sexta-feira, 2 de abril de 2010

Inteligência III

Apontamentos e divagações sobre moral

Lembro como hoje de um brutal homicídio na periferia de Porto Alegre, lá por 93 ou 94, no qual um rapaz matou a mãe e a esquertejou, visando tirar-lhe os demônios que julgava que estavam em seu corpo. Lembro dos detalhes de a polícia ter achado a genitália e útero da pobre senhora de baixo de sua cama. Lembro dos arrepios de uma então namorada lendo a notícia no jornal.

Lembranças marcantes pelo emocional são uma poderosa ferramenta de nosso cérebro para guardar memórias. Muito provavelmente, porque são uma ótima maneira de saber, por exemplo, que determinado tipo de morte de parente (no passado, da "tribo") tenham ocorrido por mexer com aquela cobra daquele padrão de cores, cutucar aquele vespeiro, comer aquela planta ou não prestar atenção quando apoiando o grupo a abater aquele grande mamífero, que nos alimentaria por dias.

Mas percebamos, que um crime de tal brutalidade, embora tenha marcado minha memória, assim como o de meus familiares, que lembram-se do caso, certamente de minha ex-namorada, não causou comoção popular, manifestação da mídia ou larga repercussão até em ser considerado como marcante na história da justiça, nem mesmo de eu lembrar se foi em qual cidade próxima de Porto Alegre, se Viamão ou Canoas.





Belo exemplar de arte relacionada a videogames, mostrando o quanto a violência - e até o seu "culto" - está presente na nossa cultura.




A lembrança (em mim e outros) é forte, mas os mecanismos inerentes a sua ocorrência são universais e desprezíveis na história humana. Aquilo que chamamos "loucos" sempre existiram. É natural, até estatisticamente, que a construção do cérebro humano, assim como a construção da mente nele operando sempre apresente erros ou natos defeitos. Assim, sempre haverá o desequilibrado... , perdão, incapaz, que por uma motivação absurda no prático (aquilo que venha a ter algum nexo com objetivo proveitoso) enfie um machado na cabeça da mãe, queime o filho ou coisas brutais similares. Mas são mecanismos no biológico completamente diferentes do leão macho, que ao dominar um novo grupo de fêmeas, trata de matar todos, e até se alimenta de alguns, os filhotes de seu antecessor. O leão via eliminar sua concorrência genética e ampliar a produtividade (pela posterior fertilidade natual das fêmeas) de sua descendência.

É um comportamento completamente diverso dos cães, que por exemplo, determinam que um enorme dinamarquês fique ao lado de um carrinho de bebê e não deixe ninguém, a não ser os "macacos pelados" conhecidos de sua "matilha", se aproximarem. O "machado na cabeça da mãe" é similar ao comportamento daquele cão que alguns já tiveram, ou todos conhecem alguém que já teve, que se avança sem mínimo motivo até em quem está lhe trocando a água desde pequeno, e a partir daí, será incontrolável e intratável, exatamente na mesma medida que o mais capaz de ser violento pit bull ou rottweiler pode comportar-se como um filhote de labrador, rastejando por uma brincadeira ou pedindo quase chorando uma coçada na enorme barriga. Não é a genética mais ampla que determina a brutalidade absurda, o ato insano. Pode ser a genética específica, o detalhe, o desencadeador do ato insano. Pode ser também o processo ao longo de anos, de inúmeras variáveis, que na verdade podem ser o que chamaríamos sem problema de um contexto histórico, que leva ao ato insano.




Mas cães são lobos, todos hoje sabemos (ou devemos saber). Mas sob certo aspecto de amadurecimento, especialmente o sexual/social, os cães genericamente não são lobos estritamente. Assim, o velho e enorme rottweiler de meu vizinho, embora treinado para ser agressivo pois cão de guarda, seguidamente tentará se comportar como um filhote, enquanto o lobo canadense do zoológico mais próximo, na primeira oportunidade, quando o tratador entrar em seu alcance, ainda mais se debilitado por um resfriado, avançará sobre ele na tentativa de dominar a "matilha". Selecionamos entre os lobos, ao longo de dezenas de milhares de anos, aqueles que mantém seu comportamento nos considerando machos alfas por mais tempo.

Contrariamente a leões e lobos, somos uma espécie que pela vantagem que nos traz a acumulação de cultura, ao encontrarmos uma criança no lixo (outro crime brutal/bárbaro) a acolhemos em nossas casas, e até entraremos em processos judiciais para tê-la sob nossa guarda. Da mesma maneira, não cortamos em pedaços os membros mais velhos e fracos de nossas famílias e com eles complementamos nosso almoço de domingo. Lá no fundo, sabemos que crianças podem vir a ser de grande valor em nossos grupos familiares/tribais/sociais, e idosos podem guardar grande experiência, e esta será também proveitosa para nossos grupos.

Tal conjunto de características de vida em sociedade nos levou a inigualável vantagem sobre os leões, sobre os lobos e até sobre animais que ao longo de milhões de anos não tiveram predador significativo, a não ser sobre suas mais frágeis crias, como os elefantes. E lembremos que os cães são ditos como nossos melhores amigos, os leões são em sua morte por caça ritual de passagem para a maturidade de diversas tribos africanas (assim como os tigres na Ásia ao que parecem não possuem vantagem alguma sobre nós) e os menores entre os humanos, os pigmeus, caçam o elefante das florestas do Congo.

Caça ao elefante no igapó Zambizi, sul da África. Fonte: Livingston - Viagens Missionárias

Expandindo para o civilizatório, como disse meu pai certa vez num discurso numa entidade beneficiente, "o que mede as mais sofisticadas sociedades é a maneira como tratam seus mais frágeis membros", o que, por outras palavras, posso traduzir para um contexto mais amplo no tempo com o paradoxo de que na sobrevivência e participação no social de deficientes físicos graves como Stephen Hawking, ou deficientes sensoriais como Helen Keller, são exatamente a base biológica de nosso sucesso. Assim, a preservação de nossos mais frágeis nos levou a domesticar os cães, matar os leões e elefantes (sem considerar as inúmeras espécies que já nos foram vítimas ao competirem conosco).

Nossa preservação dos mais frágeis e mais velhos nos levou ao mesmo estado básico de vanatagem em relação à inúmeras outras espécies que possuem as formigas e as abelhas, e outros insetos sociais. Não somos geniais individualmente, nem muito menos imensamente aptos com força, garras, dentes e carapaças. Mas na união de nossas fraquezas, nos comportamos como uma imensa massa inteligente, muito mais capaz que cada um dos componentes, e maior, na verdade, que a soma das forças e aptidões individuais. Guarde este último argumento, e se não concorda com ele por uma lógica aparentemente no momento sólida, verá que meu argumento é muito mais sólido, e será cristalinamente apresentado.

Voltando aos crimes brutais, percebemos claramente que nossa sociedade considera o crime insano (o esquartejar a mãe por delírio místico) como uma lástima, e seu autor mais digno de pena pois claramente um doente. Já os crimes brutais, covardes, desmedido em relação ao que os motivou, execráveis e repulsivos, e seus autores são perseguidos até no meio dos criminosos.

Todos sabem que os apenados não toleram assassinos de crianças, estrupadores e assassinos de familiares sem uma "muito boa justificativa". Por outro lado, tribalmente, respeitam os assassinos de policiais (os membros da "tribo rival") e garanto, amigo leitor, que se você for sincero, tem alguma admiração pelos grandes ladrões, os gênios do crime não violento, que assiste em inúmeros filmes sobre grandes roubos. Explico: temos ainda uma certa dificuldade em nossos cérebros de lidar com aquilo que seja propriedade. Até, pelo simples fato, diferentemente de diversos primatas, carnívoros e alguns marsupiais, e até dos elefantes, somos animais manipuladores (somados aos "proboscidemanipuladores", se me permitem um irônico neologismo), mas também somos animais apreendedores, apreendemos e passamos a possuir e portar objetos. Tanto que medimos muito de nossa riqueza pelo número de bens em nossas casas, e mesmo o número de casas, e dificilmente, consideraremos um grande escritor ou pintor como ricos pelo número de obras que produziu, e sim, pelo palácio em que chegou a morar com tal produção. Logo, nosso cérebro nos leva a apreender coisas, muitas vezes à cobiçá-las, até a roubá-las e inclusive, achar este roubar algo um tanto relativo.

Pigmeus e seus objetos (http://www.anthropology.ac.uk/)


Por este motivo, a população tende a aceitar o político corrupto, esquecer seus pecados passados e reelegê-lo, mas jamais aceitará morando em sua vizinhança um pedófilo, muitíssimo menos um estuprador e de maneira nenhuma perdoará um assassino de um crime brutal.

Pelos mesmo mecanismos, eu, um engenheiro, como seguidamente discuti com amigos de diversas profissões, se por um motivo ou outro for condenado à prisão, por um crime não brutal e dentro dos padrões repulsivos citado anteriormente, serei entre os presos "o doutor", e se me comportar dentro de determinados padrões de respeito à sua hierarquia, não serei perseguido (não pelos motivos de repulsa), mas o vizinho de um parente deles, se estuprador, terá de ser mantido no que chamam em São Paulo de "seguro", pois sempre estará na beira do abismo de ser executado por simples profilaxia, dentro daquilo que apenados, como vimos por um motivo biológico e nas bases de nossa evolução social, consideram intolerável.

Mas o conhecimento, tanto dos menos favorecidos fisicamente, e até deficientes, quanto dos velhos, sempre nos foi útil, e lembrando e reforçando o que citei acima, uma pessoa com bons conhecimentos sobre produtos químicos, solventes, explosivos pode ser sempre útil, por isso que um engenheiro químico pode ser muito útil a criminosos (e poderíamos adaptar as aptidões a diversas outras formações profissionais) e pela mesma raíz de motivos, nascente lá nos nossos primeiros agrupamentos, os estrupradores, por exemplo, não são. Sou tão útil a um grupo de criminosos quanto foi o hábil velhinho manco confeccionador de boas lanças, mantido sustentado por todos da tribo em sua palhoça. Há muito nossa espécie já descobriu que scientia potentia est.
Pontas de flechas em pedra cuidadosamente feitas e "aquele famoso físico", mostras de um mesmo fenômeno que é possível pela evolução humana.


Somando, na sociedade, nosso comportamento caçador de 200 mil anos evidencia-se em alguns grupos claros: os policiais, os grupos de combate das forças armadas, as quadrilhas de assaltantes de alto nível, como os assaltantes de carros-forte e bancos e os esportistas de esportes coletivos. Estes grupos guardam características de mútuo apoio, lealdade, agressividade focada e uma certa "dicotomia moral" - como digo e adiante explicarei - que nasce nos grupos de "machos punidores" que se estabelecem já nos chimpanzés, e na nossa espécie, se aperfeiçoaram nos grupos de machos caçadores, e das fêmeas agrupadas em coleta, cuidando de seus filhos, onde está muito das bases de nossa vida social, e desta o que chamamos de civilização.

Muito de nossa civilização se deve a corajosos caçadores primatas que aventuraram-se a atravessar mares, oceanos, desertos e montanhas, e posteriormente, a pisar na Lua. Muito das nossas maiores realizações civilizatórias se devem aquilo que entre esportistas diz-se "viciados em adrenalina". O que levou povos originalmente africanos a atravessar mares e colonizar continentes é exatamente o mesmo mecanismo que nos leva a nos fins de semana saltar de paraquedas, a enfrentar ondas gigantes, etc.

Este tipo de comportamente impetuoso, podemos dizer, nos levou de pacatos macacos das planícies africanas à almejar altos vôos, mas também nos relegou um determinado lado sombrio. É exatamente o egoísmo de cobiçar uma bela tela do valor de milhões, e admirar o ladrão dos filmes que a rouba de maneira brilhante, que nos leva a para proteger nosso nome, ou imagem pessoal, a partir de um pequeno erro doméstico, a nos colocar em uma marcha que levará a atirarmos (e tal não mais se deve discutir) uma filha pela janela, piorando (até porque não fomos muito inteligentes em achar uma saída mais viável e menos nociva) a nossa própria imagem e situação.

Exatamente este lado sombrio que leva por ciúme doentio um homem com boa formação e situação social a balear covardemente sua namorada, ou a um empresário ao se sentir ofendido pelo adultério da esposa a matá-la (que pelo próprio ato poderia ser simplesmente desprezada e abandonada) - citando dois casos policiais também famosos da história brasileira. É o apego a nosso EU que nos leva, muitas vezes, a este lado sombrio, que mais lembra o dos chimpanzés e babuínos quando matam seus semelhantes por simples posição social no grupo, a nossos atos mais brutais, e que não são, propriamente, insanos.

Mas nosso cérebro é mais traiçoeiro que o que apresentei até agora. O nosso cérebro, quando no Homo habilis passou 1 milhão de anos apenas fazendo um único e pouco variado machado de pedra, que nem mesmo poderia ser chamado de um machado, e sim, uma pedra "razoavelmente agradável de segurar e com uma lado minimamente afiado". Ou seja: não tínhamos como fazer, com nossos então cérebros, mais que isso. Já os homens de Neandertal, nossos parentes extremamente próximos, com cérebro significativo (até maior que o nosso), com os mesmo dedos que eu, e até mais aptidão ao ambiente (certamente, com um mínimo de peles, resistiam a um frio que nenhum povo siberiano ou os chamados - até erroneamente - esquimós resistiriam) conseguiram, ao longo de quase 300 mil anos construir uma mínima cidade.

Já nossos antepassados diretos, por 200 mil anos, não conseguiram mais que erguer palhoças, tendas de peles e fazer mais que lanças de chifre e roupas de peles costuradas com agulhas de ossos, somados a quanto muito, uns mil objetos variados, e igualmente, nada que seja parecido com nossas mais antigas cidades. Mas o motivo não é cerebral.

Tanto o motivo para esta estagnação não é cerebral que qualquer neurocientista dirá, que se uma criança de 100 mil anos atrás, habitando os lagos do Oriente Médio, fosse educada desde a primeira infância nas mesmas escolas de seus filhos, poderia perfeitamente ser um indivíduo mais capaz que qualquer um de seus próprios filhos. A base cerebral já estava ali, mas faltava alguma coisa.

"Machado" de habilis e pontas de lanças de neanderthalensis e do 'Povo de Clovis', já um sapiens.

Por outro lado, há aproximadamente 10 mil anos, de pequenos agrupamentos passamos a cidades, de cidades a estados, e nestes estados, de trapos ao redor da cintura a finas jóias, a muralhas, pirâmides e medições matemáticas das dimensões do planeta.

Nota: Percebamos que esta evolução da civilização não foi de modo algum homogênea, pois embora com questões pontuais superiores às européias (Astronomia e cálculo aritmético, por exemplo), não podemos comparar, e a história assim o prova, a capacidade em diversos campos das civilizações americanas pré-colombianas com os colonizadores. E podemos comparar, claramente para nossos objetivos, os sacrifícios humanos rituais para se obter chuva com a religiosidade euroéia, ainda que destacada nela a Inquisição Espanhola. O processo civilizatório, como humano que é, possui muito do estocástico que caracteriza o biológico que é o humano.

Mas se não houve aumento da massa cerebral nem de sua estrutura, o que causou tal processo de aceleração?

Lembremo-nos que prometi um argumento cristalino. Pensemos, primeiro, num meio de troca de informação atual, relativamente formal como a Wikipédia. Eu posso não saber tudo, aliás, nem uma parcela significativa, de qualquer assunto, mesmo naqueles que tenha formação acadêmica e uma certa experiência. Por outro lado, com base num texto de um autor da Wiki em inglês, como traduzo inglês técnico, posso passá-la para o português, e por um simples acaso, posso saber de um detalhe que ali se acrescente, aumentando o conhecimento coletivo entre eu e este suposto e modelar "autor anglo-saxão". Pois bem, agora, eu e este autor temos, coletivamente e a disposição, um conhecimento maior que o nosso individualmente. Mas percebamos que o conhecimento ainda é a soma dos nossos (desprezando que parte do conhecimento seja superior a nossa memória ou colocação eficiente do conhecimento quando necessário sem substrato de armazenamento algum - em outras palavras e exemplarmente, não psso apresentar uma palestra sobre extração líquido-líquido sem ler alguma coisa - mas esqueçamos este detalhe para chegar ao meu argumento.

Em paralelo a nós, um derminado autor em espanhol (digamos) desenvolveu um artigo sobre uma construção em física-teórica aplicada e aplicável à extração líquido-líquido, que é a lei da partição de Nernst que é superior neste ponto a tanto o modelar autor em inglês quanto o pobre "luso" que vos escreve. Ainda não temos algo que seja superior a soma dos três pobres autores em esforço de se somarem. Mas neste momento, por um detalhe de meu passado (lembremos dos velhinhos que não matamos) pesquiso um pequeno artigo sobre absorção de um corante (assunto que muito tempo atrás estudei) que é tratado pela lei da partição de Nernst e que guarda relação com extração líquido-líquido e resultará em questões de tratamento de efluentes.
Este acréscimo pequeno, que chamaremos numa maneira matemática de dC, um diferencial, um acréscimo infinitesimal de conhecimento, que embora não seja novo "para mim", não seja novo para o grupo anglo-hispânico-lusófono que está construindo uma teorização sobre extração líquido-líquido na Wikipédia, é novo "no autor" do artigo, no caso, os pesquisadores Mariana Mori, Ricardo J. Cassella, causará uma flexão da curva do conhecimento adquirido e construído.

Ou seja: iniciou-se, aqui "localmente no tempo", uma aceleração do conhecimento possuído.

Retornando a determinado grupo nômade no sul do Nilo, pode ter sido por um processo similar que lanças de pontas de chifre foram substituídas por pontas de cobre, e a metalurgia deste cobre recebeu detalhes de tratamento com cinzas de determinada árvore, e de acréscimo em acréscimo de informação obtida e memorizada no coletivo, ergueram-se pirâmides e mediu-se matematicamente o diâmetro da Terra.

Matematicamente, quando o crescimento se soma entre pessoas que possuam suas parcelas, ele cresce aritmeticamente. Quando se multiplica neste aritmético por uma população em crescimento (a população humana na época das grandes pirâmides do Egito não passava de 35 milhões de habitantes, menos que o estado de São Paulo e menos que a aglomeração humana que é hoje Tóquio ). Disto, o crescimento acrescivo apenas pelo conhecimento individual recebeu aceleração pelo aumento dos indivíduos. Mas os indivíduos, trocam informação, e com ela, por mecanismos que na verdade são lógicos (e estes, linguísticos), controem novas combinações de conhecimento, como vimos no meu pessoal exemplo, e combinatória dispõe de um fator fatorial de expansão (parece um pleonasmo, mas não é), e como aprendi lá em Cálculo I, no básico da minha faculdade de engenharia, nenhuma progressão cresce mais rápido que a fatorial. Por este motivo, quando, mesmo sem cérebros crescentes, a humanidade atingiu uma determinada "massa cerebral crítica", o conhecimento "explodiu", e agora, com mais meios das combinações de conhecimento poderem ser feitas, com mais meios de serem trocadas, armazenadas e combinadas coletivamente, se acelera , rumo à "singularidade" , principalmente propulsionada (e aqui diria sinergizada e acelerada) pela lei de Moore, que repetidas vezes trato.

Mas apesar desta aceleração, os monstros que estão guardados nas profundezas do sistema mente/cérebro humano não encontram correspondente aumento, melhoria nem expansão, nem mesmo, um interno entender nem de si, nem do mundo, correlato a este crescimento e sofisticação coletiva.

Um exemplo é que o mesmo impulso que nos levava no passado a admirar aquela fêmea de quadris próprios para a reprodução, ou aquela fêmea jovem apta pela idade à reprodução (e nada mais que isto), é o mesmo impulso que leva homens da minha idade (44 anos) a seduzirem (num nível digamos mais afetuoso e no fundo sincero e honesto, ainda que distorcido dos valores aceitos pela sociedade universalmente), a manterem relações à força (num nível mais animalesco) ou mesmo, no extremo da perversidade, depois de se satisfazerem, e as vezes antes - desculpe, mas é impossível tratar este tema sem ser desagradável - quando os mecanismos morais do cérebro são completamente deformados/incapazes. Embora não goste de graduações simplistas e monodimensionais para tratar o humano, acredito que com estes três parâmetros de larga faixa, abordei todos os casos ainda que de modo excessivamente abrangente e superficial.

Abordando esta questão por outro flanco, como sempre encontro até nos meus textos o tema em Filosofia que hoje me atrai, que é o paradoxo sorites levado à falácia, percebamos que ao Mao Tse-Tung teve um romance com uma menina (note o meu termo) de 12 anos, o que era perfeitamente aceito pela sociedade chinesa de então, Maria Antonieta casou-se "sob a benção da igreja" aos 14.

Mas ninguém sem passar por pesada discussão pode dizer que um homem de 44 anos ter atração por uma menina de 10 anos seja moralmente aceitável, assim como também não 'naturalmente' aceitável.


Lolita, clássico sobre o tema pedofilia, e Ava Gardner, que chegou a ser chamada, elogiosamente, de "o animal mais belo do mundo". Ao demonstrar atração pela adulta, você será não será motivo de repulsa alguma, mas terá de pensar muito bem no que dizer sobre a primeira.



Portanto, a questão é um tanto a mais que o valor idade (e aqui sorites, pois 12 é igual a apenas 10+2 anos), mas um contexto socialmente aceitavel, pois biologicamente construído, pois necessário à própria sobrevivência da humanidade, desde os seus mais primitivos grupos, pois o estupro de meninas biologicamente improdutivas para a reprodução era danoso a espécie. Lamento se o texto é desagradável, mas a questão é fundamentalmente esta, e por isto mesmo, sobre tal construção de princípios/instintos humanos, construímos as leis, e mesmo com tolerâncias sociais de 12~14 anos, por exemplo acima, não toleramos significativamente menos, mesmo com o rigorismo de 2 anos, e no passado (e nem tanto, vide o mundo muçulmano), determinamos apenas pela primeira menstruação (a capacidade comprovada - a priori - de reprodução) o que seja pedofilia e o que seja um casamento - num sentido mais específico ao meu caso da definição de pedofilia.

Por um motivo similar, o mesmo para a pedofilia homossexual, que não guarda relação com a reprodução e sim com a capacidade do grupo com um todo de se reproduzir e possuir liberdades, o que fez no passado, por exemplo, peculiares comportamentos sexuais, como os bem descritos em O Banquete , de uma "homossexualidade afeminada" masculina não ser bem aceita pelos gregos (espero que os termos marquem o que quero expressar), mas uma "homossexualidade viril" masculina a ser aceita e até, como consta nos discursos nesta obra, dever ser estimulada entre soldados gregos.



Citando soldados e lembrando dos grupos de combate e policiais que citei anteriormente, o cérebro humano, por sua posição diria esquizofrênica entre um comportamento afetuoso de bonobo e agressivo de chimpanzé, permite que apresente determinadas, com digo e já citei, "dicotomias morais". Um policial de grupo de ações táticas, notoriamente, são indivíduos que quando no cumprimento do dever, não titubeiam em disparar estourando a cabeça de um criminoso. Embora este ato pareça natural na vida humana, não é. Uma prova disto, foram os levantamentos feitos pelas forças armadas estadunidenses na 2a Guerra Mundial, quando se percebeu que soldados no Pacífico seguidamente titubiavam em atirar em seus inimigos. Desta constatação, desenvolveu-se procedimentos, técnicas de treinamento visando quebrar tais bloqueios morais (prejudiciais no caso). Estes métodos, incluindo uma certa "anulação do eu", na verdade são uma recuperação dos métodos que os samurais conheciam há séculos, os romanos conheciam igualmente e que são, de certa maneira, o fazer surgir o nosso "lado mais chimpanzé". Exatamente este lado fazia os soldados romanos lendariamente "matarem até os animais domésticos" e os soldados japoneses terem enterrado vivas mulheres e crianças na China, deixando-se filmar pisando em cima da terra.

Claro que pela eficiência típica desenvolvida pelo homem durante o produtivo e brutal século XX, conseguiu-se o pretendido, mas exatamente este sucesso levou soldados estadunidenses a fazerem colares de orelhas na Guerra do Vietnã. Para entender o que seja exatamente este método, assista a primeira metade de Nascido para Matar (Full Metal Jacket, 1987), de Stanley Kubrick.

Entendamos que exatamente o que faz um soldado entrar numa vila e matar mulheres, velhos e crianças em pleno século XX é o que pode fazer, no caso de uma filha ou irmã sua estar nos braços de um assaltante com uma arma na cabeça, ser salva. A capacidade de separar ações ditas morais e não morais, conforme o caso e necessidade, é também uma das razões de nosso sucesso como espécie e seu processo civilizatório.

Um retorno deste procedimento mental é o que faz, por exemplo que me é também marcante, um policial experiente, ao chegar a uma casa, ser incapaz por puro nervosismo de libertar uma menina que estava sendo torturada, exatamente porque seu cérebro é perfeitamente normal, embora garanto que noutra situação, seria plenamente capaz de ter "estourado os miolos" de um assaltante e aguardar, sem o menor tremor, tomando uma água mineral, a perícia, no local do crime. O mesmo conjunto complexo de mecanismos cerebrais, por um caminho transverso, é que levou a uma mulher adulta, de relativamente boa situação social, com todos os recursos materiais, a torturar a menina em questão.

Você pode achar que não se encaixa nos casos acima, leitor, mas assim como a esposa grávida de um conhecido, que ao ver um assaltante dentro de seu quarto, avançou sobre este armada com uma tesoura de unhas e o feriu com alguma gravidade no rosto, pode ter certeza que também como eu, quando esbarrei por absoluto descuido (e porque filhotes humanos são animais bastante perigosos, principalmente para si mesmos) num shopping, mesmo não sendo nada nem de perto grave, passei minutos transtornado e tremendo - e tenha certeza, por determinados fatos no meu passado, e até avaliações, teria sido muito apto em não titubear em atirar se fosse um policial. Somos animais muito peculiares nestas dualidades, nestas ambiguidades de atos, e nossos mecanicismos cerebrais mais profundos ditam muito de nosso comportamento no dia a dia e pela vida toda. Aqui, concordo mais uma vez com Freud, quando percebo que o indivíduo normal não é o que se comporta passivamente como uma ovelha a caminho do matadouro, mas também não é o que permanentemente se comporta como um predador enfurecido. A normalidade estaria no meio termo entre estas duas tendências, "Eros e Tanatos".

Um grupo SWAT e um sniper, respectivamente, a ação do cérebro humano na formação de grupo de caçadores e da anulação de determinados bloqueios morais.


O nosso compostamento "moralmente dual" é o que faz adolescentes serem cruéis, e termos de, em avanço sobre o cruel método de aprendizado e amadurecimento da elite espartana a chegarmos a moderna educação de mútuo respeito e tolerância, mas não conseguindo de todo eliminar o que seja o que está em voga tratar como bullying (o qual, com infância fisicamente frágil e inteligência precoce, agradeço com todo o coração por ter, felizmente, paradoxalmente moldado muito do meu caráter e iniciativa - tive minha vivência espartana), que pode ir desde os primatas pelados judiarem por rituais até relativamente suadáveis dos "batizados" de esportistas iniciantes, até pintar com tinta moradores de rua , e em casos mais desmedidos (similares ao bater mesmo muito numa criança, até o desmaio ou quase morte, e confundir isto com a gravidade de matá-la) de queimá-los (aqui, dado o número, melhor não citar notícia específica, e sim uma pesquisa no Google).

Por estas e por outras, e talvez muitas mais, que concordo com meu amigo advogado criminalista, que pouparei o nome, que o senhor Alexandre Nardoni, na verdade, é inimputável, e deve ser, pela própria incapacidade de medir seus atos, tratado, muito provavelmente pela vida toda. Mas esta é uma opinião minha, sustentada pelos argumentos deste amigo, completados pelas minhas avaliações, e como se diz no popular, "cada cabeça, uma sentença".

Uma pausa: Voltando aos pedófilos, recentemente tive contato com determinado livro sobre pedofilia. Claramente, ele comete o mesmo erro - na verdade, uma simplificação exagerada - que o pai da sexologia moderna, Alfred Kinsey, cometeu ao tratar a sexualidade humana, ao criar uma graduação monolinear sobre o comportamento sexual humano entre o heterossexual e o homossexual, a dita "escala de Kinsey".

Não podemos afirmar que todo o pedófilo tenderá à agressão e a imposição pela força de seus desejos. Pedófilos em si não são estupradores (assim como obviamente, o inverso, existem perfeitamente estupradores que são incapazes de atacar meninas, assim como obviamente, existem estupradores completamente heterossexuais assim como pedófilos completamente homossexuais e jamais estrupadores, etc). Ao invés de tentar continuar citando exemplos de combinações para sustentar o que acredito que já se tornou óbvio, abordagens como as da escala de Kinsey para tratar o humano são úteis num primeiro momento, mas percebamos que o humano é muito mais dimensional que uma inclinação num gráfico bidimensional, como vimos ao longo destes agora já três artigos, e deve ser tratado com muitas dimensões de graduações e fragmentações de casos, e como gosto de dizer, o mundo não é tratável por tons de cinza entre o preto e o branco, mas além de inúmeras cores, até por tons sonoros somados as cores, e qualquer tratamento cartesiano simplório ao humano está destinado ao desastre.

Nota 1: A própria grade de orientação sexual de Klein , já bidimensional, mostra-se rapidamente limitada. Por este motivo, considero também que graduações entre o que seja um psicopata, um criminoso e uma pessoa que cometeu graves erros momentâneos e nunca mais cometíveis, assim como qualquer graduação dentre estas já minhas impostas classificações perigosas, ainda mais quando levadas como científicas para o campo do direito. Por estas e por outras, que um caminho difuso e multiramificado, dentro do que minha ignorância e momentânea, e talvez permanente, incapacidade de me aprofundar determinou, acredito que apenas uma lógica deôntica possa ser válida no tratamento das "coisas morais".

Por este conjunto de motivos, o impedir fisicamente além do interditar/apenar/prender/etc do nosso moderno direito me parecem morais sem discussão, e os modelos de condicionamento, como os brilhantemente mostrados em (A) Laranja Mecânica (livro e filme , coincidentemente, também de Stanley Kubrick) são discutíveis, assim como julgo que a "castração química" para pedófilos e estupradores também o seja.

Nota 2: Em aula de medicina ligada à atividade industrial em petróleo, fiquei a par que determinado bairro da região metropolitana de Campinas possui um dos mais altos índices de agressões de maridos à esposas grávidas do Brasil. Propus a professora que o mecanismo talvez seja a reação do macho primata caçador a ter mais uma cria para sustentar. Após alguns segundos de silêncio pensativo e olhar fixo, percebi a típica reação humana dos 'olhos brilharem' e aquela frase aproximadamente "é, pode ser isso...". Posso estar redondamente enganado, mas muito de nosso recente crescimento de agressividade nos centros urbanos se deve a um mecanismo profundo quando do excesso de população em confinamento, que já se evidencia marcantemente nos nossos parentes roedores.

Voltando a escala humana e suas leis, por outro lado, como sou um primata pelado típico, com minhas contradições, defendo que a pena de morte, o aprisionamento perpétuo, a internação vitalícia, a própria castração química e até o condicionamento sejam necessários social e civilizatoriamente.

Perceberam meu dilema? (Que acredito que não seja só meu.)

Soldados soviéticos em combate e soldados da SS num gueto. Os dois grupos realizaram atos brutais em larga escala. Mas os primeiros estavam num contexto de moralidade, os segundos não. Os dilemas que derrubam uma generalização dos argumentos morais de Kant não poderiam achar exemplos mais estatísticos.


A vida não é feita de flores (e como vimos para nossa história felizmente), e como o próprio Kant percebeu, não matar é um universal, mas exatamente impedir que sua sofisticada e civilizada pátria, anos mais tarde, cometesse os piores atos da história da humanidade, necessitou de um matar absolutamente moral, pois necessário, para a própria sobrevivência da humanidade com um todo.

Ninguém no humano ultrapassa o humano, nem em ter de ser, até por necessidade, o primata perigoso que sempre foi.

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