segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A Origem (VI)

...de muitos erros

Como minha mente é humana e falha (quando não muito), caro leitor, jurava que com esta blogagem esgotaria o assunto e faria um texto que não tendesse ao intratável pela nossa atual convergência para uma leitura rápida, mas tal, nitidamente, foi um engano, então...

Parte (I)

Um sonho dentro de um sonho

Parte (II)

A velocidade de operação da mente

Parte (III)

Era vermelho meu Jeep de lata?

Parte (IV)

Existe um totem confiável?

Intersectam-se nossos mundos/sonhos com outros mundos/sonhos?

Parte (V)

É confiável o mundo/sonho em que vivemos?

A instabilidade e falibilidade da mente humana




Iniciando, por alguns erros menores, em meio ao fragmentado caminho que estamos, suadamente, trilhando...






O erro de Aristóteles

Não, amigo leitor, não seria o de considerar que a sede da mente humana é o coração. Este erro, grotesco, foi corrigido até pelos seus contemporâneos.

O erro maior em termos de efeitos sobre o pensar humano sobre o que seja a mente, daquele filósofo amplo de pensares em muitos campos mas carregado de graves equívocos, e que nos legou séculos de um tratar a mente falsamente foi o de pensá-la como um processamento lógico perfeito, uma máquina linguística isenta de erros nos processos, apenas volta e meia, um tanto mal informada, que processaria todos os dados do mundo em passos estritos e perfeitos, e por tabela, idêntica em natureza, ainda que seguidamente equivocando-se, a um pensador maior, ainda mais perfeito, aquele fantasmão indetectável de sempre, que pensa o mundo e lhe dá coerência.

Coerência esta como aquela que pelo menos julgam os que não leram Hume, e diversos outros - e não se deram conta ainda de seus erros, hoje já antigos. Erros estes que exatamente por ocorrerem, já mostram que o mundo não é a ordem que julgamos em nossa infantil análise do que seja a natureza.

A mente humana seria, para o mestre de Alexandre, o que poderíamos hoje definir como “uma máquina linguística”. Se acrescentássemos ao linguístico o banalmente perceptível detalhe que ao menor porre, nos tornamos um vomitar de outros impulsos, que não nasceram de forma nenhuma de construções linguísticas, mas de um porão onde a mente guarda sabe-se lá que número de ideias presas, tal qual a Mal de Cobb, até conseguiríamos ter uma imagem materialista da mente. Mas limitá-la como fez Aristóteles, levou-nos a não confiáveis caminhos, incluindo um labirinto de bloqueios à ideia de que sejamos até racionalmente, mentalmente, um sistema químico emergente que visa modelar e prever o mundo e mais que tudo, sobreviver.









Independente disso, já abordei outras vezes que o que seja a Lógica, como campo formal, há muito superou a rigidez e a limitação aristotélica. Sobreviveu que, para questões limitadas e triviais, a lógica aristotélica continua sendo uma forma segura de pensar, mas basta ficarmos diantes de situações do subatômico, ou do direito e da moral no nosso macroscópico e humano dia a dia, para novamente termos de adotar formas mais “fluidas” de analisar o mundo e pensar.

E aqui, a maquininha confusa, cheia de impulsos de macaco pelado, de mamífero faminto e até de réptil (sic, amniota) sedento por sexo, como acertou na mosca um determinado barbudinho austríaco fumador de charutos, ou ainda um peixe muito do serelepe tentando continuar respirando, para não só Cobb trancafiar mais meia dúzia de Mals em seus porões, mas até, libertar a prisão inteira em rebelião.






O erro de Descartes

Os "impulsos por espíritos animais", de Descartes, uma explicação "hidráulica" para os sentidos.
(Exorcizing animal spirits - scienceblogs.com)

Piorando nossa situação de entender a mente humana, tanto no como funciona como também como relaciona-se onde realmente habita, muito influenciou o homem médio contemporâneo Descartes, seguindo o dualismo de Platão: a mente e o que quer onde habite - já preferencialmente o cérebro - são distintas. Uma existe transcendentalmente à biológica estrutura, e mais uma vez, tem uma natureza imaterial “em si”, e apenas relaciona-se com o aparato que a faz ter contato e até operar com o mundo.



O raciocínio de Descartes é tão enfático nesta questão que conduziu-nos, e até hoje muitos, como sempre digo, confundindo história da Filosofia com as conclusões mais sólidas dela, que o simples pensar leva à conclusão inequívoca que um ente único, indissolúvel, que é o ser que pensa, existe: cogito ergo sum.



Sim, o ser que pensa, manifesta-se em algo que podemos afirmar - e definir, aqui já um problema - como sendo aquilo que chamamos o que pensa, mas primeiramente, não podemos afirmar que seja indissolúvel, nem mesmo, único, muito menos transcendente à matéria, pois mesmo os mais equilibrados de nós seguidamente ouvem vozes internas, até com vozes de outros, de regiões de seu cérebro um tanto agitadas no momento, e produzindo até as melhores ideias de suas agregações de células (aquela coisa um tanto difusa que somos). Igualmente,quando dormimos, parte de nossas, aqui diremos mentes, evidentemente trabalham em problemas que enfrentamos, e já acordamos com as soluções. Dentro de nossos iguais mais normais, muitos de nós mesmos habitam, e convivem em perfeito equilíbrio, e se manifestam, adequadamente, quando nos irritamos, temos de enfrentar perigos, frustrações, perdas familiares, etc.

Se a parte mais ligada à Filosofia do parágrafo acima não ficou clara, noutra abordagem da questão, não podemos nem mesmo afirmar que esta talvez região da natureza que pensa não esteja na ilusão típica de ser um processamento da Matrix ou exótica ocorrência num sonho de alguém ou algo, inclusive, "de Brahma" ou mesmo do "Unicórnio Rosa Invisível" - aqui, até pela ironia se chega a construir um argumento para colapsar "certezas metafísicas". Embora tais conjecturas não seja científicamente úteis, não podem ser filosoficamente descartadas nem logicamente refutadas, e firme e sólido se mantém o solipsismo, que toma tudo que nos pareça sólido, desmancha naquilo que julgamos, confiavelmente, ser o ar. (Perdão, Marx e Engels, minha instável mente me levou à copiá-los, e o porquê, tratarei na próxima blogagem, se o dominante acaso do mundo o permitir.)

Certamente, quando estes nossos “eus” começam a não se entender muito bem, como vemos nos esquizofrênicos e nos psicopatas dissociativos, não os enquadramos nos nossos “normais”.

Para questões mais profundas de porque mesmo no pensar o cogito ergo sum de Descartes não nos dá nem a "garantia metafísica" (em Filosofia contemporânea, uma contradição em termos) de uma existência, na totalidade da definição do termo, recomendo o link do criticismo abaixo. O solipsismo, num nível mais profundo, e de tratamento mais elevado, continua inquebrantável, e relaciona-se com profundas considerações da Filosofia da Ciência. Ainda que pensemos, e seja óbvio que fazemos aquilo que é pensar, não podemos afirmar que não estejamos na realidade virtual de um Arquiteto de matrix, ou no sonho sabe-se do que nem de quem, como Cobb e seus companheiros. Como disse, no abismo onde caímos, com toda nossa vã filosofia, nunca mais sairemos.




Criticismo ao “cogito ergo sum”
http://en.wikipedia.org/wiki/Cogito_ergo_sum#Criticism

António Damásio; O Erro de Descartes


http://www.europa-america.pt/product_info.php?products_id=604

(Com um pouco de procura, o leitor encontrará este livro na íntegra na Internet, mas por motivo de mínima honestidade, não poderei colocar nenhum link desta natureza aqui.)


 
Ramon M. Cosenza; Espíritos, Cérebros e Mentes.
A Evolução Histórica dos Conceitos Sobre a Mente


http://www.cerebromente.org.br/n16/history/mind-history.html


Dra. Silvia Helena; O Que É Mente?

http://www.cerebromente.org.br/n04/editori4.htm




O erro de Locke, a falácia da tabula rasa


Mais esboços de um pensar sobre a mente e o cérebro conforme Descartes.

A mente humana não é uma carga que se coloca num mecanismo vazio e desprovido de “princípios primeiros”. O mecanicismo que é o cérebro possui comportamentos que são oriundos de sua própria configuração física, como as lesões cerebrais, como o notório caso de Phineas Gage.

Reconstituição do desafortunado, e para nossa científica felicidade, Phineas Gage.



Somos fruto inclusive de nossos mais primitivos reflexos, mesmo os mais jovens, como o primata preênsil, de fecharmos nossas mãos de bebês para agarrarmos os pelos de nossas mães. Carregamos ao longo de nossa vida sobre numa caixa mental, montes de experiências que vão nos moldando, e aprisionamos nossas Mals nos mais profundos quartos, mas não é porque as capturemos e as coloquemos lá, que naqueles cômodos já não estejam camareiras, fazendo desde a formação de nossos cérebros, em suas primeiras células, fazendo seus serviços.


Noutra metáfora, exatamente ligado a palavra tabula, não é porque o quadro esteja bastante apagado, e pronto a receber camadas e camadas de texto, que nos seus cantos não estejam desenhos sempre usados, formatos de letras e até mapas, e, inclusive, sob tudo, um quadriculado que tenhamos de obedecer, como todos de nossa espécie.


Aqui, ambos os erros, de uma dualidade/transcendentalidade/completa imaterialidade da mente, e de um carregar-se sobre o absolutamente vazio fazem-se em pó, e a conformação desde o embrionário e o histórico estrutural do substrato da mente, que é o cérebro, configuram uma unidade que agora é o objeto com o qual construímos sólida e confiável ciência sobre a mente humana com seu substrato.

Jonh Locke



Da mesma maneira que cães de diferentes raças apresentam diferentes conformações cerebrais e relacionados temperamentos e comportamentos pela vida inteira, assim também o somos, apenas com o diferencial de que por sermos mais culturais, mais carregados de memórias, experiências e com uma vida mais longa, e obviamente, apresentarmos um substrato para isto mais capaz, apresentamos mais sutilezas nestas interações conformação cerebral-operação da mente.

Como disse repetidas vezes nos últimos anos em diversas conversas e debates (muitas vezes manifestando toda minha irritabilidade, típica de minha tabula não tão rasa), dizer que a mente não é material, pois seja apenas algo que funcione no cérebro, é o mesmo que dizer que um carro em movimento, por apresentar velocidade, não seja feito de aço, vidro, plástico e borracha, ou mesmo, que por ser seu motor de quatro tempos com os ciclos característicos de seu termodinamismo, seu mecanismo não ser composto de peças, totalmente materiais.


Assim, um dualismo mente-cérebro pode ser apresentado numa metodologia limitada de seu tratamento, mas não totalmente coerente quando tratamos sua real natureza. Por analogia, podemos trocar os softwares e os dados em bancos armazenados em um computador, mas estas informações só tem existência quando estão operando e armazenadas neste computador, completamente físico, material. O cérebro muda no tempo, e com ele muda a mente, e a mente operando modifica o cérebro sutilmente, e ambos continuam inseparáveis.

Para estas mudanças, não se fazem necessárias estacas de ferro, nem simples pregos, nem mesmo finíssimas agulhas. A constante religação dos neurônios, a dança que as sinapses realizam permanentemente, bastam. O substrato da mente é um sistema dinâmico, e o Francisco que iniciou escrevendo esta série de textos não é, a plena análise, o mesmo que agora coloca este ponto.


Para uma conceituação primária do que seja tabula rasa:


http://pt.wikipedia.org/wiki/Tabula_Rasa



Phineas Gage e um "tal Elliot"


Ives Alejandro Munoz ; EM BUSCA DA NOVA MENTE

http://embuscadamente.blogspot.com/2010/04/o-cerebro-procura-da-alma.html


(Algo me diz, que pela foto neste blog nesta data, navegamos pelo mesmo rio, ainda que minha rota seja imensamente mais turbulenta.)


Phineas Gage

http://pt.wikipedia.org/wiki/Phineas_Gage


E para variar, muito mais completa:


http://en.wikipedia.org/wiki/Phineas_Gage


Destacando-se:

Lesão cerebral e alterações mentais
http://en.wikipedia.org/wiki/Phineas_Gage#Brain_damage_and_mental_changes



A seguir, minhas "traições de subconsciente".

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Origem (V)

...de muitos erros


Mantenha-se firme ao fio de Ariadne, querido leitor, o fim está próximo!

Parte (I)

Um sonho dentro de um sonho

Parte (II)

A velocidade de operação da mente

Parte (III)

Era vermelho meu Jeep de lata?

Parte (IV)

Existe um totem confiável?

Intersectam-se nossos mundos/sonhos com outros mundos/sonhos?


 
 
É confiável o mundo/sonho em que vivemos?
 
Para tratar do mundo em que estamos mergulhados, considerando agora, após este afogamento num solipsisimo inquebrantável, seja o que ele for, como aquilo onde nossa razão está situada e nossos corpos operando com suas percepções de mundo, prefiro abordar o tempo.
 
Quando observamos mesmo a mais distante translação de um corpo celeste, mesmo a mais violenta explosão estelar, que possui em suas origens fenômenos relacionados com a mecânica quântica, observamos que tais processos e fenômenos mostram o mesmo comportameno no tempo que observamos no nosso Sol, incluindo as mesmas deformações frente aos modelos newtonianos que apresenta Mercúrio, imerso num campo gravitacional intenso, mesmo nas nossas proximidades, os satélites de GPS. Noutras palavras, mesmo o tempo não sendo absoluto como propunham Newton e muitos outros, ainda sim ele se comporta, mesmo com suas deformações, homogeneamente, pelo universo a fora, seja ele, no todo, o que ele for, até porque nos basta para nosso Física nosso cone de luz, o universo do captável.
 
Logo, podemos afirmar, com firme convicção, de que a realidade, ainda que nos atormentando com o solipsisimo num nível filosófico mais profundo, mostra-se cientificamente tratável, pois seu cenário pelo menos opera sob um relógio, que mesmo que estejamos preso a ele, é confiável.
 
Desta maneira, podemos, retornando um pouco, afirmar que meu Jeep de lata descia a ladeira (que nós gaúchos chamamos peculiarmente de "lomba") numa velocidade variável mas com aceleração regular, sob o mesmo atrito, com a mesma capacidade de minhas então pequenas pernas conjuntamento com meus braços de um menino de 4 anos a controlá-lo, e tal processou-se por "memória neuromuscular" de coordenação de meu corpo com minha mente, pois nosso cérebro mais que tudo se mostra uma máquina de processamento, usarei um neologismo, "fisicóide" dos fenômenos do físico no tempo.
 
Os mecanismos não são computacionais, numéricos, mas instintivamente, atribuem reações aos fenômenos no tempo, exatamente pois os trata como regulares, e como já afirmei noutro texto, na mesma herança que fez com que nossos ancestrais julgassem para que lado havia andado um antílope, pela direção em que se configurava a pegada na areia, independente de podermos sentir seu cheiro, o que nos fez mais hábeis parta caçar mesmo comparados aos mais eficientes caçadores entre os mamíferos, que são os cães selvagens africanos.


 
Quando Ariadne "deforma a onírica Paris", se tal deformação fosse coerente geometricamente com o físico num universo inteiro, o mais externo do universo se tornaria um ponto infinitamente compactado a uma determinada altura dentro do cubo que foi formado, e o centro da Terra seria distorcido até formar um espaço euclidiano/riemanniano infinito (aqui a forma do universo, que nos é um tanto fugidia, complica as coisas), preenchido de mais e mais rarefeitas (quase um paradoxo) rochas, depois rheid, depois metal líquido, depois metal sólido. O absurdo completo. Mas como o sonho de Ariadne era dela, ela limitava as deformações ao útil aos seus propósitos (e até para a felicidade minha e sua, se começar a pensar na miríade de variações e consequências deste tipo de coisa).
 
Mas por mais deformado geometricamente que possa ser na realidade o físico, ainda que o observemos com coerência, diria relativística, e mesmo para pequenas distâncias, velocidades e campos gravitacionais, newtonianamente ilusório o mundo, ainda sim, podemos fazer um raciocínio similar ao de Descartes, e considerar que o mundo mantém-se coerente, sem milagres, sem demônios a perturbar sua ordem natural, sem alterar a seu bel e perverso prazer as leis da Física que regem tudo, mesmo na mais deformada das geometrias, ainda que o observemos com o prisma de uma ótica completamente coerente, a cada confiável instante. Mesmo no quântico, onde as coisas surgem e somem, desaparecem e se duplicam como pareceria uma loucura se ocorre-se com maçãs sobre nossas mesas, na média, em grande escala, não surge "do nada", em plena savana africana, um elefante. (O que por si só, já mostra o quão infantis são nossos amiguinhos criacionistas, e suas gerações de vida fantasiosas, independente do vingativo e titubiante poderoso autor de tais absurdas façanhas).
 
A natureza, para onde observemos, mostra-se um processo em andamento, com associação de suas partes, emergências como harmoniosas dunas e suas rugosidades, esferas a caminho do perfeito, mesmo com diâmetro de milhares de quilômetros, e mesmo na maior das escalas de produção de energia nas reações mais violentas, com uma regularidade justa, coerente, com uma marcha inexorável rumo a seu imprevisível destino, sempre pelos mais sutis e minúsculos processos, que em todo lugar se repetem, invariavelmente dentro de limites de uma variabilidade estanque, em equilíbrios dinâmicos que a tudo limitam, mesmo o menor milagre, que poderia ser um processo muito raro, mas jamais anormal. Ela é, na verdade, o que seja a normalidade. O sonho de Brahma, se existe, é um sonho sereno, duradouro e de regras rígidas.
 
Num sonho perturbado como o dos personagens de A Origem, um mundo onde a gravidade muda de direção e inclina taças num bar, pode até deixar pelas paredes seguranças e nossos heróis golpistas, mas falha ao não derrubar o próprio prédio, que como estrutura típica de meus amigos e ex-colegas da engenharia civil muito bem sabem, não resiste a inclinações nem de poucos graus.* As regras do mundo são tão rígidas que construímos nossos castelos, de todas as formas, exatamente nas beiras dos mais perigosos abismos. Seja da gravidade, seja das reações químicas, seja da aleatoriedade dos fenômenos, e todos estes fenômenos se dão num coerente cenário espaço-tempo, que para onde olhemos, mostra-se seguro em seu andar.

*E "catando piolho", nem faz cair das paredes os quadros das paredes, pendentes, normalmente, por um ou dois pregos.


 

Logo, concluímos que Letícia Birkheuer, para minha felicidade, mais que meu saudoso Jeep de lata, é, pelo menos, o que Einstein diria que é, como a realidade inteira, uma ilusão persistente.
 
Assim, poderíamos estar num sonho dentro de um sonho dentro de n outros níveis de sonhos, operando em matrizes de diversos e inimagináveis níveis, ainda sim, não poderíamos construir por lógica metafísica alguma, que nos desse a plena e absoluta certeza do que somos e onde estamos, mas podemos construir dentro desta "natureza estável", a mais sólida física, e dela, o conhecimento do químico, do biológico, de nossa sociedade, até de nossa falha e um tanto instável mente.
 
Mente instável esta que é nossa próxima mudança de direção dentro deste labirinto.
 
Enquanto isso, uma lembrança de outra época, um tanto mais madura que a de um Jeep de lata, e que vem a calhar em meio ao que estamos tratando:
 
All that we see or seem

Is but a dream within a dream
Take this kiss upon the brow
And in parting from you now
This much let me avow
You are not wrong who deemed
That my days have been a dream
Yet if hope has flown away
In a night in a day in a vision or a memory
Is it therefore the less gone?
All that we see or seem
Is but a dream within a dream
I stand amid the roar
Of the surf tormented shore
And I hold within my hands
Grains of golden sand
How few yet how they creep
Through my fingers to the deep
While I weep while I weep
Oh god can I not grasp them with a tighter clasp
Oh god can I not save one from the pitiless wave
Is all that we see or seem
But a dream within a dream

Dream Within A Dream - Propaganda

Um dos castelos que construímos, e o mais íntimo, é o de cartas de nossas lembranças.
 
Alguns acréscimos:
 
1) Algumas teorizações em física tratam que nosso universo seria na verdade, um holograma, e ganha "posteriormente" a sua dimensionalidade pelo simples fatos que nesta holografia estamos mergulhados.

2) Outras teorizações apontam que o universo é intrinsecamente estático, e o tempo é ilusório e consequência de sua própria física.



Novamente publico este soneto de um mestre, agora noutra tradução, que prefiro:


Desgasta, voraz Tempo, as garras ao leão,
Do tigre, arranca o dente à fauce que tem fome,
Faze que a terra coma a própria criação
E a Fénix sempre-viva em seu sangue consome.

Torna triste ou alegre a estação, quando passas,
E faze o que quiseres, Tempo vertiginoso,
Ao vasto mundo e a seus fugazes dons e graças;
Só não cometerás um crime mais odioso:

Não craves teu buril, do meu amor, na fronte,
Não desenhes ali com teu cálamo antigo,
Deixa que tua nódoa em seu rosto não conte,
Que seja da beleza o padrão sempre vivo.

Mas, por mais que essas mãos,
Tempo cruel, o provem,
No meu verso ele vive eternamente jovem.

Shakespeare (Soneto XIX)

É visível que o tempo tem uma direção para nossa consciência, pois vemos uma xícara cair e quebrar, mas jamais saltar de seus cacos ao chão e voltar inteira para nossa mesa. Mais gritantemente ainda, nossa imagem no espelho de hoje não é a mesma de nosso primeiro dia em que lavamos o rosto sozinhos.

As maçãs na mesa não multiplicam-se miraculosamente, mas a maçã, talvez inspiradora de Newton, cai ainda com a mesma aceleração.

Assim, os processos do universo tem um sentido, e os arranjos das partículas (ou entes, num tratamento mais filosófico que físico) no espaço tem uma marcha de se apresentarem.

Mas tal questão não tem sentido no subatômico, e ali reside nossa liberdade mais íntima, pois somos feitos do subatômico.

Enfim, no  universo, tudo sempre muda, e tudo passa;

Por­que, enfim, tudo passa;
Não sabe o Tempo ter fir­meza em nada;
E a nossa vida escassa
Foge tão apres­sada,
Que quando se começa é aca­bada.

Camões (em Odes IX)

3) Em relatividade, a gravidade - a suprema senhora do comportamento do universo - é fruto da própria deformação do espaço-tempo, causada pela massa. Sinceramente, embora esta abordagem seja utilíssima, tenho simpatia pelas teorizações de uma gravidade quântica, causada pela interação das partículas com massa através da partícula portadora da gravidade, que seria o gráviton. Mais ainda, simpatizo pela gravidade quântica em loop, ou laço, como dizem meus amigos wikipedistas lusitano, em que o mundo é um fervilhar de espaço e tempo surgindo em cada interstício mínimo dele próprio, somente inteligível quando se entende o que seja um grafo, e nós, as partículas mássicas, a nadar aos saltos através de cada uma destas bolhas.

4) Algumas teorizações, vide até Hawking, tratam da gravidade advindo de "outro plano", passando pelas dimensões distintas das nossas, como um fio que une duas folhas de tecido, estes, ainda se mantendo superfícies distintas, embora dentro de um mesmo espaço. Também sinceramente, pode até ser fato, mas já me basta a gravidade que nossa própria massa, em nosso próprio universo, possui e a gravidade que gera.
 
 
Mantendo o estilo, a próxima questão:
 
Mas esta mente, que julga e decide o que confia existir, operando neste cérebro, é estável no tempo, como é, quando bem qualificado, o mais confiável de nossos computadores?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A Origem (IV)

...de muitos erros

Agarre-se a este fio, em meio a este labirinto, caro leitor, talvez necessite:


Parte (I)

Um sonho dentro de um sonho

Parte (II)

A velocidade de operação da mente

Parte (III)

Era vermelho meu Jeep de lata?



Antes de enveredarmos por perigosos e escorregadios caminhos de uma captação mental da realidade e seu processamento, devo destacar que o registro da cor do vestido de Talulah Riley em ‘A Origem’ ainda não me veio à lembrança, nem provavelmente, registrou-se em minha memória, exatamente por não causar impacto emocional algum (só lamento, gosto é gosto, e este não se discute, quanto muito se lamenta).


O fator emocional no registro de informações em nossa memória é importante, e se excessivo, como nos extremos stresses, como num acidente ou numa tragédia qualquer, pode ser até negativo. Assim, não é por covardia que senhoras idosas esquecem até a cor da pele e cabelos de assaltantes, ou mesmo pessoas tem em momentos de pânico, por exemplo durante um incêndio, esquecidas suas rotas de fuga, por mais tempo que trabalhem ou residam naquele prédio.

Garanto que saberia detalhes até da textura do tecido se a personagem fosse representada por Megan Fox ou Natasha Henstridge, mesmo num incêndio e após um assalto!

 
Temos certas lembranças que são como a pintura holandesa de nossa memória, quadros de costumes em que as personagens são muitas vezes de condição medíocre, captadas num momento bem simples de sua existência, sem acontecimentos solenes, às vezes sem qualquer acontecimento, numa moldura em nada extraordinária, sem grandeza. - Marcel Proust; Os Prazeres e Os Dias - XVIII - Quadros de Costumes da Lembrança
 
 
 
Existe um totem confiável?


Ou, noutra pergunta, mais sofisticada, existe uma metafísica absoluta construível?
 
Na obra que motivou este conjunto de textos, pode Cobb saber se o coerente mundo em que está agora vivendo com seus filhos não é apenas tão irreal quanto mais uma absurda praia de edifícios eroindo?


 
Apolo guardava os rebanhos de Admeto dizem os poetas; todo homem é também um deus disfarçado que imita um louco. - Emerson


Tal como um esparadrapo, façamos a remoção rápida e respondamos diretamente: não.


Não temos confiança absoluta nem em nossa razão, nem mesmo em nosso estado de consciência, nem em nossas apreensões da realidade, que sempre passam pelos sentidos.

Nota importante: nada, caro leitor, coisa alguma, existe em sua mente, quanto à uma avaliação e tratamento do mundo que não tenha sido captado pelos sentidos, no perceber o externo, ou processado em sua mente, quando inclusive, recebe inspirações de inexistentes - pelo menos achamos - unicórnios róseos. Somos prisioneiros de nosso aparato corporal e da operação de nosso cérebro, e com eles captamos e tratamos o mundo, e julgo que nada mais existe, a menos que tal se apresente claramente, e cuidado, pois além de os sentidos iludirem a mente, a mente erra, e somente a mente mente a só.

Pensemos, primeiramente no científico: não temos na verdade, idéia exata do que seja o universo, nem mesmo, a matéria, exatamente os campos, nem sabemos exatamente como descrever o que sejam as partículas (na verdade, tratamos apenas de seu comportamento, e com limitações). A natureza é um tanto imperscrutável. (O exemplo neste dicionário já pode ser uma ironia do universo, pois juro que não colaboro com ele.)
 
Assim, costumamos, quando abordamos debatedores que tentam tratar de física e ciências com certezas que não se sustentam e seguranças que não existem, atormentá-los com perguntas padrão:


Como se divide a matéria e até que nível isto ocorre? Como pode-se afirmar algo além do que observamos? Pode-se afirmar que o universo é tudo? Como podemos afirmar o tempo como sendo o que venha a ser se nele estamos presos? E diversas outras.

E uma que prefiro, em especial a quem afirma que conhece todos os supremos mistérios do universo, o além do físico, desde seu todo até seu íntimo, os fundamentos primeiros do tudo-que-existe, e inclusive, é amigo do rancoroso sujeito que o administra, além de tê-lo fundado e construído:

Quantos cabelos tens na cabeça?

Pois se não sabe-se nem dados próprios, como vai se ter noções de tudo?

Nota: Aqui, a leitura de Kant é sempre uma luz na mais profunda penumbra, que julgávamos e muitos ainda julgam a mais ofuscante claridade.

Como não faço nem idéia disto (na verdade, os estimo), e nem sei sequer se todos os corvos são pretos, e os vejo diretamente, e me submeto aos limites da razão e da apreensão de meus sentidos e neurônios de primata, não afirmo o que seja, mas apenas divulgo o que jamais, relatam inclusive outros primatas mais capacitados que eu, evidenciou-se diferente.

Assim, poderíamos estar vivendo numa caixa de formigas de uma civilização alienígena, num vídeogame dos mesmos, numa “matrix”, em diversas variedades de tais estados conjecturais. Note-se com atenção que afirmo “poderíamos”, e não que “estamos”, e devo citar até mesmo num “sonho de Brahma”. O deus das lacunas não existe, mas existe as lacunas para se colocar deuses, cunhei recentemente.


Logo, não existe pião de Mal, nem peão de Ariadne algum, que não seja, no mínimo, suspeito.
 
Muitos talvez aqui, e em discursos similares, já enfiem em tais lacunas certezas inconsistentes, raciocínios invertebrados das seguranças de suas fés, sejam elas quais forem, e em contradição exatamente com o afirmado, gritem aos céus certezas que como mostra-se, não possuem.
 
Uma máxima útil:

Duvida de tua fé, duvida de ti mesmo, duvida até de tua dúvida.


Sobre o ombro do busto de Palas, está um corvo de cor indefinida, gritando, que certezas, nunca mais.

Mas temos que fazer, portanto, escolhas, e saber qual escada subir na nossa suposta existência, e no que confiar predominantemente.





Devo a todos, e tenho acumulado rascunhos, um conjunto robusto de textos sobre estas questões do que seja uma atual metafísica (de certa maneira, novamente uma ironia), pois do epistemológico já tratei noutro texto, mas acredito que o aqui tratado já aborda convincentemente a questão: não se constrói mais metafísica sólida alguma, e só podemos contar com o confiável da física - num sentido mais popperiano, fundamento de todas as ciências naturais e formais.


Intersectam-se nossos mundos/sonhos com outros mundos/sonhos?

Apenas como acréscimo, poderíamos nos perguntar se mesmo no natural podemos afirmar que o que detectamos, direta e indiretamente, pelos sentidos e nossos instrumentos, é o que existe aqui e agora, em “nosso universo”.

Em cosmologias conjecturais, pois os termos ‘vanguarda‘ ou ‘de ponta’ podem parecer um tanto arrogantes ainda que não pernósticos, existem tipos de multiversos - múltiplos universos - onde dois universos distintos ocupam o mesmo espaço e tempo, sem interação alguma, pois suas partículas - em grupos - não interagem de forma alguma. Explicando novamente: Podemos perfeitamente dividir o mesmo cenário espaço-tempo com outros universos de imensa variedade de partículas, porém, que não interagem com as do nosso. Assim, os multiversos deste tipo dividem a mesma estrutura, mas sem serem perceptíveis um pelo outro.


Uma analogia grosseira seriam gotículas de óleo e água, em neblinas esparsas no ar, que mesmo quando colidem, ainda não se misturam. Aceito sugestões de outras analogias.

Observemos que se este universo em paralelo, “co-espacial”’ com o nosso, se apresentar uma defasagem temporal, ou inversamente, for “co-temporal”, mas em termos espaciais, por exemplo, apresentar uma expansão diferenciada do nosso universo, ou mesmo uma termodinâmica diversa, com seta do tempo diversa (onde xícaras caídas se remontem naturalmente subindo às mesas de onde caíram, e mais que tudo,, a situação de complica, e poderia tal se dar em múltiplos níveis de combinações, em cruzamentos inúmeros, sem colisão alguma.


Logo, Neo, não só não está mais no Kansas, como talvez, ele não tenha sido o que você julgava, e nem mesmo tem-se certeza do sutil tom predominante, como o verde, da Matrix onde está aprisionado, ou ainda, dentro de uma van caindo de uma ponte, não necessariamente, a queda está se dando conforme indica, ainda que sonhando, nossos centros de equilíbrio, nem muito menos, como,com as leis de Newton que achamos que o mundo funciona, nem mesmo como, mesmo funcionando, sejam coordenadas no tempo conforme o relógio do painel, pois este, e tal é claro, está dentro da van.

Por outra abordagem, o solipsismo num certo nível pode ser plenamente desprezado, por pura inutilidade, mas não pode ser aniquilado como possibilidade. É um fantasma que nos atormenta permanentemente em nossos sonhos, e os transforma de certa maneira, em um angustiante pesadelo. Não há queda que nos acorde, não há afogamento que nos salve do limbo onde estamos mergulhados.




Observação: Invariavelmente, a versão inglesa do artigo da Wiki me causa a típica inveja primata.


Mas podemos afirmar que é coerente o sonho ou a Matrix onde talvez vivamos? Ou nas dúvidas que me atormentam, meu Jeep que eu julgo ter existido refletia luz de comprimento de onda correspondente ao vermelho e descia com aceleração newtonianamente coerente a calçada da rua próximo a minha casa?
 
Ou ainda, citando A Origem, seria a física de nosso mundo alterável sem isto ser perceptível e detectável por nossos sentidos, instrumentos e principalmente razão? Ariadne deformaria Paris, modificaria miraculosamente passarelas e ainda julgaríamos o mundo coerente?

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A Origem (III)

... de muitos erros


Mantendo meu leitor não perdido em meio a este labirinto:
 
Parte (I)
 
Um sonho dentro de um sonho
 
Parte (II)
 
A velocidade de operação da mente




Era vermelho meu Jeep de lata?

(Ou vermelho - ou de qualquer cor - o vestido de Talulah Riley em 'A Origem'? Pois ao não achá-la tão bonita quanto teria de achar Robert Fischer, o personagem de Cillian Murphy, tal cor não registrou-se em minha mente.)

Recentemente, surgiu um determinado personagem em debate sobre a mente humana que apontava que sendo a percepção de cores (destacadamente) e inúmeros outros processamentos de informações, os próprios pensamentos, subjetivos (todo processo mental seria uma subjetividade), não poderiam ser oriundos de algo objetivo, como a matéria (que como, digamos ‘sólido’, é uma objetividade). Em suma, seu argumento é que a mente não pode ser fruto do material, pois se o mental é subjetivo, o material seria ‘objetivo’.

Primeiro, que o que seja objetivo ou subjetivo é uma avaliação mental, e aqui entra o conceito amplo em Filosofia de valor (no caso, de 'valoração da verdade', ou o que seria 'validação'). O cérebro, já que organização de moléculas, é obviamente material, e ninguém em sã consciência discute isso. Mas o que seja subjetivo, como a agradabilidade de um tom musical, ou para mim é a que é a mais bela das cores, que é o azul-cobalto, é uma subjetividade, uma validação de uma mente, no caso a minha, com limitado ouvido ou péssimo gosto para cores (a depender, inclusive, das validações subjetivas de alguém).

Uma analogia aqui é perfeita para a questão: um CD grava sons por uma codificação de traços e espaços, em uma espiral de armazenamento linear (não é setorial, como a gravação num HD, ou mesmo nos CD de dados como planilhas - perdão, mas aqui pouperei o leitor de mais detalhes, pois acho que tais fatos já bastam, ainda que com talvez algum erro).
 

A superfície ampliada de um CD, e sua forma de codificação.
 
Parece-me óbvio que isto não é som, que seria a vibração de um fluido transferindo energia. Mas quando anexo a um hardware adequado, com um nível basal de software adequado, tal meio com tal codificação produz sons, de alta fidelidade, frente aos sons originais, que seriam completamente, digamos, os ‘naturais’.
 
Logo, o cérebro pode, mesmo não contendo o que seja um som, ou uma cor, armazenar, processar, compor e recompor, manipular mentalmente sons e cores, fora qualquer coisa apreendível pelo sentido, mesmo ilusões de ótica como as mostradas em A Origem. Ou mesmo, em cérebros aptos, estruturas impossíveis em três dimensões ou mesmo geometrias diversas das clássicas e mesmo das típicas da física moderna, que na verdade, são as únicas que podem modelar o mundo.
 
Eu concordo que quando se trata de sons, a destruição de um tal argumento, que julgo mais que falacioso, pela não materialidade da mente humana se mostra claro e evidente. Mas quando a questão são cores, temos de abordar um conjunto maior de questões.
 
As cores, tais como as vemos e pensamos, só existem em nossa mente, a partir da captação dos fótons, por proteínas específicas em nossos olhos, e processamento. Uma analogia analógico-digital aqui seria útil, mas pulemos esta abordagem.

Podemos supor que os cães, que possuem uma boa visão abaixo da frequência do nosso vermelho, vêem o vermelho similarmente a nós, embora, categoricamente, não vejam em cores. Mas não poderíamos dizer o mesmo das aves, que inclusive se selecionam sexualmente pelo seu colorido, e até coloridos aplicados a seus ninhos.

Notemos que dividimos um passado ancestral amniota com os coloridos papagaios e araras. Logo, podemos supor (e talvez até existam poderosos estudos sobre tal) que a mentalização da frequência de luz vermelha em suas mentes seja a mesma de nossa primata mente.

Mas pouco interessa. A associação da frequência correspondente a um comprimento de onda em torno de 630 a 740 nm com a mental cor vermelha é o que interessa. Se mesmo você tal frequência como o que seja o ‘meu verde’, ainda sim, uma escala de associações de “cores mentais” existirá entre a mentalização das frequências de luz da natureza (dentro do visível) comparável entre eu e você e qualquer ser humano normal.

Este "signo", que é o 'mental vermelho' (pelo menos para o vermelho que o meu cérebro aponta como tal), nasce, surge no processo evolutivo como um padrão de operação cerebral para a interpretação visual do que seja a útil cor vermelha, tanto do sangue quanto de frutas saborosas e talvez, até de venenosas, que serão distinguidas por associação com o sabor amargo, outro "signo" mental associado aos alcalóides e outras substâncias tóxicas (‘nada em biologia se afirma que não seja à luz da evolução’).

A cor vermelha, pelo seu impacto no humano, é usada por criadores e técnicos de diversas áreas (e muitas vezes, com as piores intenções).


Aqui, o que seria anormal seria a confusão entre frequências e suas mentalizações, tal como no daltonismo. Noutras palavras, você pode começar a ver/pensar o que eu julgo laranja onde eu ainda vejo vermelho, mas mesmo assim, a frequência de luz será o que será (‘a verdade é aquilo que é’, máxima desde Aristóteles) e o processo mental que o classifica e julga, podemos dizer 'valora', será apenas o de sempre, o processo eletrolítico/neurotransmissores em um substrato biológico, que é o cérebro.

Já cores como o magenta, que não é associada a uma única frequência de luz, pois é composta, é fruto de uma classificação, desenvolvida no evolutivo - mais uma vez, coisa alguma se afirma no biológico que não seja iluminado pela evolução - para mentalizar, selecionar (vá lá que alguma fruta saudável e saborosa, não tóxica, seja destacadamente desta cor) a mistura de frequências de luz que classificamos entre o azul e o vermelho. Aqui, ponto por ponto, partícula por partícula, até fóton por fóton, entra novamente o que posso perfeitamente chamar de 'resolução'.

Notemos que o mesmo conceito de 'signo' podemos aplicar ao que seja o que chamamos/interpretamos como branco, que é um equilíbrio de todas as cores do espectro de nossa visão primata, e o preto, que é a ausência de todas. Já o verde, curiosamente, como bons animais arbícolas em nossa origem, além de vegetarianos, é nossa cor mais sensível.

Similarmente, mesmo inferiores a nós em cores, os cães, por maior resolução auditiva, onde eu, por mais ouvido que tenha, percebo uma nota lá a 540Hz e só percebendo uma nota 1/12 avos acima e 1/12 abaixo de frequência, e num piano com 8 oitavas só ouviria aquele “temperamento”, aquela afinação, um cão ouviria e distinguiria dezenas de vezes mais nuances de sons, ao ponto, de como notório, reconhecer, entre dois carros idênticos de seus donos, a qual deles pertence, mesmo antes deste dobrar a esquina.

Aqui, almas menos céticas e menos cientificistas, tentam colocar poderes além do biológico nos cães, da mesma maneira que procuram colocar estruturas eternas, transcendentes em suas mentes, e se possível, uma mente similar que controle até seus seus destinos primatas, da mesma maneira que tentam controlar seus cães.

Realmente, em busca disto, argumentam por qualquer meio ou caminho, talvez porque não perceberam que os piões deste tipo de argumento há muito pararam de girar equilibrados.

Mas independente de nossas mentes concordem ou não sobre a cor vermelha do meu Jeep de lata, será que podemos afirmar com absoluta segurança que existe ou existiu meu Jeep, que era vermelho, que existe Passo Fundo*, onde com ele corria ladeira a baixo, causando medo em meu pai, ou mesmo tudo que captamos do mundo, ou dele memorizamos?

*Ainda que acredite com esperança que exista minha conterrânea Letícia Birkheuer, ou, para quem gostou, Talulah Riley, de A Origem.




Citando A Origem, será que possuímos um único totem absoluto que nos permita confiar na realidade? O pião (ou o anel - cinéfilo mais atento, esperto ou informado) do personagem de DiCaprio, Cobb, é confiável?