terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Energia - novas fronteiras - I

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De um conjunto de palestras na CPFL cultural, no ano de 2009, agora, ao final de meu curso de Gestão Ambiental, e apoiado sobre um bocado de material mais formal escrito e coletado sobre biocombustíveis e outros temas, um amplo campo que me encorajo a abordar.

Energia é destaque na programação da CPFL Cultura

Abordarei nesta blogagem uma a uma das palestras, relatando e quando possível, complementando seus temas.

Fontes alternativas de produção de energia - Roberto Schaeffer

Em vídeo: www.cpflcultura.com.br

thevividedge.com


Vejo como crescente o interesse da indústria de energia, aqui, destacadamente, a de fornecimento de combustíveis líquidos, pela celulose em todas as suas formas, desde a grama cortada até os resíduos finais de combustões incompletas (não sendo difícil, o simples carvão vegetal).

Se a celulose é a suprema fixação em meio sólido do carbono da atmosfera (o que hoje mais necessitamos pelo "efeito estufa"), nada mais natural que deste material procurarmos tirar o máximo, tanto de materiais de construção quanto de fonte de combustíveis.

Sendo a celulose um polímero de glicose, produto direto da fotossíntese, e sendo o álcool (etanol) o produto da fermentação da glicose, por via mais completa o etanol pode ser o produto de fermentação de despolimerização da celulose.

Em termos mais diretos ainda, podemos transformar a grama cortada de jardins e campos de futebol, as folhas secas caídas, os ramos cortados pela poda de árvores de áreas urbanas em combustível líquido. E não apenas etanol, de apenas dois carbonos na molécula, mas moléculas mais longas, como os derivado do propano, do butano, pentano e assim por diante, pois em química, tendo os átomos, temos o que desejamos, apesar de problemas na eficiência e na economia dos processos.

Seria o que os estadunidenses chamam ironicamente de grassoline, "gasolina de capim":


www.mondolithic.com


Como o próprio nome do artigo acima já indica, já fazemos parte disto na produção de etanol a partir do amido de milho (o amido é outro polímero, menor e menos "denso", de glicose). Temos de acrescentar uma certa tecnologia química, assim como, ou talvez apenas, uma certa tecnologia biológica.


Se já chegamos com larga escala e economicamente viável (os EUA nos ultrapassaram, com nossa barata cana, tanto em capacidade de produção quanto em custos menores [Nota 1]) partindo de grãos de milho, depois produzindo uma produto intermediário que é similar ao xarope Karo, já uma solução de glicose, e desta, exatamente como do caldo de cana ou beterraba, fermenta-se para chegar ao etanol, pelo mesmo processo que os fenícios já produziam nossas amadas cervejas (embora a deles fosse algo mais próximo de uma sopa).

Nota 1: Já noticiava estas questões em Liberalismus - Extras I

Aqui, a questão de desenvolvimento de tecnologia, tanto de escala de equipamentos (uma coisa é construir uma alambique de proximidades de estrada para produzir uma excelente aguardente, outra é projetar e construir uma destilaria da escala de uma refinaria de petróleo [Nota 2]), vencer as questões de logística viável (a cana e a beterraba, pelo seu próprio conteúdo de água, apresentam limitações de tempo no transporte, que implicam em limitações de distância de captação de matérias primas), da concentração de etanol - ou outro metabolizado pelos microorganismos - obtível na fermentação, noutras palavras, castas resistentes à altas  concentrações [Nota 3], lembrando sempre que o etanol, assim como inúmeras espécies químicas similares, são agentes esterilizantes.

Imagem que mostra bem a questão de logística superior dos EUA na produção de  etanol (vws.magma.ca).


Nota 2 Caracas: etanol pode chegar aos EUA via Colômbia - www.paginarural.com.br

Nota 3 Tratei disto em Cepas de endiabradas leveduras
Obs.: Para questões sobre o para mim inexistente "conflito" cana vs milho, recomendo minha modesta tradução e acréscimos em artigo 'de peso' sobre o tema:



Assim, o campo de pesquisa e desenvolvimento é enorme, e se travará não propriamente no terreno da força bruta do simples capital, ou mesmo do "dispor-se de fronteiras agrícolas", mas antes, na formação de cérebros capazes, bem remunerados, nas bancadas de laboratório e plantas piloto.

EUA anunciam US$ 105 milhões para primeira usina de etanol celulósico - www.jallesmachado.com.br

Se nos EUA, o próprio artigo acima citado da SciAm, aponta curva assintótica para o crescimento da capacidade de produção de etanol de milho somado à cana (os EUA também produzem cana, embora não na nossa escala, e com foco na produção da exclusiva sacarose - açúcar) dentro de alguns anos, o gráfico da produção de etanol celulósico sai da escala do gráfico, e ainda não apresenta, para décadas por vir, encerramento de seu crescimento de produção. Noutros termos mais simples, sobra etanol possível partindo-se da celulose.




Lembre-se: da cana, apenas se produz etanol da pouca sacarose que há em seu 'caldo', e nada mais. Pode-se aproveitar os materiais celulósicos para a produção por cogeração de energia elétrica [Nota 4], e aí a coisa se esgota, pelo menos, do ponto de vista de combustível para veículos automotores.


Nota 4 Biocombustíveis - Sustentabilidade em energia sem acréscimo de dióxido de carbono na atmosfera

Ainda sim, mantemos uma perda de energia possível de ser produzida, mesmo com nossos deficits de energia elétrica.

www1.folha.uol.com.br

Exemplos de iniciativas simples e diretas são facilmente encontráveis, quando os empresários atentam para o fator de geração de lucro que é uma visão mais sistêmica de sua produção de etanol: 


Por fim, a produção de etanol leva a possível produção de eteno, que tem como sinonímia etileno, e disto, o óbvio polietileno. Assim, de uma produção de etanol, pela alcoolquímica, chega-se a sacolas plásticas, sacos de lixo, garrafas do próprio álcool e embalagens similares do fracionamento de produtos em nossos comércios.

Recomendo: Valéria Delgado Bastos; ETANOL, ALCOOLQUÍMICA E BIORREFINARIAS

Extras


I

Os EUA desenvolvem já algum tempo sistemas de produção de etanol relacionado com recolhimento e processamento de estrume.



II

Existe a produção de etanol a partir do milho com baixo consumo de água, o "Processo Usina a Seco":

www.alternative-energy-news.info

III

No Canadá, já se produz etanol a partir de lixo. Lembre-se que seus restos de papel, cascas e outros resíduos são fontes de celulose, muitas vezes, em concentração maior que das folhas de capim, milho ou mesmo a própria madeira.


Martin LaMonica; Municipal trash-to-ethanol plant opens in Canadanews.cnet.com


IV

Mesmo com sua escala, a indústria de etanol do primeiro mundo não escapa dos problemas de má administração.


Oswego County ethanol plant in bankruptcy - www.syracuse.com



O que não sabe é um imbecil. O que sabe e se cala é um criminoso. - Bertold Brecht

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