sexta-feira, 25 de março de 2011

Mostre-me o universo... I



e digo que lá não está o deus cristão


Pérola de um debatedor:

O ilustre pensador brasileiro Olavo de Carvalho responde, ao longo de vários livros, artigos e vídeos, de forma definitiva e profunda à indagação que dá nome a este tópico.

Menos, menos, de preferência, quase nada.

Olavo de Carvalho é um razoável articulista de direita, um tanto extremada e por isso mesmo, nem tão útil assim.

Afirmo: concordo com poucos de seus argumentos políticos, acho suas noções de Economia infelizes - pois ele ataca esquerdistas e Marxistas pelo seu totalitarismo, especialmente o passado, e não por suas falácias e utopias econômicas.


Até que na análise da sociedade brasileira e latino-americana, sua tendência à uma esquerdização que a leva à ditaduras e populismo, acerta, assim como na educação brasileira, aquela, que curiosamente, num determinado nível que alega, ele não possui.

Mas no campo das ciências naturais, quando não em ciências em geral e Filosofia da Ciência, o homem é uma catástrofe em palavras. Possui um pensamento em Filosofia medíocre, quando não abaixo do medíocre, pois inclusive, defende pontos em Metafísica dos tempos de Aquino, mais que enterrados.*

* E escreveu não leu, apela para argumentos "por deus" teleológicos, fulminados por Hume e todos os posteriores.

É um vício dos teístas, que chamo especificamente "primários", retornarem às argumentações de Aristóteles, Anselmo e Aquino , achando que sobre elas não foram jogadas camadas e mais camadas de cal nos últimos 300 anos de Filosofia. - Até prova em contrário, frase minha.

Tem 4 campos que tenta tratar e "refutar", beirando o ridículo, quando tenta discutir ciência e matemática com seu filosofês:

1)Ataca a Teoria da Evolução das Espécies e o próprio fato da evolução.
2)Ataca questões de matemática, especialmente o que seja a moderna conceituação de infinito, especialmente, o posterior a Cantor.
3)Não entende lhufas de Cosmologia e tenta tratar a origem e evolução do universo com argumentações que beiram o infantil.
4)Tenta discutir a Física Clássica de Newton e seus postulados, que na verdade, mais profissionalmente, são a "relatividade de Galileu" com noções pífias ao menos para saber que muito do que está ali modificou-se, especialmente, com o advento da Teoria da Relatividade geral, aquela mesmo que sustenta a Cosmologia que ele não entende.

No meio de suas esparrelas, defende até a Astrologia.

Logo, menos, por favor. (De preferência, quase nada!)


Obs.: Falando em Galileu, as bases da "argumentação diagonal" (perdão, o artigo em português me pareceu ruim, simplesmente), de Cantor, já tinha sido percebida por Galileu, quando faz anotações de que existem tantos números naturais quanto seus quadrados, igualmente, naturais.

Sobre Cantor, uma argumentação simples, que já mostra o erro de quem tenta refutar sua poderosa e já centenária lógica, é a seguinte:

Tomemos os números naturais; 1, 2, 3, 4, 5...  Este conjunto é, obviamente, infinito. Multipliquemos cada um destes números por 2, de onde temos um conjunto 2, 4, 6, 8, 10... , que obviamente, novamente, possui tantos números, infinitos, que o anterior (para cada natural corresponde seu dobro). Mas percebamos que os números do segundo conjunto, serei repetitivo, obviamente, são pares. Logo, demonstra-se assim que existem tantos números pares no conjunto dos números naturais quanto os próprios números naturais, mas o conjunto dos naturais contém os pares. O infinito na matemática, infelizmente para os menos ilustrados sobre para onde evoluiu nossa matemática, não é regido por seus sensos comuns e intuições. Mais precisamente, no infinito, as partes são tão grandes quanto o todo.

Ninguém nos poderá expulsar do Paraíso que Cantor criou. - David Hilbert

Falando em Hilbert, intimamente ligado ao tema, recomendo: Hotel de Hilbert








Percebam, aqui, a enorme enrolada (sim, é este precisamente o termo), que OdC faz para tentar sustentar seu, sabe-se lá se, ponto:

Olavo de Carvalho; O Jardim da Aflições

(Coloquem  CTRL-F e "Cantor", e chegarão diretamente na parte em questão.)

Nem mesmo determinados personagens de outra estirpe concordam com ele neste ponto:


Mas realmente gosto da soberba manifesta em:

As pessoas hoje em dia têm alguma dificuldade de compreender isso porque se deixaram enganar por falsas lógicas (como a de Georg Cantor, por exemplo)...

Deus acredita em você?; Entrevista à Rádio Europa Livre (repórter Cristina Poienaru); Bucareste, 21 de outubro de 1998.

Sim, percebemos as falsas lógicas.

Nunca interrompa seu oponente quando ele estiver cometendo um erro. - Gabriel Sousa

Mal sabe OdC que sólida lógica não só mostra que no infinito as partes são do tamanho do todo, mas por cortes geometricamente realizáveis, fraciona-se uma esfera e obtem-se duas esferas de mesmo volume, e a quadradura do círculo, ainda que "sem régua e compasso", é também possível, assim como esta mesma quadradura é possível em geometria hiperbólica.*

* Para algo mais técnico sobre este tema, recomendo:

Jagy, William C. (1995). "Squaring circles in the hyperbolic plane" (PDF). Mathematical Intelligencer 17 (2): 31–36. doi:10.1007/BF03024895

Outro exemplo das esparrelas deste senhor pode ser vista neste texto:


Deus e o dr. Hawking 

Onde destaco a frase, que já tratei num debateco (um pequeno debate, sem importância alguma, um de meus hobbys - quase um sadismo controlado), pois OdC envereda pela argumentação à  própria ignorância/descrença, ao berrar aos quatro e mais alguns ventos que não existe evidência alguma de evolução, logo, por similaridade:

Nem o prof. Hawking, nem qualquer outro cientista da sua área, pode nos oferecer a mais mínima prova de que o universo da física seja "real".

Igualmente, leigos em física, um teísta catolicóide vomitando bobagens em ciência (ainda mais em Física, a mais profunda e formal delas) como OdC (acredito que todos saibam quem seja a sigla), portanto, podem fazer afirmação alguma além de sua fé distorcida.


Explico: Não tendo evidência física (que sempre passa pelos sentidos) da ação ou existência de sua divindade, igualmente não podem afirmar que ela exista. A pegada de um elefante, não visível na paisagem, é sua ação, a visão do enorme animal, ou a audição de seus barredos, bramedos e urros é evidência de sua existência; para um cego e/ou surdo, tocá-lo seria a evidência - se o elefante e suas impressões ilusórias são fruto de uma "Matrix", ou as "sombras de uma caverna", continuamos na mesma situação de impossibilidade de provarmos o elefante, ou mesmo afirmá-lo como fruto de um fantasma providente.  Em suma: Não podendo afirmar que a avaliação dos sentidos/mente é associada a algo real, também não poderia afirmar que a evidência física que por acaso viesse a possuir da divindade seria real.

Filosofia, sempre, é terreno escorregadio.


Um tolo que não diz palavra não se dintingue de um sábio que se cala. - Jean Molière



Mas foquemos a coisa pelo aspecto físico/científico.

O universo não necessita de um "legislador", muito menos de um ser que o produza. Para todos os efeitos e toda a análise, a natureza se basta. Poderíamos, pelo mesmo caminho, questionar quem teria sido o legislador que criou as formas/meios/maneiras/modos pelos quais a divindade atua.

Só lamento, a pregação barata dele é, até no seu discurso, um enorme vazio, incluindo idéias surradas desde o tempo de Kant e Hume.

Neste debateco, um criacionista lançou as seguintes questões:

(1) Se há forças que o precederam e determinaram, o Big Bang não é "a origem do mundo", mas só de uma fase determinada da existência.


A própria questão, por si, já coloca que a existência do universo, com tudo que contém e como se comporta, que leva à sua evolução no tempo, independe de uma divindade atuante.


(2) De onde vieram as quatro forças? Surgiram do nada ou foram criadas?

Caímos, aqui, na mesma questão anterior. Havendo a existência do universo a partir de um "tempo que se conte" (tempo traz, para qualquer pessoa que se dedique a tratá-lo, dilemas linguísticos terríveis, Agostinho já observava), este contendo suas leis (incluindo as forças), já implica que não se necessite de uma divindade atuante, e também, a existência das leis não implica que tenham de ter sido criadas por uma divindade, ainda mais, uma consciente. Um divindade consciente, na verdade, não se justifica, quanto mais, se mostra um conclusão lógica inquestionável. A afirmação de uma divindade consciente, como organizadora dos princípios mais básicos do funcionamento da natureza, é, na verdade, o mais profundo dos argumentos teleológicos.

Se ninguém me perguntar eu sei, porém, se quiser explicar a quem me perguntar, já não sei.

Recomendo, para ilustrar o tema:  O problema do Tempo em Santo Agostinho - www.mundodosfilosofos.com.br



(3) Que uma coisa possa acontecer em teoria não prova que tenha acontecido necessariamente.

Fantástico é que criacionistas e o que chamo de "teístas primários" afirmam exatamente seus milagres e "atuações divinais" quebrando a aparente coerência que mostram neste mesmo tipo de frase.

Temos evidências, até "visuais", como na Astronomia, e laboratoriais, como nas partículas subatômicas, do que afirmamos. (Isto em se tratando da coisa profunda e ampla que é origem do universo a partir de um estado anterior - para não dizer o inadequado "inicial"  - de alta temperatura e densidade, quanto mais para a evolução da vida, onde a Paleontologia empilha fósseis aos milhões e a Biologia, com organismos vivos, a olhos abertos, percebe a evolução das espécies).

Qual seria a observação ou experimentação que teriam de suas afirmações sobre a ação de seu fantasmão providente? E ainda mais dos atos deste que berram como fatos incontestáveis, como o surgir de um elefante miraculosamente sobre a grama da savana africana?

A radiação de microondas de fundo, a mais antiga imagem possível de ser obtida de nosso universo, pouco posterior a ele passar a ser transparente.



(4) Não sabemos sequer se o Big Bang aconteceu ou apenas pode ter acontecido.


Serei econômico. Já tratei disso na questão anterior.

E para coroar, a pérola de incoerência:

Por que existe o ser e não antes o nada?*

Sim, então, porque existiu num "período", somente Deus, e não o nada, pois pela própria argumentação deste senhor, então, a pergunta permaneceria sem resposta.

Mas antes, uma pergunta, ainda mais perniciosa, e que OdC, para variar, escapa pela tangente, com seu rabinho, invariavelmente, entre as pernas:

Ainda que exista a divindade que gerou o tudo (fora ele, pequenos problemas que Espinosa pulveriza) por que raios teria de ser aquilo que chamam os cristãos, ou mais especificamente os católicos, de deus, ou mesmo, qualquer entidade consciente e inteligente, e ainda por cima, por que não, nosso querido U.R.I.?

Logo, se OdC não consegue nem colocar esta pergunta com a honesta dúvida, não pode fazer afirmação alguma além de sua própria ignorância. Para toda a Física moderna, mais e mais se tem mostras que o universo seja, pela simples produção de par de partículas observável em qualquer instituto respeitável de Física, fruto de um adensamento de bósons, que perturbou-se, há 13,7 bilhões de anos, e parafraseando Voltaire, assombra-nos tal universo e cremos procurar em vão, que haja um relógio e um relojoeiro não.

*Curiosamente, esta é a mais profunda pergunta tanto da Metafísica quanto da Cosmologia. Por que existe o ser (natureza) e não o nada (absoluta falta de entes físicos)? A diferença, é que todos os que questionam esta questão seriamente, não colocam um fantasmão vingativo e falho de um povo analfabeto da Idade do Bronze como resposta.


OdC afirma:

Passou o tempo em que as declarações de físicos eram ouvidas como decretos divinos. Hoje elas se arrogam uma autoridade supradivina, julgando e suprimindo o próprio Deus. Mas nem mesmo se contentam em fazê-lo na esfera das puras considerações teóricas: estendem sua jurisdição a todo o campo da existência social, exigindo que a educação, a cultura e as leis se amoldem à sua cosmovisão científica, sob a pena de serem condenadas como atos de fanatismo e crimes contra o Estado democrático.

Adaptando:

Passou o tempo em que as declarações de religiosos eram ouvidas como decretos divinos. Hoje elas se arrogam uma autoridade supradivina, julgando e suprimindo o próprio Deus. Mas nem mesmo se contentam em fazê-lo na esfera das puras considerações teológicas: estendem sua jurisdição a todo o campo da existência social, exigindo que a educação, a cultura e as leis se amoldem à sua cosmovisão religiosa, sob a pena de serem condenadas como atos de heresia e crimes contra um pretenso Estado teocrático.

Por isso mesmo, digo que esta gente é muito mais perigosa que parece.

Ironizando, eu então disse que Hawking, em desespero pelas afirmações de OdC, saiu em disparada, com sua cadeirinha, por Cambridge a fora.


Hawking e um emu, um pitoresco momento do "grande mestre da gravidade".

 Mas o mais interessante é que Hawking e seu parceiro nesta obra, Leonard Mlodinow, não afirmam que "provaram que deus não existe" (contrariamente a determinados personagens, até premiados por instituições como a Templeton, e curiosamente, partindo do Big Bang), nas palavras deles:

Deus pode existir, mas a ciência pode explicar o universo sem a necessidade de um criador. - Stephen Hawkin

Não dizemos que provamos que deus não existe. Nem ao menos dizemos que provamos que deus não criou o universo. - Leonard Mlodinow

Contrariamente aos teístas primários e crentes simplórios, nós, os céticos, os cientificistas, até os pensadores humildes frente a grandeza da natureza, não afirmamos nossas certezas, mas enfrentamos nossas dúvidas.



Por não termos instrumentos capazes de mensurar toda a natureza, não podemos estar certos de termos uma teoria final. - Marcelo Gleiser



Antes de encontrar as respostas, precisamos de novas perguntas. - Karl Popper




Você é quase tão ateu quanto nós. Quando você entender por que não acredita em todos os outros deuses, saberá por que não acreditamos no seu. - Slogan dos neo-ateístas

Fechando este, um citação que muito gosto:

Reconhecer que cada molécula que constrói nosso corpo, e os átomos que constroem as moléculas, podem ser rastreados até os núcleos incandescentes de estrelas de alta massa que explodiram e lançaram seus interiores quimicamente ricos na galáxia, enriquecendo quimicamente nuvens de gás primordiais com a química da vida. Desta forma, estamos todos conectados: biologicamente uns com os outros; quimicamente com a Terra e atomicamente com o resto do universo. Isto é maravilhoso. Isto me faz sorrir e, na verdade, isto me traz uma sensação de grandeza. Não que sejamos melhores que o universo, nós somos parte dele. Estamos no universo e o universo está em nós.
         
Neil deGrasse Tyson

2 comentários:

Spirit Tv Online disse...

Se é errado misturar ciência com religião não sei porque vocês perdem tanto tempo atacando religiosos o que torna esses sites pseudo-científicos, colocando paixões pessoais acima da ciência. Eu sou religioso e acredito em Deus, mas não encontro mais ciência que seja honesta e queira discutir ciência diretamente, sempre tem essa nojeira neo-ateísta, é como se para aprender ciência tivessemos que negar a Deus, é o que mais tenho visto, uma categoria de falsos amantes da ciência que perdem todo seu tempo útil discutindo religião, principalmente discutindo o que não sabem ou levando em conta opiniões de pessoas que não são cientistas e o pior é que discutem em forma de deboche, vocês mais parecem um bando irracional de idiotas. Coisa feia.

Anônimo disse...

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