quinta-feira, 5 de julho de 2012

Pérolas, peixes, pH, dilúvio e uma dita tautologia III

...e no meio de nós, peixes com determinadas características, incluindo presunçosos cérebros, um criacionista em dilúvio de pérolas.


À maneira que tenho de admitir que aprendi especificamente com minha amiga, Geóloga e Dra em Paleontologia Silvia Gobbo, tratemos de mais alguns "últimos suspiros suspiros de um cadáver insepulto", pois ninguém melhor que os criacionistas para apontarem pontos que temos de tratar para enterrar de vez esta anomalia do pensamento humano.

Na blogagem Mostre-me o universo... I o criacionista Spirit Tv Online (personagem relacionado a um lindo mundo de entendimento do mundo e concordância com as fés alheias, como pode ser visto - causando risadas - por exemplo, em spirittvonline.blogspot.com - Yoga, maçonaria e fé cristã) comentou o seguinte.



Se é errado misturar ciência com religião não sei porque vocês perdem tanto tempo atacando religiosos o que torna esses sites pseudocientíficos, colocando paixões pessoais acima da ciência. Eu sou religioso e acredito em Deus, mas não encontro mais ciência que seja honesta e queira discutir ciência diretamente, sempre tem essa nojeira neo-ateísta, é como se para aprender ciência tivessemos que negar a Deus, é o que mais tenho visto, uma categoria de falsos amantes da ciência que perdem todo seu tempo útil discutindo religião, principalmente discutindo o que não sabem ou levando em conta opiniões de pessoas que não são cientistas e o pior é que discutem em forma de deboche, vocês mais parecem um bando irracional de idiotas. Coisa feia.



Antes de iniciarmos, uma máxima:

A sabedoria é composta de duas partes:
1. Ter muito a dizer;
2. Não o dizer.


H. L. Mencken



Já na blogagem , o personagem insiste por caminhos ainda mais tortuosos.



Caro, sua refutação à explicação de Popper é superficial e tola. Popper classifica a teoria da evolução como uma teoria metafísica que não passa no crivo de científica porque não tem poder de antecipação, ou seja, a teoria não pode prever como será uma raça (sic) que venha a evoluir, esse é o princípio da ciência. Ela também não pode ser falseável, para Popper a irrefutabilidade não é uma qualidade, é um vício, um erro da teoria, isso sim é muito claro. O que você cita como excelente artigo para refutar a tautologia darwiniana na verdade está demonstrando que a teoria darwiniana é tautológica, você precisa estudar mais sobre filosofia da ciência porque esse teu texto ficou bem fraco.


Nada melhor que para responder a este tipo de esperneio que citar texto acadêmico sobre o tema e mostrar ao criacionista (ou seja lá o que) o quanto está desatualizado, até mesmo sobre Popper:

Rogério Soares da Costa; O DARWINISMO NA EPISTEMOLOGIA TARDIA DE SIR KARL POPPER; Kínesis, Vol. II, n° 03, Abril-2010, p. 316 – 330 - http://www.marilia.unesp.br/


Onde devemos destacar:

"Num tal contexto, diante de tal situação de problema, o processo de tentativas e eliminação de erros e o darwinismo se tornam não apenas aplicáveis, mas quase logicamente necessários. É a estreita semelhança entre os dois que explica o êxito da teoria evolutiva, a despeito de seus defeitos, de sua formulação quase tautológica e de sua irrefutabilidade. Em suma, é por seus elementos lógicos, a priori, que o darwinismo pode ser inserido na epistemologia popperiana:
 
Se é aceitável a concepção da teoria darwiniana como lógica situacional, então poderemos explicar a estranha semelhança entre minha teoria acerca do crescimento do saber e o darwinismo: ambas seriam exemplos de lógica situacional. (Ref.: POPPER, 1977, p.179)

A fim de tornar ainda mais claro o papel do darwinismo na epistemologia popperiana, é necessário lembrar que, como salientamos amiúde, o darwinismo se apresenta, aos olhos de Popper, como uma teoria amplamente não-indutiva, ou seja, uma teoria onde os seres vivos não aprendem passivamente as constantes ambientais como na teoria de Lamarck, mas ao contrário, estão ativamente empenhados em criar hipóteses e expectativas que são submetidas ao crivo ambiental. Desta feita, o darwinismo estaria para o lamarckismo como o dedutivismo está para o indutivismo, a seleção para o aprendizado por repetição e a eliminação crítica do erro para a justificação. (Ref.: POPPER, SIR KARL; Autobiografia Intelectual. Trad. Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Motta, São Paulo: Editora Cultrix, Editora da Universidade de São Paulo, 1977.)



E lê-se do personagem mais...


Outro problema é sempre comparar a teoria da evolução com criacionismo, então compare a teoria da evolução com o design inteligente, pelo menos não dá margem para distorções, uma vez que criacionismo tem prolemas tão sérios a resolver quanto o evolucionismo.


Também é comum evolucionistas omitirem que não existem registros fósseis de espécies transitórias, mas existem registros fósseis de milhões de anos com os mesmos animas de hoje como coelhos, tartarugas, tigres, etc, ou seja, não houve derivações.





Aqui, iremos pela ironia: Sim! Basta ler já A Origem das Espécies e lá está a explicação. A ausência de fósseis intermediários já é prevista e seus motivos perfeitamente tratados por Darwin e os geólogos que com ele colaboraram. Mas claro, que pelo argumento do criacionista (pois ele o É) um coelho, uma tartaruga, um tigre, está no registro fóssil de "milhões" de anos, mas também o estará em centenas de milhões de anos, e até bilhões (deixemos aqui os pitorescos criacionistas de "Terra Jovem" e seus descalabros de fora, pois paciência tem limite). Por isso mesmo, seus evolucionistas hereges, [SARCASMO] que encontram-se abundantemente coelhos, tartarugas e tigres no Jurássico, no Permiano, no Cambriano, sem falar de baleias e, mais que obviamente para os que já me conhecem...

elefantes!
O que seria esperado pela visão "perfeccionista" dos criacionistas. 

Como a coisa se apresenta na natureza.
A dura realidade com que lida-se na paleontologia.


E ele insiste...




Por fim você começou falando no pH da água (porque você é químico e não biólogo) mas não explica como uma espécie se adaptou àquele (sic) pH, como uma espécie em um lago "evoluiu" naquele lago, uma vez que não deve ter existido uma migração de peixes de um local para outro, ou seja, teríamos que aceitar que naquele micro-habitat houve uma evolução independente de um organismo primário para um peixe com as mesmas características de outros lugares. De fato a tua explicação é "existe, tão simples e claro quanto isso", remetendo essa explicação à tautologia que você tentou refutar posteriormente.


Antes, outra máxima:


O sábio procura a sabedoria; o tolo já encontrou. - G. C. Lichetenberg
As espécies "se adaptam" (realmente, confesso, não gosto desta expressão) pois entre os indivíduos de uma população, há variações, por exemplo, de resistência à variação de pH, que pode surgir fortuitamente, ao acaso (aquela palavra que criacionistas e muitos crentes diversos simplesmente odeiam) e estes passam a ser os mais aptos, e os demais perecem, não transmitindo suas características para a descendência. 



Vale sempre lembrar:

O designer da evolução é a morte.



Tenho de perguntar para que raios haveriam de haver migrações (ou mesmo a exata similaridade com espécies de outras localizações)? Então, necessariamente, pela própria argumentação do criacionista, aqui claramente perdido, haveriam variações da mesma espécie noutras paragens? Então as espécies variam? Então evolução ocorre?!

Se ocorre/ocorreu noutra localização, por qual motivo não poderia ocorrer no local que estamos afirmando num argumento simples como este aqui apresentado?

Então a própria questão levantada pelo criacionista depõe contra seu argumento, e ele concorda que variações na espécie ocorrem, e estas são selecionadas. De um só golpe, concordou com a variabilidade das espécies e com a seleção natural. Só faltou aceitar, e aceita pois afirma também D.I., que as variações se acumulam, e as espécies se distanciam. E aceita, claro que se distanciam, voltemos à ironia, pois o designer atua (como sabemos, não é, evolucionistas hereges?! [ãh... sarcasmo]) e modifica as espécies no tempo.

Mas voltemos a sua mais que confusa linha de raciocínio: por qual motivo teria eu de explicar o mecanismo de adaptação a um pH, se exatamente existem formas de vida, como peixes, adaptadas a determinados pHs e salinidades, além de temperaturas?* Estas formas existem! Por qual motivo teria eu de explicar os mecanismos bioquímicos exatos de como esta modificação se dá, se sabemos que cargas genéticas variam (e tal é inegável, vide os animais domésticos, que já aponta desde suas primeiras páginas Darwin, ou alguém vai afirmar que ovelhas de pelo curto resistem ao frio como resistem as de pelos longos, ou gados de pelo longo não passam tormentos no calor, onde o gado de pelo ralo pasta feliz?). Mas uma vez, as modificações genéticas ocorrem, as modificações do ambiente ocorrem (o contrário afirmado seria negar, por exemplo gritante, vulcões!), e sobrevivem as aptas, e nisto, pouco interessam, num primeiro momento, os mecanismos de modificação mais íntimos, como já tornou-se patente desde a obra de Darwin, e já era observado por seus contemporâneos, independente do conhecimento de genética ou mais bioquímica que o disponível em meados do século XIX.


* Sem falar da presença de algo tão tóxico como o sulfeto de hidrogênio: Poecilia sulphuraria



A probabilidade de um criacionista ou D.I.sta dar tiros no próprio pé é proporcional ao tempo que permitamos que escreva ou fale. - Variação educada de corolários da Lei de Dinael-Teorização de Quiumento


E claro, o triste personagem continua...


Por isso a teoria evolutiva é metafísica, e pior ainda, não é embasada na observação e você utiliza fotos da teoria evolutiva para validar a teoria evolutiva, ou seja, mais do mesmo. Pior ainda, usa como referência pinturas para explicar fatos biológicos, eu poderia afirmar que os romanos aparavam as jubas dos leões por algum motivo. Pela lógica se você pode alegar que as formas de vida evoluiram porque evoluiram eu posso conjecturar sobre os romanos cortando as jubas dos leões, afinal essa é a sintese de Popper, conjecturas e refutações.


Sim, o que seria da variabilidade dos felinos de grande porte se não fossem os cabeleleiros de leões romanos, com seus estilosos cortes, combinando com os gladiadores! Basta uma visita a um museu de paleontologia e trombar-se com variações na casa das dezenas de "tigre-dente-de-sabre", quando não, em museus de História Natural, com tigres com juba, até mesmo empalhados, que foram até filmados e fotografados e o personagem patético vem me dizer pelo visto que a variabilidade das espécies, como neste banal e contemporâneo exemplo, não ocorre!



Leitura recomendada


Para entender-se porque a ausência de formas transitórias no registro fóssil é uma banalidade para a paleontologia, nada melhor que a universidade de Berkeley e seu magnífico site didático, de onde os infográficos sobre a fossilização de transicionais acima foram copiados e editados:




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