casos mais destacados, não tenham se modificado completaente ou mesmo deixado de existir (se ali aconteceu a extinção de algum dodô ou coisa similar, pouco interessa neste meu argumento, pois bastaria mudar o local e escolher a espécie, como os gigantescos baluquitérios dos desertos da Ásia).

Apelos à ignorância



Criacionistas adoram, em meio ao terrível cultivo de seu jardim todo feio, mal-cuidado, esburacado e carunchado (Roberto Takata) apelar para o que eles acham que seja nosso conhecimento sobre os passos do processo evolutivo, seja ele o cosmológico, o astrofísico, o geológico, o químico da origem da vida, e o dos seres vivos, propriamente, o para eles mais problemático, pois ao criacionista é difícil ser descendente de um primata, mesmo sendo um primata, quanto mais ser parente afastado de uma ervilha.

Assim, afirmam com enorme gritaria que desconhecemos os organismos iniciais formados na vida, quando isso pouco interessa, pois certamente seriam ainda mais primitivos que nossas atuais mais primitivas bactérias, e ainda sim, não teria se formado do nada um cachalote nem seriam necessariamente iguais os hipopótamo desde um inexistente surgimento miraculoso.

Afirmam com fogos de artifício que os compostos químicos formadores iniciais da vida seriam desconhecidos, quando na verdade sabemos exatamente quais são e para toda a forma de vida que encontramos na natureza são os mesmos, inclusive, se reduzindo a um número menor exatamente na direção das mais simples bactérias, como vimos acima, pelo mesmo evolutivo motivo. E ainda sim o argumento que acima apresento de um cachalote ou um hipopótamo não surgirem miraculosamente na Terra (seja na terra ou na água) e não serem impedidos de se modificar permaneceria sólido.

Gritam aos ventos que a atmosfera primitiva não seria conhecida, quando na verdade, sabemos exatamente o que ela não possuia, o que muitíssimo provavelmente possuia e inclusive o que certamente produziria, em inúmeras variações, e todas estas variações conduzem a produção inexorável dos tijolos mais fundamentais da vida.

Mas lembrando frase de Einstein em resposta a os opositores da Teoria da Relatividade, bastaria apresentar porque a atmosfera da Terra não poderia ser deste enorme número de variações de composição, ou a composição exata que impediria a síntese de aminoácidos por exemplo, e ainda que colocassem lá o surgimento da vida por milagre, ainda sim não provariam o seu cachalote e seu hipopótamo miraculosos, espontâneos e fixos, e a evolução da vida ainda seria fato.

Alguns, como este evangélico, afirmam com vigor que a escala da evolução (como se esta se desse em escala ou "escada", e não em "árvore") não é conhecida, quando mal percebem qe uma graduação entre as complexidades de "fauna e flora" ao longo da história da vida, assim como as bifurcações mais amplas das formas de vida, e até inúmeros filos extremamente detalhados, como os mamíferos, são ,na prática, para as necessidades da paleontologia e por ela mesma pesquisada, completamente conhecidas. As lacunas hoje do cladogramas são ao nível mais preciso e detalhista que se possa imaginar, e vou me poupar de acrescentar o colossal detalhamento da genética na cladística de todos os filos.

Chegam a petulância de afirmar que a evolução não possui os mecanismos conhecidos, quando exatamente este é o mais conhecido de seus aspectos. Chegam a soberba de afirmar que as evidências não sejam conhecidas, quando o que afirmei pouco é exatamente oriundo, antes de o ser pela genética das formas hoje vivas e até algumas extintas, levantado exatamente pelas evidências (fósseis).

Aqui, lembremo-nos de que, como descrevi, o problema não é quem aceita o fato da evolução e ainda mais o estuda, encontrar o exato animal que sendo um amniota, se transformou num cavalo, ou entre eles, qual cavalo perdeu exatamente mais um dedo, mas sim, que eles apresentem quando surgiu miraculosamente um "gigante belga" de uma tonelada, ou mesmo um minúsculo pônei, já completo e acabado, na natureza.

Para estas certezas absolutas, completas e seguras sobre o mundo que possuem, aos criaconistas dedico esta citação de Darwin:

«A ignorância gera confiança mais frequentemente que o conhecimento; são aqueles que sabem pouco e não aqueles que sabem muito que asseguram que este ou aquele problema nunca serão resolvidos pela ciência».

A questão aqui não é de Popper e Kuhn, como acreditam muitos dos defensores de uma argumentação pela Filosofia da Ciência contra os criacionistas, mas sim, de enfiar-lhes o dedo na cara e exigirem que ao menos produzam algo pelos seus devaneios, independentemente de serem no mínimo um pouco honestos.

Esperando não ter sido por hora muito prolixo, acreditem, isto é apenas o início...

terça-feira, 21 de julho de 2009

Bóson de Higgs, Big Bang, Moral

e alguns, quando não muitos, erros


Há alguns meses, caiu em minhas mão para ler um artigo de Percival Puggina, publicado no jornal Zero hora, de Porto Alegre, RS. Neste artigo, o autor trata do LHC (Large Hadron Collider, ou, em português, Grande Colisor de Hádrons) do CERN, do que seja em termos bem rasos o modelo padrão, o Big Bang, o bóson de Higgs, incorre em erros ao tratar cada um destes pontos, coloca algumas falácias clássicas pelo meio do caminho, faz seu proselitismo religioso próprio sobre estas falácias e sobre as noções, diria quase estapafúrdias, que faz do que seja a física específica destas questões, o que seja na verdade ciência e envereda adiante para um discurso sobre moral que eu diria no mínimo confuso em suas bases.

Mas tratemos de responder com força a este senhor, talvez desta vez não tão grosseiramente como fiz em determinado círculo.

O que é o LHC?

Este equipamento, uma das maiores máquinas já contruidas pelo homem, e pode-se apontar como uma de suas maiores instalações, em todas as variáveis que se analise, é um acelerador de partículas cuja finalidade é fazer colidir prótons em altíssimas velocidades. No mundo dos aceleradores de partículas, tamanho significa capacidade de proporcionar velocidade. Velocidade implica em energia cinética, e energia cinética, no mundo das partículas, faz surgir coisas que se Lavoisier estivesse vivo, o fariam pronunciar palavras de espanto em francês e certamente até em latim (e este esforçado senhor continuaria correto no que afirmava sobre o químico, mas descobriria que o que ocorre no mundo do quântico é um tanto diferente, mas no todo e no tempo, é exatamente o que faz o que ele afirmou sobre o químico estar plenamente correto).

Ao colidirem prótons, um dos fenômenos que primeiramente aprendemos, é que de dois prótons, surge "do nada" um píon (e aqui o nada não é um nada filosófico, um "absoluto nada", mas o que seja o que aparentemente, a determinado nível de análise, não estava ali anteriormente).

Em termos de equações, extremamente similares as de Lavoisier:

p + p → p + p + π

Mas a coisa pode se tornar mais confusa para os que pensam e entendem o mundo de uma maneira muito newtoniana, como se as coisas na sua intimidade, e esta é sempre o das partículas quânticas, fosse newtoniana, como bolas de bilhar sobre uma mesa, ou de maneira aristotélica, como as coisas apenas pudessem ser aquilo que são em essência, e já tratei do hilemorfismo, ou mais adiante ainda, tomistas, como se por passos lógicos singelos e simplistas, embora travestidos de simples e belos, pudessem-se a partir de sensos comuns e apreensões triviais e limitadas da realidade, entender tudo que nos cerca, desde o mínimo até o máximo, adiante do humano tempo e de espaço, e por fim, de comprovar o deus em que acreditamos (e destacadamente, o que Aquino acreditava). Mas esta questão última trataremos adiante, e voltemos as partículas.

Independentemente dos píons "decomporem-se" (ou se quiserem, o ainda mais errôneo "dividirem-se") em outras partículas, e alguns dos píons se transformam não em partículas com massa, mas na luz*, os prótons podem se "decompor" em outras partículas que realmente, para toda a análise, os compõe, que são os quarks, com seus exóticos nomes, dados por quem os estuda e trata.

*E por sua vez, esta luz, nos fótons, podem, simplesmente porque assim o fazem, transformarem-se em partículas com massa, idênticas as que compõe você ou qualquer pedra.

Por uma analogia com coisas de nosso dia a dia, e lembrando o bilhar acima citado, podemos dizer que no mundo quântico, quando bolas de bilhar são arremessadas umas contra as outras, com suficiente e variadas velocidades, produzem maiores bolas de bocha, ou bolas de bilhar e mais algumas efêmeras bolas de ping-pong, ou ainda, bolas de gude.

Mas dentre todos estes fenômenos, e poderíamos aqui ficar por dezenas de páginas os relacionando, uma característica, por assim dizer, da matéria e outras coisas que aos "não iniciados" (e aqui a colocação um tanto religiosa é adequada) é um problema para os físicos, e por sinal, em um ano a mais do que eu tenho de vida: o que causa o que chamamos de massa? Ou em termos muito amadores, até errôneos mas didáticos, por que as coisas pesam e o que causa isto?

Tratemos de um determinado bóson hipotético.

Aqui entra a hipotética partícula, e que seria exatamente adequada dentro da peculiar matemática aplicada da mecânica quântica, formando o que chamamos de "modelo padrão", num quadro geral de todas as partículas que formam a natureza que conhecemos, desde o menor grão de poeira até o mais vasto conjunto de galáxias, o bóson de Higgs - apelidado eu diria de maneira desastrosa de "partícula de deus" - aquela partícula que confere esta coisa simples de ser percebida e até entendida num determinado nível, mas extremamente difícil de ser entendida a pleno pelos físicos, que é a massa, e sua força "anexa", que orienta e coordena todos os grandes processos do universo, desde sua expansão, e aqui sua associação com o que seja Big Bang, a sua distribuição, em grupos de galáxias, galáxias, estrelas e até o nosso planeta e eu estar digitando neste computador sem "decolar" em direção ao espaço.

Em suma, seria a partícula fundamental no funcionamento do cosmos em seu quadro mais amplo por nós entendido, que é o universo, e fundamental na sua história, porque havendo o bóson de Higgs, entende-se porque formam-se prótons e elétrons, logo o hidrogênio, e deste, toda a química e lá estará a máxima de Lavoisier a reger as coisas, desde que mesmo uma ameba não pode se formar do nada, mas pode ser a agregação de átomos, e esta poderia se modificar até chegar a um homem, inclusive como o senhor Puggina, e isto não tem coisa alguma com o deus que ele acredita ou não existir ou ser ao menos razoável, mas apenas nos mostraria como a história do universo, desde os bósons de Higgs até o senhor Puggina, que acha que entende isto, se formou.
Portanto, provar, tentar provar que existe, fracassar, abandonar todo o modelo padrão, modificar tudo, reformar o LHC, construir outro modelo matemático que trate aquilo que chamamos de átomo, ameba, senhor Puggina, Terra ou universo apenas nos dará outro modelo destes objetos, sua história e comportamento, mas não terá como objetivo desacreditar deus algum, seja lá de quem for, nem muito menos comprovar o deus de quem seja (nem mesmo ao não conseguir provar coisa alguma que tenha nexo com o natural).

Mas neste processo de construção de conhecimento sobre o natural, curiosamente, tem-se como inexorável consequência, a destruição de determinados conceitos de divindade, desde poderosas tartarugas que sustentariam o mundo, senhores atléticos de barbas longas que lançariam raios das nuvens, ou mesmo exóticos espíritos indeléveis, que apontando sabe-se lá com que dedo, formariam do barro até tartarugas, e talvez por graça, o antepassado mais longínquo do senhor Puggina.

Portanto, a ciência é força destruidora, mesmo quando destruída e refeita, e fé alguma é por ela construída, nem destruída, pois a fé é pessoal e intranferível, no máximo, concordada entre grupos humanos, as vezes os piores possíveis, e também seguidamente com os piores resultados para estes, mas infelizmente para estes, faz, e com força devastadora sem igual, a que os imbuídos de pífias e até ridículas certezas, mesmo que em enorme grupo, descubram que sua fé nada é mais que uma tolice, frente a absoluta e poderosa natureza, que apenas propicia por sorte que os humanos vivam e tenham suas fés infantis sobre este planeta, basta se ver a história da vida com suas extinções ou mesmo a história com suas catástrofes.

Se é uma divindade protetora que causa isso, esta nossa momentânea e nem tanto sorte de milhões, e até bilhões de anos de nossa linhagem biológica, eu não acredito, nem coisa alguma se mostra assim evidente, mas que outros acreditem, pouco me interessa, só não comecem a achar que porque em determinasas coisas acreditem tenhamos que os obedecer, ou mesmo aceitar suas necessidades quase patológicas de um relojoeiro atrapalhado, tão incapaz e limitado que tem que a cada instante intervir em sua criação, corrigindo erros e moldando coisas, porque naquele humano momento, decidiu mudar seus atos, porque agora de algo precisa, inclusive quem o idolatre.

Antes de continuarmos, alguns alertas.

Mas temos de ter extremo cuidado ao lidar com questões de cosmologia, que apenas trata, no momento, de como evoluiu no tempo nosso universo, a partir de densidade e temperatura altas em seus primeiros instantes, rumo a sua atual apresentação, que não é nem um pouco em essência diversa já desde tempos antes de nosso próprio planeta existir. O que seja o Big Bang não é a origem primeira de tudo-que-existe, nem tampouco, pode-se dizer que o próprio universo seja este tudo. O que é o Big Bang, para todo físico cauteloso, é apenas o hipotético momento a partir do qual tratamos o universo como apresentando seu comportamente de expansão, com consequentes reduções de densidade e temperatura. Não se pode afirmar se um "nada" existia antes deste processo, e nem mesmo que nosso universo seja um único contexto para toda a realidade, seu todo. Estas questões são muito bem tratadas pelo cosmólogo brasileiro Novello, quando afirma que usar o que seja o Big Bang como um momento de criação do tudo a partir do nada, ou mesmo de nosso próprio universo, se um de alguns ou muitos, a partir de algo que se afirme como um início propriamente dito, sem tempo algum definitivamente anterior, trata-se de um "mito de criação científico", e na verdade, tratado deste modo, é apenas uma credulidade, e não uma afirmação científica.

O universo na sua estrutura mais ampla, que chamo de "estrutura de esponja de banho", onde as camadas vistas com brilho são filamentos e "cascas" de galáxias.


Para piorar a situação, trata-se em cosmologia de um tempo mais complexo e rebuscado que o que se marca com relógios, pois fortemente este é associado com densidade/campos gravitacionais e não pode ser tratado a não ser com curvas que apresentam flexões impensáveis ao humano, a não ser com muito treinamento, ainda mais quando retrocedemos no próprio tempo até os momentos de densidades e temperaturas inexistentes hoje no universo.

Nestes tempos iniciais de nosso atual (talvez) ciclo, a natureza exótica aos nossos olhos produziu reações entre as partículas, suas modificações, que hoje não mais evidenciamos, pois não temos mais aquelas densidades e temperaturas (e devo salientar, em física, uma coisa, nesta escala, é intimamente tratada junto com a outra). Assim a formação dos próprios prótons que hoje tentamos colidir para descobrir se sabemos ao menos matematicamente o que lhes causa massa ocorria, e hoje mesmo nas maiores e poderosas estrelas, não mais. De certa maneira, e cuidemos porque os termos aqui podem ser traiçoeiros, o universo a medida que envelhece perde mais seu poder criador, mas ganha sempre em capacidade de produzir complexas combinações, haja vista as rochas, as amebas, ou mesmo o senhor Puggina.

Eu costumo tratar o tempo da física usual, como o tempo trivial, aquele em que bolas de bilhar demoram para cair de mesas, e tempo cosmológico o que contenha estes comportamentos anômalos, assim, dentro do que sejam universos (ou só o único nosso universo) como um ciclo, do qual adviemos de uma contração, revertemos numa expansão, este total de dois ciclos seria tratável num tempo cosmológico, e o que vivemos desde o Big Bang, na sua imensa maior parte como um tempo trivial. Mas fique claro que a tratativa é minha, para eu próprio entender a questão, ou passá-la adiante, ainda que limitadamente. Os especialistas certamente lidam com tais questões de forma muito mais específica, e com outros termos mais técnicos.

Uma representação esquemática do hipotético "universo autoreprodutivo", que prefiro chamar de "universo uva japonesa", no qual a partir de deformações locais de um universo, surgem outros. Este conceito é muito mais complexo que um universo cíclico, e mesmo assim, coerente com teorizações físicas.


Logo, novamente por analogia, nem mesmo a cronometragem das confusas partidas de bilhar com suas bolas em variação da mecânica quântica e da cosmologia podem ser cronometradas com nossos relógios e cronômetros de controlar partidas convencionais.

Portanto, o que seja a cosmologia é apenas a ciência que trata do maior objeto possível de ser estudado, que é nosso bolsão espaço-temporal (e inclusive, de como este próprio espaço e tempo são criados e evoluem), sua matéria-energia e seu comportamento neste espaço e tempo, e nisto sua história, sua evolução, e nada mais. Nas palavras também de Novello, é a própria refundação da física, pois trata das característics e história da textura espaço-tempo onde tudo que evidenciamos se dá, onde o que é físico ocorre.

Agora, uma condição para continuarmos.

Para tratarmos neste universo, agora plenamente claro que para o que seja científico apenas de si mesmo necessita, da moralidade, consideremos que existe tal ser, e seja absoluto, e seja perfeito, e seja bom, e seja justo, o mais correto e caridoso dos pais, e tratemos do que seja a moral dos macacos pelados e de como uma coisa não tem coisa alguma a ver com a outra.

Dado este primeiro passo forçado para demonstrarmos alguns pontos, apontemos algumas falácias.

Como vimos, pode-se ter fé num ente criador cuja criação é o próprio conjunto de coisas que compõe as coisas e até o tudo e que posteriormente, e inclusive produzindo o que seja o tempo onde se dá o posteriormente, se alteram, se recompõe, se agregam pela forças e se aglutinam pelos seus mecanismos próprios. Também poder-se-á não ter fé alguma, e só observar que tais coisas assim são se operam, e nem se pensar que para tais processos ocorrerem como se evidencia, e aqui destacamos que nestes fatos e processos não se acredita, mas apenas se aceita, e exatamente serão iguais aos evidenciados por quem tem fé. O que não se pode colocar é que a existência de um ente criador derrube o que sejam tais fatos.

Agora, se ele considera que seja miraculoso a enorme quantidade de matéria do universo,... perdão, vou me corrigir: a matéria do universo, que é toda que conhecemos - logo não pode ser algo comparável a outra coisa - não pode ter estado concentrada num ponto menor que a cabeça de um alfinete, e necessita-se de para qualquer passo posterior da interferência de um ser operante, eu afirmo, mesmo que traindo meu peculiar panteísmo, que minha divindade é muito mais poderosa, pois além de ter propriciado tudo onde tal ser opere seus jogos, ainda criou tal jogador, e portanto, até me baseando nos erros infelizes de Aquino, exatamente pela mesma argumentação deste, chegaremos ao ponto que o jogador é inferior, e portanto, não pode ser o verdadeiro criador.

Logo, usando a própria retórica de Puggina, eu afirmo que ele pode crer neste "duende" insignificante que brinca com estrelas, mas o meu deus é o deus deste duende, e este deus não necessita operar coisa alguma, pois sua criação é tão perfeita e autosuficiente que inclusive inclui o atrapalhado duende que a opera.

Mas claro que as falácias do corajoso senhor que se embrenhou em física complexa, mundos que aparentemente não entende e raciocínio mortos desde o século XVIII, não terminam por aí, e adiante apelou para uma das mais perigosas falácias num dos mais perigosos terrenos, que é o da moral humana associada à religiosidade ou a noção de uma divindade personalizada.

Antes de continuar, convém lembrar a todos que me leem que a questão de ao colocar-se uma divindade como resposta para a mais profunda das questões científicas, tratada de maneira lapidar por Heidegger com a pergunta "Por que existe o ser e não o nada?", não encontra resposta nem para uma rocha, nem para uma ameba, nem para o senhor Puggina, nem no universo inteiro ao dizer-se que existe um deus que este tudo criou (sem tratar ainda dos problemas que Espinosa criou para tais argumentos), pela simples pergunta de uma criança, que exemplifica umas das dicotomias apresentadas por Kant: -Mas quem criou deus?

Logo, não sabemos a resposta para a fundamental pergunta da filosofia e da ciência, mas sabemos qual resposta não deve ser dada, e que coisa alguma soluciona.

Por outro lado, não necessito de deus para operar meu GPS, nem mesmo para a porta de meu microondas ser segura quando olho uma xícara de café dentro dele. E são exatamente as mesmas coisas que permitem a um GPS ser preciso ao longo dos meses, e ser seguro meu microondas, que respectivamente são respostas para a história mais basal do universo, assim como se compôs no tempo. Logo, "não deus" me e nos é útil, mas deus não, e adiante, mostraremos que não é para uma imensa maioria da população humana, sem nem mesmo falarmos da poderosa natureza, que absolutamente nenhuma percepção tem das inúmeras fés humanas, quanto mais, de uma específica.

Mas anteriormente eu assumi, momentaneamente, que esta resposta pode ser dada por "deus", e serei honesto, e em tal base avançarei sobre as perigosas afirmações do senhor Puggina.

Temos de primeiramente dizer, e tal na história me parece claro, que qualquer que tenha sido a divindade em que os seres humanos tenham acreditado, esta de forma alguma os impediu de imoralidades, seja em que campo. Também, já desde o início temos de perceber na história, que inúmeros povos com divindades completamente diferentes das cristãs foram morais, e tanto ou mais quanto os mais fervorosos cristãos (porque evidentemente a argumentação do senhor Puggina é por uma divindade cristã, e não por Vixnu, por exemplo).

Mas basta abrir qualquer jornal ou fazer uma viagem e descobriremos que para argumentar neste campo, nem se necessita do histórico, pois vamos aos fatos atuais. O budismo, moral até a raiz dos cabelos de seus carecas monges, é uma religião desprovida de divindade pessoal, logo, diversa completamente do cristianismo ou do islamismo, de mesma raiz na personalização da divindade, ambas nascidas do judaísmo.

Igualmente moral é o aparentemente a primeira vista politeísta Brahmanismo, a mais antiga das grandes religiões, e com o agravante de que a fundo, o Brahmanismo é em Brahman - não confundir com Brahma, da trindade Brahma-Vixnu-Shiva - uma religião na verdade panteísta. E sejamos sinceros, basta comparar o níveis de criminalidade da enormemente populosa Índia com países cristãos fervorosos como o México para percebermos de maneira cristalina que a moralidade dá mais e mais sinais de não ser associada à divindade cristã e sua aceitação/fé diretamente.

Mais destrutivo a este argumento ainda seria o Confucionismo, que propriamente não é uma religião, mas um "sistema de conduta moral", e apenas com esta expressão a argumentação já poderia ser encerrada neste ponto, mas o desejo de escrever longamente e fragmentar qualquer resquício de argumento do senhor Puggina ao pó me levará adiante.

Logo, ao contrário do que o senhor Puggina pensa, por estas diversas, extensas historicamente e numerosas provas, uma divindade criadora não é necessária para haverem "leis naturais", muito menos uma "ordem moral", e que ao que tudo parece, por mais que o homem tenha rezado a uma tal divindade criadora, esta não só não nos salvou de coisa alguma na natureza, mas ao contrário do pensado por este senhor, muitas vezes, quando mais acreditada, levou os humanos até os piores de seus atos.

Ao contrário do que o senhor Puggina pensa, exatamente não ter uma religião propriamente dita leva os chineses desde tempos remotos a reprovar a covardia, levou os romanos crentes em um Júpiter até adúltero a reprovar a traição, levou os gregos e seus belicosos deuses a reprovar a mentira, leva os indianos e sua miríade de deuses a serem mais honestos que a média dos mais fervorosos cristãos. Exatamente acreditar nos seus deuses exóticos ligados à Terra levava os povos celtas a valorizar também o amor, aos persas e seu zoroastrismo, que ainda guarda muitos dos embriões das diferenças entre o cristianismo e o judaísmo mais original a também valorizar a solidariedade, os egípcios e sua Maat a valorizar a justiça, aos japoneses e seus deuses a serem fundidos com os princípio do budismo a paz, aos romanos e o desenvolvimento do seu direito, que herdamos a ordem e aos gregos e sua filosofia nossa conceituação de princípios de liberdade.

Exatamente a ordem moral proposta pelos cristãos que levou a destruição inicial de qualquer cultura próximo ao fim do império romano dentro de suas fronteiras, e tal processo continuou pela Idade Média adentro. Exatamente esta mesma ordem moral levou ao massacre, o roubo e a cobiça as coisas alheias da civilização árabe muçulmana, pois estes não viam em Jesus deus, mas apenas um profeta com papel mais baixo que seu próprio profeta.

Exatamente a ordem moral cristã que levou papas não a terem amantes, mas bordéis, pois haréns seria ofender a relativa moralidade muçulmana, onde não há o que seja um adultério, apenas não simpática aos conceitos de moral de classe dominante de nossa civilização cristã ocidental, e aqui, recomendaria que o senhor Puggina não lesse meu texto, mas sim, o grande mestre neste campo, que é Nietzsche. Exatamente a luxúria dos cristãos é que produz o maior volume de pornografia do mundo, e não os deuses indianos e suas roupas semitransparentes, ou sua antiga estatuária erótica.

Quanto a pecados de tom um tanto prático, como a avareza, o senhor Puggina que justifique como as maiores concentrações de riqueza e diferenças brutais de renda se dão nos países mais cristãos do mundo, e não na crescentemente atéia ou "a-religiosa" escandinávia.

Quando afirmar que a crença nesta divindade criadora judaico-cristã conduz à preguiça, compare os chineses com os brasileiros, ou qualquer sul americano, inclusive com alguns de seus exércitos, onde curiosamente, só se ingressava há poucos anos sendo católico.

Quando achar que acreditar num deus criador conduz também à repulsa pela dignidade humana, nem lembre da Inquisição, mas visite tanto a África cristã quanto a muçulmana. O mesmo para a tortura.

E quanto ao que possa ele ter se expressado como sendo aborto, pois aos meus olhos e ouvidos esta palavra demanda conceituação muito mais complexa que um simples método de eliminação de gravidez indesejada, compare sem dúvida alguma os milhares de abortos entre famílias de nosso cristão Brasil com quaquer outro país não cristão. Os números serão surpreendentes, garanto.

E tomando de frases deste senhor, por que escrevo sobre coisas assim, quase óbvias?

Porque estão se tornando cada vez mais insistentes as investidas de crentes em divindades pessoais (no sentido de divindade personalizada) e grupais (no sentido de grupo que nela crê), e destacadamente criadoras e atuantes na natureza, seja com a insanidade de afirmações que o sejam, como a que comprovar a existência de uma partícula que é responsável por uma das características da matéria, e causou o comportamento do universo em seus primeiros momentos e até hoje, e seu deus estranho que tem de formar coisas para que seja acreditado for mostrado como desnecessário neste processo, leve inexoravelmente o mundo ao caos, quando ao que mostrei, quem repetidas vezes levou ao caos o mundo, e ainda tenta levar, é exatamente quem crê numa divindade operante e criadora.

E como pretendo não deixar pedra sobre pedra neste tema, explicarei o porquê.

Porque quem se arvora de ter um protetor celestial - como coisa que a primeira tempestade, enchente ou vulcão, qualquer esperança de uma divindade providente controladora da natureza não se transformasse no maior dos "sádicos voyeristas" - acha que por nele crer se torna transcendente ao humano, e inclusive, infindo, mas deveria saber, pelo que nos mostraram de maneira esmagadora os grandes filósofos ateístas do século XIX (que até como filósofos foram menores, mas neste campo foram mestres), que o homem finda, e nada no humano transcende o que seja humano, e divindade alguma providente e protetora existe, seja a quem for, tão claro quanto é certo que finda o homem e certo como nenhum homem consegue ao menos voar como um simples pardal, quanto mais impedir uma tempestade, uma enchente ou um vulcão.

Aqui, "sábios tolos" e crédulos do passado, com imensos erros, debruçaram-se longamente, e não alcançaram resultado algum, como Agostinho e Aquino, e neste debruçar, e para continuar e somar, acrescentarei Aristóteles, quando todos concordam que não pode ser a divindade que conduz ao bem, mas sim, a escolha do humano - exatamente quando percebiam que não poderia ser o comando ou mesmo o temor de uma divindade que o fizesse. E muitos de nossos mais profundos e universais atos morais não são frutos de escolhas conscientes, mas sim, de necessidades de sobrevivência do humano como um todo, como nos provou Kant com seus universais, cujo discurso contém erros, mas não é de todo um erro, e mais e mais são corroborados pelo esmagador resultado no sociológico, de nosso coletivo, das implicações do processo evolutivo e de sua sempre inseparável seleção natural.

Em outras palavras: não esmagamos crianças com os pés porque somos bons, mas porque se esmagar crianças fosse de nossa mais íntima natureza, não estaríamos mais aqui. Neste ponto, Kant encontra Darwin e seus posteriores, e tal encontro nunca mais será desfeito, na duração finita da mais elevada cultura humana (e ao que me parece, ainda não existe outra).

E exatamente por esta mesma natureza evolutiva, seguidamente estupramos crianças, as torturamos e as jogamos pela janela, por notável exemplo, e isto está tanto em nossa primata natureza como nos comovermos ao encontrar não uma criança na sarjeta ou no lixo, mas já ao encontrarmos um filhote de cão ou gato.

Portanto, para consolidar esta idéia bem, citarei o brilhante Alan Moore, em Watchmen, com pequenas adaptações minhas: não é deus que sequestra uma menina, a mata e a dá de comer aos cães, somos nós. Assim como também somos nós que devolvemos um troco dado a maior num supermercado, cedemos lugar para uma mulher grávida num transporte coletivo ou deixamos um senhor idoso passar a nossa frente numa fila num aeroporto, como certamente faz o senhor Puggina, sem ao que me parece, ser um ser todo poderoso que perca seu magnífico tempo o cutucando ao ombro para lembrá-lo destas coisas.

Aliás, antes do fim, uma opinião pessoal: acho que todo homem que só age bem por medo da fúria de uma divindade um traste, um canalha e mais meia dúzia de desagradáveis adjetivos, nada mais.

Portanto, a "vela no escuro" que é nossa ciência em sua esperança de iluminar o mundo, não é uma fogueira a queimar os crédulos, não é nem boa nem má - pois é apenas uma reta a tentar tangenciar a verdade - mas a iluminá-los para que entendam que seu deus ter de sair de determinados lugares é uma necessidade racional, e para onde tal divindade for, não estará tão distante ou tão próxima que não continue a ser inútil aos homens ser bons ou maus. Apenas sem tal vela, continuarão ignorantes, não muito distantes de como o foram quando inclusive comiam seus semelhantes por simples fome.

sábado, 18 de julho de 2009

Um Paradoxo, Falácias, Gripe Suína e o Pouso na Lua



Escrevi recentemente para a Wikipédia em português o artigo (sinceramente, prefiro o termo verbete) sobre o "paradoxo sorites", que quando bem estudado, e o pretendo fazer, possui relação com uma série de falácias percebidas nos últimos tempos, sobre diversos assuntos, boa parte dos que querem negar a evolução dos seres vivos ou afirmar que o surgimento da vida ou qualquer emergência (no sentido de organização a partir do caos) na natureza é fruto da ação de uma inteligência organizadora externa à natureza. Isso sem falar de nosso governo e de afirmações absurdas sobre o que quer que seja, inclusive pelo historicamente óbvio.

Resumidamente, para aqueles que não abriram o link para a Wikipédia, "sorites" trata em suma da questão trivial que enfrentamos que é "o que é um monte de algo?", ou sua inversa "o que é pouco de algo?" - classicamente "quantos grãos seriam um monte de areias" - e as falácias consequentes disto são exatamente as distorções de tais afirmações a partir de um senso comum, a colocação como senso ou avaliação pessoal ou de grupo de uma definição mais amplamente aceita ou, sem querer me alongar, puramente desonestidade intelectual, quando não, como veremos, nem tão intelectual assim.

Obs.:Pretendo escrever um artigo mais formal sobre tal paradoxo e suas falácias decorrentes, mas tal ainda demanda um longo estudo e esboços sobre as questões envolvidas, e um destes esboços já é esta blogagem.

Sorites e Gripe Suína

Vejamos bem: concordo que uma taxa de mortalidade de 0,5% para esta gripe é extremamente baixa, e não seja causa, de a priori, pânico.

Só aí já temos uma aplicação de sorites com falácia no tempo, pois a atual forma de vírus ser deste modo mortal não implica em que uma mutação sua não passe a ser extremamente letal, e como já lembrei e demonstrei nas entrelinhas noutra blogagem, como disse brilhantemente Mayr, "biologia é ciência única", e não pode ser tratada como um sistema newtoniano, que a partir de uma velocidade e direção iniciais, resulta num exato resultado.

Mas voltemos ao número acima.

Concordo que 5 pessoas em mil "gripados" são poucas vítimas. Inclusive, por sorites aplicado, posso considerar assim que eu, minha irmã, meus pais e minha avó materna, ainda viva, sejam completamente dispensáveis da humanidade.

Mas se o número de infectados for de 10 mil, espero que idêntico núcleo familiar do idiota que afirma este tipo de bobagem seja eliminado da face da Terra, pelo mesmo coerente argumento, junto com outras 40 pessoas, totalizando 50, que podem ser também divididas entre minha família e a dele.

Mas não sejamos tão agressivos com os idiotas, pobres infelizes, e sejamos brutais, como recomenda Maquiavel, com os falaciosos, especialmente se no poder.

Concordamos que 0,5 % é pouco, mas se a epidemia atingir, 100 mil pessoas, ou pouco mais que o dobro de um estádio cheio em dia de show de rock, 500 pessoas morrerão. Pelo mesmo motivo anterior, dois vôos lotados caindo continuam a não ser coisa alguma que nos apavore.

Para uma população como a de Campinas, mesmo que dispersa pelo país, em 1 milhão de pessoas, 5 mil pessoas morrerão, e portanto, morrerão todas as pessoas em um ginásio durante um show, ou ainda, para 10 milhões, as mesmas pessoas acima num estádio, e pelo mesmo motivo, não será motivo de pânico.

Assim, com 100 milhões de pessoas, que é pouco mais que metade de nossa jovem população (pela Gripe Suína, mais afetáveis - hipótese do "Pecado Original"*), morrerão 500 mil pessoas, e lógico, pela obtusa lógica até aqui apresentada, que extinguir a população de uma cidade pouco maior que Caxias do Sul, no RS, ou Jundiaí, em SP, é simplesmente...

INSIGNIFICANTE, não é mesmo?
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*Para entender diretamente, aqui:

"Existe uma teoria do pecado original. O primeiro Influenza que a gente se infecta, a gente sempre responde bem àquele tipo de Influenza. Até 1957 circulava no mundo Influenza H1N1 resquício da gripe espanhola. As pessoas que nasceram antes de 1957, o primeiro Influenza que elas conheceram foi um H1N1. Essa seria uma explicação, porque agora que vem um novo H1N1, de alguma forma eles ficam protegidos." (de Vírus da gripe comum e da nova matam com a mesma frequência)
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Aqui, percebamos que ao atentar para tais questões que me parecem banais, o governo do México (digamos, aqui, "3° mundo"), com suas medidas que praticamente paralisaram o país, ou mesmo a Inglaterra, rica e disciplinada como todo país desenvolvido que se preze, mostram-se muito mais sérios que nossos governantes.

Percebamos que mudar o valor de mortalidade acima para 0,1%, 0,05% ou qualquer número, e tal não será menor que da gripe comum, pouco mudará a falácia, exatamente por sorites, e aí percebo a importância do estudo deste paradoxo para destruir determinadas falácias, sejam elas de quem faz cálculos errados para tentar derrubar o processo evolutivo, coisa que muito me diverte, ou para falar besteiras na televisão, como ministro seja lá do que for, coisa que muito me preocupa.

Pouso na Lua


Acho as vezes deprimente discutir sobre se o homem (e leia-se aqui, os EUA) pousou ou não na Lua, especialmente com quem não sabe mais de engenharia a diferença entre um pilar ou viga, ou mesmo quem acha que não existiam filmes fotográficos que resistissem às emissões de radiação do espaço em 1969, o que é certo, percebam a ironia, para quem nunca viu filmagens de explosões nucleares dos anos 40 e 50 e nem mesmo sabe se uma lente filtra radiações, mesmo com óculos de Sol sobre seus narizes.

Enfim: "pseudos" para nos fazer rir é o que não falta, ainda mais depois da facilidade com que estes personagens tem para expor seu humor graças à internet. Pois convenhamos, antes disso, estes brilhantes comediantes não tinham seu merecido espaço, e nem nós, nossa fonte de gargalhadas, muito menos eu, toda a fonte sobre o que escrever e nem mesmo a relativa modesta notoriedade que já apresento.

Ou seja, em nome meu e de todos, OBRIGADO!

Mas lamentável foi ver um brilhante físico como José Goldemberg, falar bobagem na Globo News, afirmando que os soviéticos não pisaram na Lua porque não quiseram, porque poderiam ter feito tal facilmente, e que as viagens na Lua pouco trariam no científico, pois qualquer coisa que as viagens pudessem fazer poderia ser feito por instrumentos.

BRILHANTE! Mas infelizmente, isto é um sarcasmo.

1°)Os soviéticos não pisaram na Lua porque não poderiam. Pouco interessa ter foguetes maiores e com maior capacidade de carga, como coisa que o colossal Saturno V fosse um rojão de fundo de quintal, e não uma das máquinas mais possantes de todos os tempos.

Ainda sim, potência em si não implica em capacidade específica, pois senão, bastaria por um motor de trator de esteira num carro de fórmula 1 e teríamos a vitória em qualquer campeonato.

Mas referente ao tema deste texto: sorites sobre classificação, limitando-se o que seja o específico para obter-se um resultado.

2°)Os soviéticos nunca tiveram motores específicos para a decolagem da Lua, que implica em motores que comportem-se de maneira específica, no vácuo, com carga de combustível econômica, para voltarem a Terra.

Idem ao anterior.

3°)Gastar 150 bilhões de dólares em um programa, e até aqui o tratemos assim, a valores atualizados, "paracientífico", estava além de suas possibilidades, mesmo numa economia comunista.

Sorites sobre valor disponível em economia, pois "quando a grana acaba, acaba".

4°)Os soviéticos tinham foguetes possantes, e esqueçamos de detalhes, mas seus foguetes N1, foram um desastre, e aqui, entra a questão muito mais complexa, que estudei num nível razoavelmente profundo, de confiabilidade, que é algo mais complexo que a "simples" qualidade. Confiabilidade é funcionar seguramente no tempo, ou, em outras palavras, manter a qualidade no tempo.

Novamente, sorites, pois agora é bom e poderosos, mas quando deixar de ser, ainda poderá se afirmar que o é, e nos termos clássicos, e acredito que a argumentação é minha: "numa ampulheta gigante, quando a areia se escoa, em que ponto do tempo deixará de haver o que possa se chamar um monte na parte de cima?".

5°)Resumamos o acima, com um argumento histórico: tanto os soviéticos não puderam pousar na Lua, que... não puderam. Ou alguém acha que deixariam de livre, alegre e científica vontade de pousar na Lua por motivos "científicos".

Aqui outra falácia, que é colocar uma motivação diferente para os duros e inexoráveis fatos e suas causas.

Mas agora, abandono a enumeração e apresento o seguinte:

Qual o aparelho, instrumento, que da Terra possibilitaria trazer amostras de solo lunar, sem a capacidade de voltar da Lua para a Terra (releiam o acima sobre os motores) ou noutras palavras, de maneira quase absurda do ponto de vista econômico, sem levar os pesquisadores até lá?

Graças, e aqui um pecado da NASA, ao vôo da Apollo 17, o último, que dispomos de amostras específicas das rochas lunares, e consequentemente, hoje sustentamos com evidências como a Lua, aproximadamente, se formou.

Se tal não serve para coisa alguma cientificamente, alguém me explique o que seja propriamente científico. Colocar primeiro um homem em órbita?

Espero que todos percebam onde mais uma vez esteja sorites, neste "o que é científico?", pois ao que parece, colocar um homem na Lua necessitou de um passo ridículo dos norteamericanos, como o vôo suborbital de Alan Shepard, ou os inúmeros foguetes explodindo.

Ou nosso brilhante físico acha que as prospecções na Lua e em Marte, e em todos os demais planetas, sem falar desta pequena "gotícula espaço-temporal" que chamamos de Universo, vão ser feitas sem meia dúzia de analfabetos científicos até jogando golfe no vácuo, em nosso poerento satélite?

E desculpe, ex-ministro, o mundo soviético e grande parte das pretensões comunistas acabaram, e está na hora de os esquerdistas destes moldes admitirem que o que acreditavam estava economicamente (aliás, aqui, o termo científico) errado, e portanto, destinado ao colapso, e tal se deu.

Discordam? Não tem problema: apresente-se uma amostra maior que o que tenha sido o bloco soviético para sustentar seu ponto. (Não preciso dizer que aqui, sorites e seu "monte de areia" aparecem novamente, não?)

Que lembrem-se sempre de poeira lunar ou mesmo minúsculos e inofensivos vírus e areia, e destes lembrem-se do paradoxo sorites, pois os falaciosos abundam pelo mundo a usá-lo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Crescimento Populacional e Criacionismo


Confesso que mesmo com minha relativamente grande experiência em debater (se é que podemos chamar assim) com criacionistas, especialmente os de "Terra Jovem", os mais literalistas, e porque não cunhar o termo "ussherianos" (em homenagem ao Arcebispo Ussher), jamais tinha me encontrado com o argumento pela taxa de crescimento da população terrestre.

Este argumento (infelizmente descobri) é bastante divulgado entre os criacionistas e pode-se ver isto nestas citações (chamar isto de referências é ofender as referências que citamos):

*Qual é a idade da Terra?

*Jónatas E. M. Machado; CRIACIONISMO BÍBLICO; Súmula dos Principais Fundamentos Teológicos e Científicos

*E num compêndio que pode provocar graves consequências de tantos risos como: Criação Ou Evolução

Afirmações deste tipo são relacionadas com o conceito do "paradoxo de sorites", atribuido a Eubulides de Mileto.

Pois bem, recentemente, encontrei um debatedor que finalmente me apresentou esta pérola, com seus equacionamentos absurdos, e foi-me proveitoso pois encontro-me escrevendo uma série de blogagens sobre as questões que são de extrema profundidade entre o que seja a separação entre Física e Matemática, entre o que sejam as limitações da Lógica e consequentemente da Matemática para se entender o mundo, um erro frequente que tem a tradição de se manifestar desde Aristóteles, que é a de se classificar estanquemente o gradual e inseparável, etc.

Logo, esta questão está nisto relacionada.

Como visto acima, o argumento dos criacionistas "ussherianos" é de que com as taxas de crescimento atuais, e mesmo com taxas de crescimento muito menores, a população humana não poderia em tempos como os tratados na paleontologia alcançar números que não fossem absurdos, mesmo para, numa primeira camada de tolices, a massa do próprio universo, numa segunda, a massa da própria Terra, numa terceira, uma camada de humanos que afogasse a Terra (curiosamente, encontrar água na Terra para isso eles encontram), e assim por diante, camada de erro sobre camada de erro, e por fim, um número que, apesar de razoável, ainda sim seria muito maior que nossos atuais 6 bilhões de pessoas.

Apenas como curiosidade, pois matemática, e como gosto de dizer, "contas", irritam muito a maioria dos leitores, calculei para o criacionista em esperneio, em poucos minutos, que a partir de um único casal (logo, o próprio Adão e Eva bíblico) em 3 milhões de anos, divididos em gerações de 20 anos (mães e pais que produzem filhos que em 20 anos se tornarão respectivamente mães e pais), resultando em 150 mil gerações resultariam em taxa de crescimento da população média, ou, no jargão entre nós, engenheiros, ajustada, de uma razão de aproximadamente 0,0145% (para ficar mais claro, entendam que este número é uma taxa pouco maior que 1 centésimo de porcento) o que resulta também numa taxa de crescimento populacional anual de aproximadamente 0,0007 % (novamente, 7 décimos de milésimos de porcento).

Para dúvidas sobre estes números, usar a simples equação abaixo:


Ou seja, a taxa de crescimento, mediana, mesmo partindo de números absurdos (pois biblicistas) da população inicial de onde nasceu o que chamamos de humanidade é muitíssimo mais baixa que qualquer taxa apresentável aos mais sólidos e significativos sensos da história, existentes desde os tempos dos egípcios, romanos e chineses.

Mas qual o fator mais importante a ser destacado na "argumentação" criacionista acima apresentada?

Os criacionistas que tratam este problema assim desprezam que a humanidade tenha flutuado sua população na história, ou mesmo flutuado sua taxa de crescimento, e curiosamente, também partem do absurdo que se seus modelos ridículos tivessem algum sentido, haveriam também de aplicá-los a diversos outros animais de muito maior taxa de crescimento populacional que os humanos, como os gatos (com 40 crias - notem a minha ironia - por ano), os roedores como os ratos (com até centena de crias por ano - e aqui, serei maldoso, pois sendo animais pequenos, e aos moldes dos filos estanques dos criacionistas, todas as espécies de roedores, mesmo as enormes capivaras, pragas em ilhas e terrenos brasileiros, fariam parte de meu argumento), nem falemos dos gafanhotos e baratas, além de todos os insetos.

Neste ponto dos contra-argumentos, meu amigo Fabio apresentou os interessantes números, que nem conferi, pois me pareceram mais que coerentes, de que se o mesmo raciocínio de uma humanidade "inundadora" da Terra fossem feitos para ratos, levariam a Terra a ser datada em 100 anos, se para baratas, aproximadamente 10 anos, e se para bactérias (pois sim, afinal de contas, quando acabassem os gnus, zebras e diversos outros animais da África, os leões não mais se alimentariam, mas ainda sim, as bactérias os continuariam decompondo, junto a todas as outras formas de vida) chegaríamos a uma datação de 9 meses, uma gestação humana, a mesma que este argumento criacionista faz-nos crer que se processe como uma replicação mecânica e geométrica sem erros, imune a toda e qualquer catástrofe, mesmo à mais destruidora infecção, como o enxame de robôs de O Dia Em Que A Terra parou, em sua mais recente versão.

Por fim, Fabio colaborou com a sentença devastadora ao argumento "matematicista" (e aqui considero o termo, até teoricamente, mais que perfeito) que: crescimento populacional não é exponencial, é logístico. O criacionista em questão chegou ao "brilhante" cálculo de que se as taxas de crescimento fossem de determinado valor baixo, teriam de nascer uma criança a cada dois mil anos, aproximadamente (curiosamente, são eles que afirmam que pessoas tenham durado centenas de anos, não nós, os evolucionistas).

Aqui, erram crassamente novamente, pois nascerem os 13 filhos de minha bisavó materna, no século XX, não implicaram em que apenas 11 tenham sobrevivido, e mais mortes tenham havido entre os 11 de sua mãe, e mesmo assim, esta enorme taxa de natalidade e mortandade, hoje, não implica em que o número dos netos de minha avó materna não passem de 8, e notemos que só este exemplo doméstico mostra que as famílias não progridem de maneira exponencial entre duas gerações, sem contar que não houve, neste ramo de minha família, guerras tribais, devastações por varíola, pestes como a negra ou cólera, lepra, sem falar de erupções vulcânicas ou mesmo de pais que após colocarem o primeiro filho no mundo, foram trucidados pelo primeiro urso ou grande felino.

Resumindo: criacionistas por este arguento pensam que não só os poderosos egípcios compravam antibióticos em farmácias, mas também cromagnons tinham acesso a padaria como meu bisavô!

Exatamente por isso que a taxa entre as gerações, média, se mostra próxima do valor que apontei, para toda a história da humanidade, porque a população humana cresce entre as gerações, mas poderia ser expresso entre anos, com valor ainda menor. A população não cresce pela progressão de um casal, e sim, pelo acréscimo de indivíduos sobreviventes à população, vide a necessidade matemática óbvia de termos relações relativamente incestuosas pela inversão deste argumento matemático pífio:

1)Meu pai e minha mãe não são irmãos, logo são filhos de 4 pais e mães.
2)Meus avós não são entre si em irmãos nem primos, logo, tenho 8 bisavós.
3)Pelo mesmo motivo, tenho 16 trisavós.
4)Consequentemente, tenho 32 tetravós (ou tataravós).

Assim por diante, e antes de chegarmos ao meio da Idade Média, teríamos uma população, necessária para não termos um mínimo de incesto, maior que a população hoje existente, de onde, consequentemente, em determinada altura do passado, temos obrigatoriamente de ter um determinado volume de incestos na espécie humana, aliás, o que é, quase ao nível de comédia, fortemente sustentado pelos criacionistas, tanto em Adão e Eva e seus filhos quanto por Noé e sua família.

Assim, mais claro se vê que a população humana não inicia num casal, nem mesmo numa família saindo de um hipotético e inexequível barco, mas numa população de primatas com um conjunto de modificações genéticas em crescente acúmulo.Mas isto, na verdade, pouco interessa, pois tal como mostro "nas entrelinhas" de meu modelo primário, muito mais realista, após uma população de aproximadamente 10 mil indivíduos, alcançar-se-á na próxima geração aproximadamente 10001 indivíduos, ou, quando chega-se a 100 mil, 100014 indivíduos, e quando chega-se a 1 milhão, 1000145, logo, não necessita-se, pelos diversos caminhos apresentados, esparsos nascimentos ao longo de centenas de anos.

Aqui, vemos que em meio a típica e especializada ignorância dos criacionistas, esta também se esparrama por pontos como o que seja História, pois pegam taxas de crescimento atual, com nossa medicina e capacidade de produção de alimentos, e a colocam no Império Romano, por exemplo, que mesmo rico e sofisticado para a época, tinha espectativa de vida menor que a Somália de hoje e taxa de mortalidade infantil maior que Bangladesh.

Como vemos, o exponencial, nem mesmo a progressão geométrica se dá a pleno na natureza, ainda mais no passado humano primitivo, logo, não se pode usar modelos exponenciais a não ser muito limitadamente, e como vimos, as populações inclusive apresentam decréscimos terríveis, como se evidenciou na Idade Média em grande escala pela peste negra e na chamada tragédia de Toba, na mega-erupção deste vulcão, quando a população humana caiu para prováveis 1000 a 10000 casais, 75 mil anos atrás.

A cratera de Toba, atualmente o lago que você vê nesta foto, medindo aproximadamente 80 por 25 km.

Ou seja, levar o matemático simplório para o natural, o ecológico e o biológico, sem falar inclusive do logístico ou do econômico, é infantil, e tal vale não só para os iludidos criacionistas, como para todas as pessoas que acham que modelos matemáticos de progressões podem ser aplicados sem um critério de moderação a qualquer fenômeno.

Um tratamento modelar sério e bastante completo sobre o comportamento do crescimento da população humana pode ser visto neste site: Population Growth over Human History (Colaboração de meu amigo "APODman").

Devemos de observar que este argumento criacionista apresenta uma clara derivação em outro argumento infeliz, que é o de total de ossos de qualquer espécie a se acumular sobre a Terra, considerando, a despeito de qualquer filmagem em "tempo acelerado" que a NatGeo mesmo faça na savana africana, que mesmo ossos de grande porte, marfins, cascos, unhas e chifres como os de elefantes e búfalos não se decomponham pela ação de insetos e bactérias, fungos e leveduras, mesmo quando enterrados em solo sujeito à umidade, o que levam achados de esqueletos, por exemplo na europa céltica a serem muitíssimo mais raros que os dos desertos andinos ou no Oriente Médio.

É tão falso quanto argumentar que pilhas de ossos das mais variadas espécies de animais domésticos (vacas, porcos, ovelhas, galinhas, cães, gatos, etc) teriam de se acumular no meio ambiente que nem necessitamos do ambiente selvagem para tal, bastaria visitarmos os terrenos vizinhos de cidades de grande porte centenárias, como de São Paulo, ou Nova York, ou cidades milenares como Paris ou Roma (e destaquemos que a Roma do Império Romano chegou a ter um população da ordem de milhão de habitantes, documentalmente), sem falar das chinesas, indianas e árabes.

Ossos se decompõe, assim tão claramente, e antes mesmo de se fazer uma argumentação pela sua decomposição, se fragmentam (inclusive pelas raízes das plantas), se pulverizam e até se dissolvem (pois os fosfatos de cálcio são insolúveis numa abordagem laboratorial, frente à água pura e tempos úteis, não no geológico), e passam a formar parte do meio ambiente, inclusive, com o destacado ciclo do cálcio e o nem tanto evidente do fósforo.

Mesmo a acumulação de ossos humanos poderia se tratar desta maneira, e para cálculos bem sólidos hoje, a espécie humana total até hoje não totalizou mais do que centena de bilhão de indivíduos, o que, lembrando frase de Arthur C. Clake, no prefácio de O Sentinela, conto que é o que no cinema conhecemos por 2001, Uma Odisséia no Espaço: Atrás de cada um de nós trinta fantasmas se levantam; não totalizaria mais que 180 bilhões, mesmo para o nosso atual número de habitantes.

Isto pode ser facilmente entendido pelo simples fato que digamos os 6 bilhões hoje vivos são posteriores todos, sem exceção significativa, aos 1,5 bilhões na virada do século XIX para o XX, e assim consequentemente, desde os primeiros Homo sapiens, e somando-se estas populações "em vida", chega-se a um número desta ordem.

Logo, nosso volume em ossos, mesmo que fosse desta grandeza e íntegro, não seria geologicamente significativo, até porque somos espécie extremamente recente, sem a menor possibilidade de ser comparada aos lagartos, por exemplo, ou mesmo aos muito mais disseminados hoje ungulados, que jamais são e foram muito menores que a menor de nossas ovelhas.

A esta altura, percebemos que a argumentação dos criacionistas por este argumento simplesmente ridículo pode ser "feita em pó" por inúmeros caminhos, mas gostaria de apresentar um extremamente interessante.

Exatamente este argumento, mesmo que tenha algum nexo, é um "tiro no pé" pela própria argumentação a favor do biblicismo, e demonstremos de maneira simples:Se a taxa de crescimento da população for, mesmo exagerada ao extremo de 2 %, digamos que a "dona Eva" e "seu Adão" tenham tido 98 filhos, só para não tornar mais desesperadora a infeliz argumentação criacionista, então quando esta população inicial absurda começa seu crescimento por esta taxa, só poderiam ter, em meio a maior das orgias incestuosas da história (usei no debate o termo suruba, mas aqui o pouparei, ou, ops...) 2 netos.

Daí, a população passaria a ser de 102 habitantes. E a sur..., desculpem, orgia, se perpetuaria por mais algumas gerações, sem produzir incremento algum de população, até porque não há "fração de filho", até digamos, chegarmos a 10000 membros, quando então, ainda sim num determinado nível de incesto, nasceriam, e dando uma certa comodidade ao infeliz argumento, até para tornar um pouco mais geométrica a bobagem se afirma, digamos 300 filhos. Então esta nova população seria de 10300 pessoas. Uma vila.

Nesta taxa, quando a população alcançasse a população da Roma antiga, chegaria globalmente a 1 milhão, e aí então, teríamos o acréscimo, e mais uma vez exagero, de 40 mil pessoas.Onde quero chegar?Que o nascimento nem da primeira, nem de 40 mil crianças, não implica, mesmo para os primeiros nascimentos, de se dar em espaços de milhares de anos, pois a população nova que se forma não é a dos filhos, mas a total no momento (o primeiro e banal erro deste argumento).

Mas continuemos.

Logo, a primeira para nascer, ou as 300, ou as 40 mil seguintes não necessitam intervalos absurdos de tempo entre elas, pois quando nasce uma única criança não implica em seus avós não morrerem de velhice, sua mãe de parto, seu pai morto por um inimigo ou seu irmão por um urso no meio do bosque.As populações não são um ente matemático imune aos fenômenos naturais, uma progressão geométrica ou curva exponencial perfeita, repetimos e declaramos: são populações de seres vivos, sujeitos a todo infortúnio a que os seres vivos estão sempre sujeitos, nada mais óbvio que isso.Por outro lado, o que eu apresento desde o início, com progressão geométrica de relativamente baixa razão, pode ser mais facilmente descrito, mesmo com deformações frente ao natural com isso:

1a geração: Adão e Eva

2a geração: Pode colocar o número de filhos de minha bisavó materna, que chegou a 13, em pleno século XX, sem que todos tenham sobrevivido, e considerar que Adão e Eva, com eles somaram 15.

3a geração: Pode -se"potencializar" com o anterior, pouco interessa e chegar-se a 225.

4a geração: Idem, 50625.

Notem, que até aqui, passarem-se talvez 60 anos, e "biblicamente" estamos minimamente coerentes.

5a geração: Ops! Quem disse que a família que se estabeleceu em Ur, e a outra, que ocupou as margens do Rio Jordão, não se odeiam agora e tratam de matar quem lhe cruza pela frente? (Aliás, como o fizeram, fantastica e biblicamente, Caim e Sansão, só para ficar nestes dois bíblicos personagens.) Ou morressem em terríveis tragédias? (Como um bom número de habitantes de duas peculiares cidades, ou ainda trabalhadores de determinada torre.)

Portanto, podemos passar milhares de anos com a população estável neste número, mesmo com produção enorme de filhos por mulher (e aqui está muito da chave dos limites de crescimento de populações, vide "O Rapto das Sabinas" e até passagens bíblicas - e mais uma vez, nos apoiemos nos próprios argumentos criacionistas). Portanto, podemos passar dezenas de gerações com população na casa das centenas de milhar, assim como outras dezenas na casa do milhão, da dezena de milhão e centena de milhão, como aliás, apontam os demógrafos, inclusive apoiando-se em sensos, que por sinal, e vamos destacar: SÃO CITADOS NA BÍBLIA!

Ainda que abandonemos Adão e Eva, e tomemos a família de Noé, na primeira geração existem 8, na segunda 64, na terceira 1 bilhão que seja, pois como posso supor Jeová tenha inventado de fazer a família de Noé reproduzir-se como gafanhotos, ainda sim, pouco interessa, pois a população humana poderia permanecer estável em 1 bilhão e até decair a valores menores ao longo de milhares de anos, pois como já vimos exaustivamente as populações não crescem obrigatória e exatamente como qualquer progressão, seja ela qual for, pois o biológico, o ecológico e o econômico não são matemáticos, mas ligados a fatores naturais, como a carência de alimentos.Mas observemos os números de períodos mais recentes:

Ano 1 DC: 100 milhões (sensos Chineses, Indianos e Romanos)
Ano 1000 DC: 300 milhões (sensos Chineses e de toda a Europa medieval)
Pelo raciocínio obtuso dos criacionistas, temos que estes 200 milhões nasceram ao longo de 1000 anos, e então, teriam de ter nascido 2 filhos para cada casal a cada 500 anos? Não, óbvio!A população se incrementou destes 200 milhões ao longo de 1000 anos. Colocando estes números na minha simples planilha, chego ao incremento de aproximadamente 2% por geração, e óbvio que um casal não tem a cada geração 2 centésimos de filho, que é, repito, uma consequência perniciosa do raciocínio absurdo de nossos "debatedores".Mas retornando, o que interessa é que o crescimento durante este período foi baixo, e estamos falando já de um período com a medicina árabe e a chinesa em seus níveis, e mesmo populações desta escala, e armas e cidades muradas a enfrentar os predadores.
Imaginemos populações inferiores a de qualquer vila moderna da África ou Ásia (ou mesmo da antiguidade clássica), distantes por quilômetros, em um planeta com 100 milhões para menos de seres humanos. A taxa de mortalidade seria altíssima, e crescimentos, mesmo baixos como estes do final da Idade Clássica e toda uma metade da Idade Média seriam impossíveis de serem sustentados.
Assim, a população humana mundial teria de passar centenas, senão milhões de anos, com populações estáveis em centenas de milhares a milhão de indivíduos.E ajustando isso por uma grosseira modelagem, chega-se a taxa média de crescimento para a população humana da ordem de centésimo de porcento por geração, exatamente como eu, apenas para ilustração, fiz.

Assim, concluindo, seja por ciência mais formal, por História documentada como a de Romanos e Chineses, por modelos matemáticos mais exatos, e não desconexos da realidade, seja pela própria Bíblia, este argumento pode ser feito em pedaços, ou se quiserem desmoronar, como determinada presunçosa torre.