sexta-feira, 19 de maio de 2017

Ebulições perigosas - 2


Boilover

A partir de um merge dos artigos da Wikipedia:



Um incêndio do tipo boilover (ou boil-over), ou ainda explosão por vaporização, traduzido em algumas citações como transbordamento causado pela fervura, refere-se ao fenômeno explosivo, uma situação extremamente perigosa, onde uma tentativa é feita para extinguir o fogo alimentado por óleo ou por produtos petroquímicos, petróleo ou seus derivados destilados com água em ambientes semi-fechados.


File:Kitchen oil fire demonstration (low resolution).ogv
Demonstração de um incêndio numa fritadeira pelo corpo de bombeiros de Nova Wales do Sul.

Bombeiros simulando boilover para demonstrar os riscos. Comprimento da sequência de 2,4 segundos. A demonstração foi feita com 1 kg de óleo de cozinha e 1 litro de água.


O perigo fundamental resulta da diferença de densidade entre um combustível e a água. Para ocorrer, esse fenômeno requer várias condições simultâneas. Primeiro é necessário que haja água no fundo de um recipiente ou tanque ― depende o termo da escala ― que está em chamas. Esta água pode estar presente no tanque como um resultado da precipitação na luta contra o fogo ou por outro motivo, como contaminação ou erros de procedimentos na tancagem. No caso de acréscimo da água no combate ao incêndio, à medida que a água é derramada sobre o combustível, devido à diferença de densidade entre o combustível e a água e, sendo esta de maior densidade, rapidamente desloca-se para o fundo do recipiente, e tem pouco efeito em extinguir as chamas na superfície. Em caso de manter-se o incêndio no reservatório, depois de um tempo suficiente, o calor do fogo e o consequente aquecimento do líquido superior à água, predominantemente pela convecção, pode vaporizá-la, fazendo com que ela se expanda mais de 1700 vezes em volume. O vapor em rápida expansão (possivelmente superaquecido) expele o combustível acima para cima e para fora do recipiente, jogando gotículas do líquido combustível sob a forma de uma bola de fogo, resultando também na distribuição de combustível em chamas em uma área grande e descontrolada fora do reservatório ou recipiente.[2]

A modelagem matemática do fenômeno é difícil e complicada, tornando a previsão do fenômeno boilover não confiável.[3]

A NFPA, National Fire Protection Association dos EUA, define boil-over como: “Um evento na queima de certos óleos em um tanque de topo aberto quando, após um longo período de queima quiescente, há um aumento súbito na intensidade do fogo associado com a expulsão do óleo em chamas do tanque.”[1]

Boilover também é comum no ambiente residencial como um incêndio em panelas durante frituras.


O processo
Em etapas:

1

O óleo fica tão quente que pega fogo por si só.


2

A água é despejada no recipiente.


3


A água é mais densa do que o óleo, assim dirige-se ao fundo do recipiente. À medida que a água toca o fundo, ela é aquecida acima de seu ponto de ebulição e instantaneamente se vaporiza.

4

O vapor de água se expande rapidamente, ejetando o óleo em chamas para fora do recipiente e para o ar onde sua área de superfície aumenta imensamente e a combustão prossegue muito mais rápido, formando uma bola de fogo.


5


Posteriormente, com a queima completa do óleo, a chama se extingue.


O mecanismo, em termo de suas fases envolvidas, pode ser explicado na imagem abaixo:


Mecanismo do boilover em termos de suas fases: 1. Água; 2. vapor; 3. hidrocarboneto ou óleo; 4. fogo.


Deve-se observar que este fenómeno é possível somente se o combustível é relativamente pesado e viscoso. O vapor formado irá atuar sobre o volume de combustível, o qual forma um pistão e será projetado para o ar.

O boilover não ocorre com gasolina, hidrocarbonetos ou outro fluido combustível dito leve uma vez que a alta viscosidade do produto é uma importante condição do fenômeno. Quando o combustível é leve, a água vaporizada pelo fluxo de calor do fogo irá empurrar o líquido inflamável, sob a forma de bolhas que se projetam apenas em uma parte do líquido em combustão para o exterior do recipiente. Este fenômeno é chamado de "slop over" (aproximadamente “derramamentos ou transbordamento por fervura”), é muito menos poderoso do que o boilover pois não há a formação da vaporização em gotículas do combustível e sua imensa área superficial para a produção de chamas, não tendo o caráter explosivo do boilover.

Assim, há o boilover que é a explosão por vaporização causado pela fervura sob combustíveis pesados (diesel pesado, óleo viscoso para calefação, diversos óleos vegetais, etc), e o derramamento slop over causado pela fervura sob combustíveis mais fluidos (diesel leve, querosene, gasolina, óleos essenciais pouco viscosos de perfumaria, etc). A diferença destes dois fenómenos do ponto de vista do incêndio produzido é o consequente fluxo de projeção do combustível em combustão.

Note-se também que a cinética e o fluxo de projeção é proporcional ao volume de combustível contido no reservatório: quanto maior o volume, maior será o raio de projeção, mas a cinética será mais lenta.


Casos notórios

Um boilover ocorreu durante um incêndio em um depósito de combustível em Milford Haven, Reino Unido, em agosto de 1983.[4]  

Este fenómeno ocorreu em um incêndio em Port Édouard Herriot em Lyon, em junho de 1987. O fogo acidental de um tanque de aditivo projetou um tanque de várias toneladas a 200 m no ar, sendo que a base da tremonha foi retirada do seu suporte. O fogo que resultou incendiou um tanque de armazenamento de diesel nas proximidades. Depois de cinco horas e meia o diesel explodiu e formou uma bola de fogo a 300 m de altura e possuindo 200 m de diâmetro.[5]  


PBO


O cálculo do PBO (Propensity to Boil Over, propensão para boilover) permite determinar se um líquido pode causar um boilover. Quando o PBO calculado é inferior a 0,6 não há perigo. Por outro lado, quando é maior do que esse limite, o boilover.[6]


CodeCogsEqn.gif


Para Latex:

{PBO} ={\sqrt[{3}]{\left(1-{\frac {393}{\mathrm {T} _{\mathrm {{\acute {e}}b} }}}\right)\times \left({\frac {\Delta \mathrm {T} _{\mathrm {{\acute {e}}b} }}{60}}\right)^{2}\times {\frac {\nu }{0{\mathord {,}}73}}}}


onde:

  • : temperatura de ebulição média do produto armazenado (K);
  • (K);
  • : viscosidade cinemática, a 393 K (cSt).


Hidrocarboneto
PBO
Risco
Óleo bruto pesado
6,76
simi
Óleo bruto médio
4,24
sim
Gasóleo/Diesel
1,20
simi
Querosene
0,53
não
Nafta / Gasolina
0,29
não
Essência
-0,25
não


Referências

1.National Fire Protection Association: "NFPA 30 - Flammable and Combustible Liquids Code"
2.GARO, Jean-Pierre; Hiroshi KOSEKI; Jean-Pierre VANTELON (2007). "COMBUSTION OF LIQUID FUELS FLOATING ON WATER" (PDF). Thermal Science:. 11 (2): 119–140. doi:10.2298/TSCI0702119G. Retrieved 2008-11-09.
3.Hristov, Jordan (2006). "An inverse Stefan problem relevant to boilover: Heat Balance Integral Solutions and Analysis" (PDF). Thermal Science. 11 (2): 141–160. doi:10.2298/TSCI0702141H.

4.ARIA : Retour d'expérience sur accidents technologiques - Boil-over historique - N° 6077 -  30/08/1983 -  ROYAUME-UNI - 00 - MILFORD HAVEN - C19.20 - Raffinage du pétrole - www.aria.developpement-durable.gouv.fr

5.ARIA : Retour d'expérience sur accidents technologiques  - Incendie du Port Edouard Herriot - N° 4998 -  02/06/1987 -  FRANCE - 69 - LYON - G46.71 - Commerce de gros de combustibles et de produits annexes - www.aria.developpement-durable.gouv.fr

6.Mokhtar Ghodbane (M.Ghodbane et al); STUDY OF BOIL-OVER PHENOMENON, THE ALGERIAN PETROLEUM AS A MODEL FOR INSPECTION; International Journal of Chemical and Petroleum Sciences (Int J Chem Pet Sci), December 2015, 4(2), 42-49. - ISSN 2253-0932 - www.researchgate.net

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