sábado, 6 de março de 2010

Inteligência

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A capacidade de resolver problemas e alguns de seus problemas


Dentro de uma definição que reconheço como mais clássica, inteligência é a capacidade de resolver problemas.

Dentro desta definição, Pitágoras e Euclides, mais ainda, pelas ações nas coisas físicas, em primórdios da invenção com bases científicas e engenharia, Arquimedes e Heron de Alexandria seriam homens extremamente inteligentes, pois aplicaram a razão, na fusão de conceitos, para resolver problemas, tanto teóricos, como os dois primeiros, como de coisas práticas, como os segundos.

Mas se é inteligência a capacidade de resolver problemas, e for definido como um problema chegar-se ao poder de uma grande nação, e realizar as maiores barbáries com foco em seus desejos pessoais, Calígula, Nero (que é citado, até determinada fase de sua vida, como um excelente administrador), Cômodo e Heliogábalo foram homens extremamente inteligentes.





As Rosas de Heliogábalo, por Lawrence Alma-Tadema, 1888.




Obs.: A escolha de romanos foi apenas por foco, destaque e comodidade, não por preconceito.

Logo, por esta definição, como muitas vezes o que seja inteligente seja exatamente a resolução de um problema que impede a mais terrível das ações imorais, inteligência não implica em moralidade.

Ao longo dos últimos anos, cresceu a construção de classificações (a maldição da razão que denomino "aristotelismos classificatórios") iniciando-se, acredito, por uma classificação de sete diferentes inteligências por Howard Gardner:

Inteligência Linguística - Caracteriza-se pela grande capacidade de se expressar tanto oralmente quanto na forma escrita. Pessoas com tal tipo de inteligência possuem uma grande expressividade, também tem um alto grau de atenção, uma concentração em questões a serem enfrentadas e uma alta sensibilidade para entender pontos de vista alheios. É considerada uma inteligência fortemente relacionada ao lado esquerdo do cérebro e dita como uma das inteligências mais comuns. Lembremos: somos animais comunicantes por linguagem articulada, estruturada e complexa. Logo, ser inteligente linguisticamente foi até uma necessidade no gênero humano.

Exemplo de inteligência linguística oral, por exemplo, é o grande orador grego Demóstenes. Na escrita, poderia citar banalmente uma dúzia, mas me concentrarei em dois, pelas peculiaridades de seus casos.

Sartre é, obviamente, um exemplo de inteligência linguística. Não só se dedicou a Filosofia como também a literatura. Quando lhe foi encomendado um roteiro sobre Freud, por John Huston, após alguns meses entregou um gigantesco livro, "massa de literatura intratável pelo cinema". Após conversa amigável com John Huston, passados mais alguns meses, refez o roteiro, e o entregou... maior.


Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir em Copacabana, uma mostra que inteligências similares formam sólidos casais, e muitas vezes, com idéias comuns sobre determinados pontos da vida, como expresso na frase de Simone: A morte dele nos separou. A minha não irá nos unir.
Primeira nota: um determinado tipo de inteligência não implica em ser hábil ou adequado num outro contexto, onde os modelos de processos são diversos daqueles de seu ambiente.

Citando Og Mandino, adaptado: "Queres ver um talentoso condutor de carruagens ir a miséria? Coloca-o a plantar uvas."

Caryl Chessman foi um ladrão e estuprador, notório pela alcunha de "Red Light Bandit" (Bandido da Luz vermelha), autodidata em direito e revelou-se um capaz escritor.

Segunda nota: a área do cérebro responsável por capacidades até notáveis não implica na atividade de outras, como, por exemplo, aquelas responsáveis pela moralidade.

Inteligência Lógica - Este perfil de inteligência possibilita uma alta capacidade de memorização e um talento para lidar com matemática e lógica. Pessoas com tal tipo de inteligência tem facilidade para encontrar soluções para problemas complexos, aliada muitas vezes à capacidade de dividir estes problemas em problemas menores e os resolver rumo a uma resposta final. São pessoas consideradas por teóricos da inteligência como organizadas e disciplinadas. É citada por autores como relacionada a processamentos profundos do lado direito, mas classicamente, o raciocínio lógico é relacionado ao lado esquerdo do cérebro, e tal concorda que lógica, e matemática - que é lógica sobre axiomas - é uma linguagem.

Claro que citaria Euler, Gauss, Fermat (que inclusive era um matemático amador, não um homem de carreira na matemática).



Carl Friedrich Gauss, o "Príncipe dos Matemáticos". Não contente em ser o maior matemático do mundo em seu tempo, fez importantes descobertas em Física e até anatomia, assim como era um poliglota.

Mas também citaria Galois, precoce mas intempestivo, apressado e sem método, capaz de se meter nas mais perigosas escaramuças e tal foi a razão de sua morte.

Citaria Einstein, e sua capacidade transcendente de visualizar mentalmente comportamentos da natureza, mas igualmente e com mesma capacidade de perder tempo enorme em dedicar-se a não analisar, mas refutar com modelo contraditório o aleatório do quântico, e portanto, não dispor na verdade de uma inteligência muito bem descrita que surgirá neste texto, que permite entender-se a natureza como ela é, e não como nos tenta impor nossos raciocínios, no que posso chamar de "construção sobre nossos enganos".

Einstein foi igualmente incapaz, segundo seus próprios relatos, de construir relação estável e prazerosa com sua primeira esposa, e biógrafos não tratam sua relação posterior com muito carinho, igualmente. Mas destaquemos o que não é pessoal e íntimo, e sim o que é público: qual "QI de repolho" do planeta diria, após conhecer qualquer coisa sobre a vida de Einstein, que tenha sido "organizado"?

É relatado que certa vez perguntou, após ser interpelado por estudantes, em qual direção estava indo antes da conversa, para saber se já tinha almoçado (coisa que segidamente esquecia de fazer). Relata-se também que costumava calçar meias de cores diferentes e abotoar errado seu característicos casacos de lã.



Por outro lado, Einstein, e em especial recomendo "Como Vejo o Mundo", é um claro humanista, um moralista até ferrenho em inúmeros campos, ao ponto que personalizou o que viria a ser citado como "o sábio perfeito". Nossas noções de perfeição muitas vezes, nascem de avaliação pelo público do que sejam aspectos mais amplos, e não de relativas fidelidade conjugais ou do vestir-se elegantemente.

Evidentemente citaria Newton, perseguidor de desafetos e rivais. Stephen Hawking o trata como "uma pessoa não agradável". Provavelmente tendo morrido virgem, era incapaz, claramente, de contruir relações de amizades profundas, e lendo seus escritos de alquimia, detecto ali mostras de uma área imensa de sua mente dedicada ao que praticamente chamaria de delírio.

Recomendo, para conhecer este lado "magia negra" de Newton, a excelente coletânea:

COHEN, I. Bernard, WESTFALL, Richard S. (orgs.). Newton: textos, antecedentes, comentários. Rio de Janeiro : Contraponto. 524 p.

Uma resenha em: Dilhermando Ferreira Campos; NEWTON: TEXTOS, ANTECEDENTES E COMENTÁRIOS



Muito do comportamento de Newton e Einstein seria explicado pela Síndrome de Asperger.

Nota 3: O cérebro e sua mente é como um repolho. Algumas folhas serem atacadas por larvas não implica em o conjunto todo ser deteriorado, nem mesmo em algumas folhas serem perfeitas.

Inteligência Motora, também chamada de Física ou Cinestésico-Corporal - A inteligência de quem possui um grande talento na expressão corporal e tem uma noção perfeita do espaço, da distâncias e da profundidade. Estes indivíduos tem um controle sobre o corpo maior que o normal, sendo capazes de realizar movimentos complexos, graciosos ou então a execução de força com enorme precisão e facilidade. É a inteligência tipicamente relacionada ao cerebelo, porção do cérebro que controla os movimentos voluntários do corpo, e no planejamento do que será executado, em coordenação com o córtex. É o tipo de inteligência mais diretamente relacionada à coordenação e capacidade motora. Está presente em esportistas de esportes ditos como os mais complexos, tais como os saltos ornamentais e a ginástica artística (que prefiro continuar a chamar de olímpica), a ginástica acrobática do leste europeu e os acrobatas de circo, assim como aos lutadores de artes marciais altamente estilísticas, como o Kung Fu.

Exemplos de inteligência motora, embora ache que aqui errei em algum momento.


Um exemplo máximo de inteligência motora foi Bruce Lee, que além de um lutador e artista marcial excepcional, era graduado em Filosofia e capaz de expressar-se com extrema segurança em entrevistas. Necessariamente, não poderia ser chamado de simpático pela maioria das pessoas, mas jamais foi chamado de desagradável ou similar. Autor de diversos escritos sobre artes marciais, foi criador de toda uma nova filosofia em artes marciais, de toda uma conceituação, com fortes influências da Filosofia, com "o estilo sem estilo", o "estilo da água", que sendo fluida, é capaz de destruir o mais forte rochedo, como ele mesmo citava. Procurou quebrar com o formalismo do Kung Fu tradicional, pela obsessão das artes marciais tradicionais pelo estritismo dos movimentos.

Os diretores de cinema de ação de Hollywood chamam determinados atores de "gênios físicos". Após observarem coreografias, são capazes de em poucos dias, repetir movimentos de artes marciais, lutas de rua, montanhismo ou qualquer atividade física que seja necessária.

Não necessariamente, sabemos, conseguem se manter longe de agressões à esposas ou esposos, funcionários e serviçais, guardas de trânsito ou de manterem a si próprios longe de vícios ou de todo o tipo do que os norteamericanos chamam de "encrenca".

Entre os lutadores, poderíamos citar Cassius Clay/Muhammad Ali, "o falastrão", que além de um lutador brilhante era conhecido pela capacidade de falar em público. Em contrapartida, podemos citar o semelhante Mike Tyson, incapaz até mesmo de seguir regras básicas e óbvias do "nobre esporte".

Entre os esportistas de esportes coletivos, poderíamos citar gênios como Pelé, e suas contrapartes perturbadas como Maradona (aqui, me pouparei de links ;) ). No basquete, Michael Jordan ou "Magic" Johnson (que mesmo com sua contaminação por HIV, jamais teve a carreira, tanto dentro das quadras quanto fora, perturbadas), e Earl "The Goat" Manigault, um talento inigualável do basquete perdido em meio às drogas (filme sobre sua vida).

Nota 4: Aparentemente, nenhum tipo de inteligência implica necessariamente no que chamamos de equilíbrio, sensatez ou bom senso.

Inteligência Espacial, também chamada de Visual - Este perfil de inteligência, possibilita uma enorme facilidade para criar, imaginar e desenhar imagens em duas e três dimensões, na expressividade em artes plásticas. Seus portadores possuem uma grande capacidade de criação em geral mas principalmente tem um enorme talento para as artes gráficas, o expressar-se graficamente. Pessoas com este perfil de inteligência tem como principais características a criatividade e a sensibilidade, sendo capazes de imaginar, criar e enxergar coisas que quem não tem este tipo de inteligência desenvolvido, em geral, não consegue. E acrescento: podem existir pessoas que visualizam perfeitamente o que querem expressar, mas não o conseguem com o próprio corpo diretamente, como por exemplo, através de pincéis e cinzel, mas o conseguem como os animadores de computação gráfica, por uma ferramente indireta e apoiadora.

Há igualmente, os grandes arquitetos, que só conseguem expressar-se com suas mãos apoiadas, por um processo um tanto cartesiano, pois não possuem controle absoluto (e este é muito raro, na verdade, vide o notório caso de Giotto, e a lendária história do seu traçar de um círculo, independente dos fatos perfeitamente aceitos.)

Aqui, Leonardo Da Vinci e Miguelângelo seriam exemplos gritantes, com destaque para que Leonardo somaria a esta inteligência uma imensa capacidade em outros campos, como a inteligência lógica, o talento para a poesia (no que Miguelângelo não ficaria atrás) e música, além de uma capacidade enorme para a engenharia, um pecado de Miguelângelo, que enfrentou inclusive problemas banais por puro descuido no transporte do Davi.

Leonardo, por diversos autores do campo (com os quais concordo inteiramente), é considerado a mais complexa e abrangente inteligência da história.

Um aparte sobre Miguelângelo: já mais que comprovadamente homossexual, foi nitidamente nos seus relacionamentos um homem honesto. Mesmo sendo assediado por duas das mulheres mais ricas de seu tempo, Contessina de'Medici/Bardi e Vittoria Colonna, e comprovadamente mulheres bonitas (até para os padrões atuais), jamais cedeu a tais encantos. Seria mais ou menos, ironizando, hoje, que Fred Mercury ter jamais se interessado por Giselle Bundchen ou Megan Fox, sendo estas, filhas de Bill Gates ou Warren Buffett (num misto de riqueza com poder político de um Vladimir Putin ou Barack Obama). Não traiu sua sexualidade, nem tampouco, talvez, seus verdadeiros afetos.


Vittoria Colonna, por Sebastiano del Piombo.

Porém, os dois tinham uma peculiar característica em comum: primam nas suas biografias por terem recebido dinheiro e não cumprido trabalhos, e por pouco não conduzidos às duras leis de seu tempo sobre o que chamamos de estelionato.

Mais uma vez, a imensa inteligência, até em diversos campos, não necessariamente é ligada à moralidade, direta e inquebrantavelmente.

Stephen Hawking é um exemplo de um gigante do raciocínio lógico, que possui grande raciocínio espacial, na construção dos modelos que usa para compreender fenômenos físicos, e que nasceram inclusive de sua incapacidade de expressar-se facilmente por linguagem matemática, digamos, mais algébrica.

Inteligência Musical - É considerada um tipo raro de inteligência. Um mostra clara disso é o quanto admiramos grandes compositores e grandes músicos. Para somar este argumentos, basta lembrar que existem muito mais diretores de cinema, até entre os grandes, que os grandes compositores de trilhas sonoras. É caracterizado que os indivíduos com este perfil tem uma grande facilidade para escutar músicas ou sons em geral e identificar diferentes padrões e notas músicais. Eles conseguem ouvir e processar sons além do que a maioria das pessoas consegue, sendo capazes também de criar novas músicas e harmonias inéditas. Pessoas com este perfil é como se conseguissem “enxergar” através dos sons. Algumas pessoas tem esta inteligência tão evoluida que são capazes de aprender a tocar instrumentos musicais sozinhas. Assim como a inteligência espacial, este é um dos tipos de inteligência fortemente relacionados a criatividade.

Como exemplo máximo da inteligência musical, é mais que conveniente (e fácil) sempre citar-se Mozart, que não só foi um grande compositor, como iniciou sua carreira fantasticamente cedo, e somado ao fato de ser um compositor e regente, foi um poderoso instrumentista (coisa que outros grandes compositores, como Beethoven e Haendel, na verdade, não foram plenamente), e num caso raríssimo, indo além do que Bach foi, em dois instrumentos (ou melhor, famílias de instrumentos) de mecanicidades (em termos mais simples, a maneira como são executados) completamentes diferentes, no caso o cravo/piano e o violino.


A magnífica sequência de Amadeus, provavelmente fictícia, mas que dá muito idéia do gênio musical de Mozart: Mozart Vs Salieri.

Embora Bach e Haendel não tenham pontos significativos que desabonem suas biografias, Beethoven poderia ser muito aproximado de Newton como misógino e desagradável no tratar com outra pessoas. Possuia também histórico de não cumprir muito com acordos de trabalho. Mozart teve uma vida tumultuada financeiramente assim como um tanto desregrada. Vivaldi, mesmo tendo sido sacerdote, seria o que poderiamos classificar como um Casanova nos seus relacionamentos - este, por sua vez, um gênio a seu modo, e curiosamente, oriundo da mesma cidade. Mas entre os grandes compositores, me atrevo a dizer que o mais imoral, pela própria visão que possuia de quem o financiava, tenha sido Wagner.



Vivaldi, cá entre nós, não retratado propriamente como um sacerdote;


Camille Paglia classifica, nas entrelinhas, a inteligência musical como essencialmente masculina ("There is no female Mozart because there is no female Jack the Ripper." - "Não existe Mozart mulher porque não existe Jack, O Estripador, mulher."), no que tenho de estatisticamente concordar, no que seja composição, com ela, pois entre a quantidade significativa de grandes compositores para trilhas sonoras, por exemplo, o grande campo de trabalho para compositores, apenas um destacado é - perdão, foi - mulher, no caso Shirley Walker. Nem falemos dos compositores eruditos do passado.

Por outro lado, com a mesma capacidade de operar duas áreas de hemisférios que a própria Paglia aponta, mulheres grandes instrumentistas são conhecidas desde a antiguidade, e poderia citar o caso destacado da virtuose Clara de Wieck/Clara Schumann esposa de Robert Schumann, que ao que tudo indica, era o "homem" da casa, sendo equilibrada entre trabalhar e sustentar a família, enquanto o gênio enfrentava suas crises e a frustração de ter lesões por movimentos.

Acredito que não necessito repetir alguma nota feita acima.

Em tempo, Schumann, ao longo de seu envelhecimento, apresentou clara doença mental, inclusive, ouvindo permanentemente uma nota musical.

Inteligência Interpessoal ou Social é um tipo de inteligência ligada a capacidade natural de liderança.

E aqui, intrometo que nascem inúmeros perigos.

Os indivíduos com este perfil de inteligência são extremamente ativos e em geral causam uma grande admiração nas outras pessoas. São os lideres práticos, aqueles que chamam a responsabilidade para sí. Eles são calmos (a meu ver não necessariamente na aparência), diretos e tem uma enorme capacidade para convencer as pessoas a fazer tudo o que ele achar conveniente (ou o que percebeu como o mais coerente frente aos duros fatos, destaque-se). São capazes também de identificar as qualidades das pessoas e extrair o melhor delas organizando equipes e coordenando trabalho em conjunto.

Aqui, citarei Churchill. Tomava sopas com as mãos, bebia intensa e constantemente, somado a enormes charuros e claramente ligava o mínimo para o físico, embora como aristocrata e claramente elitista (o que lhe levava a uma notória arrogância) mantinha-se muito bem trajado.

Igualmente, era um capaz escritor, um gênio da oratória e um conhecedor profundo da língua inglesa.


Retrato de Churchill, por Graham Sutherland. Ao vê-lo, em comemoração dos seus 80 anos, odiou-o, mas em público o elogiou como "um belo exemplar de arte moderna".

Citaria Catarina, a Grande*. Após Euler ter sido retirado da corte de Frederico II, segundo consta, pois Isabel Cristina, sua esposa, afirmou que não gostaria de ter "aquele caolho" (Euler tinha uma degeneração nos olhos) em seu convívio. Catarina, prontamente tendo sabido do tratamento ao grande matemático, fez questão de destacar que faria questão de ter o "Grande Cíclope da Matemática" em meio a sua corte. Este irônico incidente dá origem as bases do que viria a ser depois uma limitada mas sólida revolução científica na Rússia.

*Ela própria, como mulher altamente capacitada, exemplo de déspota esclarecido, se enquadraria numa certa dualidade moral, pois sua vida amorosa, tudo mostra, poderia por padrões de qualquer sociedade, ser considerada um tanto criticável.

Saladino, um líder interpessal nítido, era tão moral que é citado como tal por Dante, no Inferno, e sem oposição alguma da Igreja em assim ser citado. Igualmente, Dante coloca Júlio César como tal, e como grandes traidores, na avaliação do grande escritor o pior dos pecados, Bruto e Cássio, desbalanceando Judas, o único de Jesus.

Líderes não preocupam-se com preconceitos, aparências ou status pré-estabelecidos por critérios diversos dos mais coerentes, preocupam-se com resultados globais, e muitas vezes, levam os fins como imensamente mais importantes que os meios, o que gera a infelicidade de que, neste setor do que seja inteligência, poderia se citar inúmeros dos maiores monstros da história da humanidade.

Não necessariamente, inteligência interpessoal implica em simpatias.
Também já percebi que seguidamente, argumenta-se que inteligência interpessoal implica em aparência, em estética. Nada mais errado. A atriz em destaque hoje, Megan Fox, mostra-se claramente uma beleza universal, mas tem recebido comentários de ser profundamente desagradável. Caso conhecido de mulher bonita, universalmente falando, que aliava uma enorme capacidade de agradar e se relacionar tanto com seu público como fama foi Jayne Mansfield, que além de tocar piano e violino, falava cinco línguas, foi avaliada com um QI acima da média* e tinha formação superior em artes dramáticas, contrastando com uma clássica melancólica que foi sua rival nas telas Marilyn Monroe, que, sejamos realistas, não poderia ser enquadrada como cerebralmente capacitada em coisa alguma. Para não dizerem que fui cruel, era uma cantora relativamente talentosa.

Muitas vezes, a inteligência interpessoal suplanta até deficiências de outros campos de atividades específicos. Sandra Bullock não é uma atriz considerável como brilhante, e provavelmente nunca o será. Porém, é raríssima uma entrevista com colegas de todos os sub-ramos de atividade com que trabalhou que não a elogiem como "ótima pessoa", e suas aparições públicas em poucas palavras, muitas vezes com autodepreciação, uma ferramenta instantânea de atrair simpatia, cativam plateias, mesmo de figuras de "ego tão inflado" como são os artistas de fama mundial.

Sobre autodepreciação, é a ferramenta de humor dos maiores comediantes, em especial os criadores de seus próprios personagens, como o foram Chaplin e Jerry Lewis. Sua ferramenta de humor é levar a desgraça alheia, segundo Mark Twain a única fonte de todo o humor, para si próprios. Não se esperaria jamais de um Chaplin ou de Jerry Lewis uma agressão a platéia que assistia uma recepção de um prêmio, o que sempre se pode esperar (e já se assistiu) de um Jim Carrey, embora, reconheço, tenha talento para o humor e até o drama.

*Fique bem claro que considero que testes de QI avaliam muito bem e com pecisão quem consegue responder com eficiência questões de testes de QI, que numa definição mais abrangente de capacidade cerebral, e se mostra isso claramente nesta blogagem, são muito limitados, até pseudocientíficos (vide o exemplo famoso do grande matemático Poincaré, e teve um resultado medíocre num deles, pois ficava perdido em dezenas de soluções e análises diversas do perguntado).



Muitas vezes inteligências interpessoais são complementares em líderes que entram em equilíbrio de seus campos de controle. Aqui, cito o exemplo a ser seguido do General Leslie Groves e de Oppenheimer, no Projeto Manhattan. Groves se dedicava aos recursos e atividades típicas das questões militares, como segurança. Oppenheimer se concentrou na coordenação das atividades ligadas à Ciência e Tecnologia necessárias ao objetivo do projeto. Em outras palavras, liderança não implica em controle total e completo, em centralização de toda a atividade/projeto.

Para conhecer-se um tanto desta relação, e um bocado dos dramas do Projeto Manhattan, recomendo o filme O Início do Fim (Fat Man and Little Boy) de 1989.

Como sinceramente gosto do que chamo de um ad Hitlerum "invertido", o exemplo contrário seria Hitler, que achava que era um estrategista melhor que a totalidade dos seus generais, e confundia resultados obtidos pela excelência das forças que controlava com o que seria uma suposta excelência sua.

Inteligência Intrapessoal ou Emocional é o tipo considerado mais raro de inteligência e também relacionado a liderança. Os possuiridores de inteligência interpessoal tem uma enorme facilidade em entender o que as pessoas pensam, sentem e desejam. Ao contrário dos lideres interpessoais que são ativos, os lideres intrapessoais são mais reservados, exercendo a liderança de um modo mais indireto, através do carisma e influenciando as pessoas através de idéias e não de ações.

Os maiores filósofos morais, como Sócrates (ainda que sua real existência seja discutida) enquadram-se neste território. Aristóteles, quando claramente orienta Alexandre a invadir a Pérsia, enquadra-se neste campo (somando-se aqui o fato que o grande filósofo possuia imensa capacidade em mais alguns campos, e claras deficiências em outros).

Os grandes líderes religiosos, quando tomados como personagens históricos, igualmente. Mesmo Maomé, comprovadamente analfabeto, inclui-se neste caso. Ghandi, quando quebra com um modelo de revolução pela força, também.

Porém, Mao Tse-Tung, que era nitidamente um líder reservado e intrapessoal, tanto que argumentou seguidos anos com o poder chinês para convergirem para outro caminho, seguidamente enveredou por dogmas pessoais inverossímeis e atos imorais em grande escala. Mesmo sendo um gênio na mobilização das massas (e estatisticamente, talvez o maior deles) sua vida sexual parece um completo tumulto, para se dizer o mínimo.

Freud e os grandes fundadores da psicologia e do que mais tarde viria a ser chamado de neurociência, são igualmente gênios da inteligência intrapessoal. Tanto que a perfeita análise de boa parte do que hoje sabemos que sejam os sonhos nascem de Freud analisar em seus próprios o que fossem o que chamava de "os vestígios do dia".

Assim, concluímos, por diversos casos, que tal classificação de inteligências não implica estas em serem garantias de moral.

Muito do acima foi tirado, espero educada e honestamente, de A Evolução do Conceito de Inteligência.


Posteriormente, foram acrescentados alguns tipos de inteligência, que colocarei por ordem de sobrevivência à análise.

Inteligência Naturalista ou Ambiental - A inteligência daqueles cérebros que conseguem perceber padrões e inter-relações na natureza. É a inteligência típica de Darwin, que levou ao comentário que recentemente assisti na THC, com a seguinte frase irônica, sobre outros pensadores e naturalistas de seu tempo, aproximadamente: "Como não percebemos isto antes?".

Além de um método criterioso, Darwin percebeu relações e comportamentos, processos e fenômenos claros, inclusive, com a ausência de uma noção de genética, que outros pensadores não visualizaram, e mesmo visualizando, como Wallace, não o perceberam ao mesmo nível de totalidade.

Uma percepção naturalista muitas vezes ultrapassa a dogmatização da lógica pessoal, configura-se por uma destruição de avaliações que na verdade, podem perfeitamente ser enormes erros.

O exemplo que me parece claro aqui não é da Biologia, que prima por se comportar como um campo bastante caótico e multifragmentado do conhecimento (Mayr: Biologia, Ciência Única), mas da Física. Os fundadores da Mecânica Quântica perceberam que os modelos com novos postulados, contrários à toda a história da Física, eram mais importantes que preconceitos, e que a natureza se comportava como se comporta, e não como Einstein, destacadamente entre muitos, desejava que se comportasse.

Como afirmamos acima, uma inteligência específica ou diversas combinações não implicam em bom senso, mas percebe-se que o bom senso pode nascer de um determinado tipo de inteligência.
Percebemos também, que frente aos rígidos fatos, uma inteligência naturalista pode produzir resultados cientificamente mais poderosos que uma inteligência lógico-matemática. Aliás, seguidamente alerto sobre isso, sendo o que chamaria uma de minhas "bandeiras e cruzadas intelectuais".
Surgiram definições de inteligência como a Espiritual. Sinceramente, não a vejo como diversa da Interpessoal , e aguardo que consigam com que se mostre diversa do que chamo da nuance da tenacidade, que é o que caracteriza determinadas personalidades de serem inquebrantáveis em seus princípios e "marchas" por algum fim. Igualmente discordo que seja a capacidade de lidar com "questões fundamentais da existência". Isto os filósofos, que possuem a inteligência linguística fazem, e ao que parece, muitas vezes, conduziram até populações inteiras para o erro.

Por outro lado, considero que a chamada Inteligência Prática possa ser a fusão da Motora com a Lógica e a Espacial, aliadas, por sua vez, a uma imensa força de vontade em alguns casos. Thomas Edison seria um exemplo, mais capacidade cientificamente George Washington Carver outro (com o adicional que este meu ídolo intelectual era filho de escravos e um negro em um estado - ainda mais - e país racista). Vatel, o grande mestre de cerimônias, administrador de propriedades e, mais que tudo, um dos maiores mestres da cozinha de todos os tempos, assim como inúmeros mestres em diversas "artes menores" ao longo da história, como marcineiros e produtores de diversas artes decorativas, se enquadrariam nesta útil combinação. Percebamos que é difícil separar o que seja o design de uma invenção ou de uma cadeira magistralmente feita, por exemplo, de uma escultura.



Um machado de pedra e magistrais cadeiras da marcenaria amish, exemplos da mesma útil combinação de inteligências que propiciaram a civilização.
Curiosamente, talvez esta útil combinação tenha sido a mais útil de todas, pois no nosso passado, certamente, foi muito mais útil construir machados de pedra do que olhar para as estrelas, ou ver padrões em fluxos de água num rio, ou mesmo, observar as cores de uma ave ou flor, e foi o que permitiu, até posteriormente, alguns tocarem melhores músicas em primitivas flautas, ou pintarem melhores imagens em paredes de cavernas, ou ainda, criarem os primeiros rudimentos de contabilidade.
Adiante, trataremos de opiniões que julgo perigosas, como a recente conclusão sobre pesquisa da London School of Economics, sobre a relação entre fidelidade masculina e o que seja inteligência.


Como a natureza, a inteligência tem seus espetáculos. - Marcel Proust, em Os Prazeres e os Dias.

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