sábado, 11 de julho de 2009

Aristotelismos Classificatórios

Há tempos "malho" uma questão que é de Filosofia, especialmente, Epistemologia, e seguidamente vem a tona quando se discute evolução, astrofísica, física, cosmologia e inúmeros outros campos do conhecimento humano.

Os chamo "aristotelismos classificatórios".


Recuso-me a colocar como referência um texto de Olavo de Carvalho que trata deste conceito, mas não com esta exata expressão, que julgo, modestamente, que seja minha. Quem tiver estômago para o mórbido em Filosofia ou masoquismo, ou ainda sadismo para depois ler outros textos deste senhor e enchê-lo de desaforos, bom proveito.

Cito algo mais sólido, com abordagem, embora mais técnica e aplicada, que passa exatamente pelos pontos que passarei: José Ricardo de Carvalho Mesquita Ayres; O problema do conhecimento verdadeiro na epidemiologia; Rev. Saúde Pública vol.26 no.3 São Paulo June 1992.

Desde texto, apenas aqui citado para termos algo da web de onde partir, tiro a seguinte passagem (embora não concorde com n pontos deste autor):

"É verdade que o final do século XVIII e início do século XIX assistem a uma reação do racionalismo, expresso por um lado na síntese do ímpeto classificatório..."

Um dos principais legados de Aristóteles, e que pagamos até hoje, e que na verdade não foi criação dele, e sim da natureza de nosso cérebro e mente, que para entender o mundo necessita classificar aquilo que vê, principalmente, e entende, ou dela, posteriormente, é a de fazer classificações limítrofes e estanques de tudo que apreende.

Ou seja: ao vermos uma vaca, a entendemos como um bovino, e a entendemos como um ungulado, e a entendemos como um mamífero, e como um animal, e assim o fazemos pois os classificamos de acordo como o fomos aptos a fazer por nosso aprendizado ou construção de um "banco de memórias" e desenvolvimento até autodidata de nosso conhecimento.

Aqui, abro um parênteses, e coloco que o classificatório no humano não só é uma atividade pessoal, como o fez Carolus Linnaeus de maneira magnífica na Biologia, assim como o faço eu, mesmo aos trancos e barrancos quando vejo um inseto, e pelas suas características mais básicas, sei mais ou menos, com meus conhecimentos de Biologia do secundário a que outros insetos é certamente associado, ou o fazem hoje, com volume colossal de produção cultural, os paleontólogos, a partir de simples dentes ou mesmo de tênues manchas em ardósia.


Logo, o classificatório é nato no humano e coletivo no social e civilizatório, no passado primitivo, e se sofisticando ao futuro.

Mas o classificatório, nascido como quase uma "arte" ao tempo do sábio grego, é um problema, especialmente quando extremado, como na Biologia, e ali, quando se despreza a variável tempo, um cavalo e um Eohippus podem ao mais inculto e despreparado, até ao desatento, parecerem obviamente linhagem de animal em modificação, mas não o será tão claro que seja a modificação de um amniota primitivo de 200 milhões de anos antes.



Qual a causa de tal dificuldade?

A causa é que assim como somos aptos em classificar as coisas do mundo, e tal nos é útil e está nas bases da formação de nossa civilização e ciência, também é um vício se desmedido de nosso cérebro.

Assim, por exemplo destacado, as criacionistas é difícil aceitar que ao classificarmos um placentário como o Eomaia scansoria, do Cretáceo, contemporâneo de dinossauros, também somos um primo dele bastante (e nem tanto) modificado.

Mesmo no tempo percebemos que temos dificuldade em perceber o contínuo, e a sucessão de condições, populações e efeitos que não são estanques, mas apresentam zonas, "interfaces", difusas, qundo se percebe, como já percebi, que há pessoas que não entendem que os mamíferos foram contemporâneos dos dinossauros, e até anteriores, em diversos de seus filos passados, a eles. Acham, pois impregnados dos "aristotelismos classificatórios", que os mamíferos são obrigatoriamente posteriores aos dinossauros.

Os exemplos no campo da evolução e da história dos seres vivos podem se extender ao praticamente infinito.

Acham, com exemplo destacado para os defensores do hilemorfismo de Aristóteles (outra de suas tolices no campo científico), como a "Associação Cultural Montfort" defende.

Para quem pensa o mundo com esta forma extremada de classificatório, um touro é um touro, e só pode se manter um touro (como se só nisso já não houvesse uma tolice, pois bastaria perguntar se a definição de touro implica em ter chifres). Logo, se é um touro, só produzirá pela eternidade touros (ou vacas, não sejamos preconceituosos).

Mas o erro da Montfort, de muitos e mais que todos de Aristóteles é (foi) não saber que o que seja um ser vivo não é "UM ENTE EM SI", usando termos típicos da Filosofia pós século XIX, aos moldes do grande HEIDEGGER. Um ser vivos, assim como este computador, ou mesmo uma pedra, é um arranjo de ENTES, e não interessa estes quais forem, este arranjo é mutável, tal como se vê ao simples surgir de um sinal em nossa pele, ou mesmo, para desespero dos que acreditam nestas tolices sepultadas com pá de cal pela Filosofia já ao Renascimento, ao ver um touro preto e uma vaca preta cruzarem e nascer um touro com manchas, e pior ainda, sem chifres.

Logo, seres vivos são classificáveis, mas mudam, e afirmar ao contrário não é só apelar para um hilemorfismo insustentável ao simples conhecer de mínima citologia, sem falar em toda a Química deste DALTON e ainda mais depois da devastação que a Física Nuclear e a Mecânica Quântica fizeram mesmo em LAVOISIER.

Assim, não só a matéria se cria a partir da luz, mas também átomos de nitrogênio se transformam em carbono em nossa atmosfera, como vão fazer parte de madeira, que transformada em cinza, transforma-se por recombinação química numa vaca, para desespero dos textos quase esquizofrênicos de apenas ignorantes como os apresentados (e em tal sou sádico) por infelizes destinados à lata de lixo da história como os senhores a escrever bobagens na Montfort, travestindo-se de sábios.

Outra situação é um tanto mais sofisticada, e muito distante de ser ,como esta acima , ridícula, quando tratamos de coisas como estrelas, planetas, planetas-anões, cometas, asteróides e outros.

O que afirmamos sobre Plutão, e mesmo muito se discutiu, nada mais é que convenções de autoridades em cima dos mesmo aristotelismos classificatórios. Plutão é, e ali está, e pouco se importa (aliás, nem se importa) a natureza sobre nossas classificações, pois produz o que se menor chamamos de cometas e se muito grande passamos quando descobertos a chamar de planetas e agora de planeta-anão e se tiver-se tempo, ver-se-á fundir em novo sistema estelar, talvez predominantemente compondo uma estrela.

Ironicamente, sempre digo que Plutão é um "cometão" - aqui, um "aristotelismo classificatório" meu.

A própria Física e a Química são repletas de problemas originários destes conceitos, quando tenta-se conceituar de maneira sólida, o que seja um gás, um vapor, um líquido e em especial, e para minha ironia, um sólido. Igualmente para o que seja qualquer família de compostos químicos, e até a relutância em se entender que qualquer comportamento considerado anômalo entre substâncias, de anômalo nada tem. Anômala é nossa desgraçada mania que a natureza tem de se comportar segundo nossos padrões simplórios.

Problema ainda maior surge quando quer se discutir, ainda mais com base extamente nestes classificatórios primários, o que seja orgânico e inorgânico, o que seja bioquímico, o que seja vida e não vida, o que seja um ser vivo ou não, ou ainda o que seja um vegetal, um fungo e um animal, nos mínimos detalhes e por toda a história da vida.

Não contentes em criarmos gavetas para colocarmos nossas borboletas capturadas no bosque, ainda queremos que elas estejam nas gavetas certas nas datas do calendário e batidas exatas de nossos relógios.

Assim, desde o micro (e no realmente micro, talvez nem haja o que classificar, dado o que seja "campo" e o que possa vir a ser uma "realidade sem costura", aos moldes de Bohn), o que a natureza apresenta, e que nela e dela entendemos, seja apenas a agregação, a região de manifestação, de uma estrela, de um planeta, de um touro ou mesmo de um macaco pelado que assim os chama.

Resumindo, não somos, estamos uma agregação de entes, e talvez, nem isso.

Logo, não existe cor, existe um espectro contínuo, um arco-íris sem divisão alguma. Não existe o ultravioleta ou o infravermelho, existe a constinuidade deste espectro para um e outro lado. Não existe um raio X, existe o ultravioleta tão intenso que até na sua origem é resultante de outra região da organização em regiões da natureza, e se mais ainda, será chamado por esta outra região de manifestação da natureza de raio gama.


Assim, também não existe o "natural" ou o "artifical", pois nada do que fazemos ou produzimos ou mesmo entendemos estará separado do natural a pleno, só apenas o chamamos assim e colocamos uma fronteira que a plena e racional análise, não existe.

Mas claro que ninguém é insano de dizer que um 747 é fruto do parto de uma vaca, ou como citado muito mais elegantemente em O Despertar dos Mágicos, de Louis Pauwels e Jacques Bergier (Atenção, preciso refazer o artigo vergonhoso da Wiki urgentemente!), de chamar um ramalhete de crisântemos de hipopótamo - pois também não classificar o mundo para entendê-lo e dominá-lo dentro do limite de nosso possível é loucura, e aqui, alguns passos mesmo trôpegos do professor de Alexandre nos foram úteis.

Um comentário:

Unknown disse...

"Recuso-me a colocar como referência um texto de Olavo de Carvalho que trata deste conceito, mas não com esta exata expressão, que julgo, modestamente, que seja minha. Quem tiver estômago para o mórbido em Filosofia ou masoquismo, ou ainda sadismo para depois ler outros textos deste senhor e enchê-lo de desaforos, bom proveito."

A isto chama-se: veadagem.