quarta-feira, 21 de março de 2018

Pérolas, peixes, pH, dilúvio e uma dita tautologia V


“...e no meio de nós, peixes com determinadas características, incluindo presunçosos cérebros, um criacionista em dilúvio de pérolas.”

Continuação do "debulhar" sobre o esperneio de um de nossos amigos criacionista.
Pérolas, peixes, pH, dilúvio e uma dita tautologia IV - Scientia est Potentia


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Normalmente criacionistas quando encontram um texto na internet contundente contra seus dogmas, passam a sofrer de uma curiosa verborréias nos comentários, e sequer leem o que já lhes foi apresentado, muitas vezes, andando em círculos.

Por exemplo, desprezam os devastadores pensadores para os argumentos teleológicos, como Hume, que há mais de 300 anos literalmente sepultou os argumentos em Filosofia desta natureza, e de certa maneira, anteviu o processo de seleção natural apresentado por Darwin e que em pouco tempo seria igualmente apresentado por Wallace.

Mas claro que eles insistem nisso.

Recomendamos:
Robson Stigar; O ARGUMENTO TELEOLÓGICO EM DAVID HUME; 07 de June de 2008. - www.webartigos.com


Destacamos:
“Para o argumento teleológico funcionar, seria necessário que só nos pudéssemos aperceber de ordem quando essa ordem resulta do desígnio (criação). Mas nós vemos "ordem" constantemente, resultante de processos presumivelmente sem consciência, como a geração e a vegetação. O desígnio (criação) diz apenas respeito a uma pequena parte da nossa experiência de "ordem" e "objetivo".

O argumento do desígnio, mesmo que funcionasse, não poderia suportar uma robusta fé em Deus. Tudo o que se pode esperar é a conclusão de que a configuração do universo é o resultado de algum agente (ou agentes) moralmente ambíguo, possivelmente não inteligente, cujos métodos possuam alguma semelhança com a criação humana. Pelos próprios princípios do argumento teleológico, a ordem mental de Deus e a funcionalidade necessitam de explicação. Senão, podemos considerar a ordem do universo, inexplicada.

Muitas vezes, o que parece ser objetivo, onde parece que o objeto X tem o aspecto A por forma a assegurar o fim F, é melhor explicado pelo processo da filtragem: ou seja, o objeto X não existiria se não possuísse o aspecto A, e o fim F é apenas interessante para nós. Uma projeção humana de objetivos na natureza. Esta explicação mecânica da teleologia antecipou a seleção natural.”


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Evidentemente, a cegueira a qualquer argumento continua…

As frases do “debatedor” em questão não tem muita serventia nem efeito, mas servem para apresentarmos diversos pontos que são recorrentes e sempre interessantes na negação do científico.

“Tudo que você fez foi refutar o criacionismo, mas não validou o evolucionismo e omitiu o que Popper pensa sobre a teoria evolutiva, um dogma metafísico.”

Criacionistas e outros “pseudos” tem profundos problemas com falseabilidade.

Refutamos o criacionismo (e se o refutamos, ele deveria nem mais tentar defendê-lo!) inclusive por ser extremamente simples.

Toda a Paleontologia aponta para a ancestralidade, incluindo a universal e juntamente com sua ciência irmã, a Geologia, aponta para datações que não são nem de perto de uma Terra de menos de bilhões de anos. A Geocronologia é campo extremamente preciso, hoje em dia.

Não há qualquer evidência para o surgimento miraculoso de qualquer espécie, ou mesmo, de levas de espécies simultaneamente. Nenhum táxon e seu histórico sequer aponta para um surgimento de forma complexa miraculosamente, sequer entre os mais simples organismos, muito menos para algo robusto em número de células como um pequeno verme, e imaginamos o absurdo para um grande animal ou árvore, para exemplos extremos.

Aliás, esta argumentação pode ser tomada com modificação, dos próprios criacionistas no que tange a “falácia de Hoyle”. Estruturas progridem em complexidade no processo evolutivo “das moléculas ao homem” (sutil erro, mas frase de efeito), e nem mesmo a mais simples molécula de uma enzima surge por acaso no espaço, produzida por um arranjo fortuito. Os processos que produziram a mais simples cicatrização entre os animais levaram centenas de milhões de anos para desenvolverem-se bioquimicamente, que se dirá de uma animal biologicamente mais complexo que nós, como um urso ou uma ovelha (cérebro e mente poderosos não são tudo em Biologia, no que seja “vida”).

Poderíamos alongar estes pontos aqui por páginas e páginas, e chegamos a uma conclusão rápida: o criacionismo, sequer como hipótese (o que, à plena análise, nem é) é refutado e não serve de paradigma algum para sobre ele se construir Ciência.

Aqui, a “hipótese criação”, digamos, no que trata-se de seres vivos, está morta e enterrada, ou, mais tecnicamente, falseada.
Agora vamos a outra parte do esperneio do meu “adversário”.

Não tenho, eu, podre engenheiro “com mais algumas penas rotas de pavão” de “sustentar o evolucionismo”, validar, como ele disse.

Basta a frase: “Coisa alguma faz sentido em Biologia a não ser à luz da evolução.”, numa forma mais rigorosa em linguagem e lógica, do grande Theodosius Dobzhansky.

Toda a literatura em Paleontologia, um bocado da Geologia, um esmagador volume da Genética, colossal literatura interrelacionada em Cosmologia, Astrofísica, etc, e obviamente a Biologia Evolutiva, sustenta já o que sejam fósseis, ancestralidade, o não fixismo das espécies, o histórico das fauna e flora ao longo da história e suas extinções. A impossibilidade das formas de vida surgirem miraculosamente tem seu poderoso braço na Termodinâmica, e esta mesma, relacionada com a Teoria da Informação, conduz a entendermos que evoluímos, assim como todos os outros seres vivos, pois basicamente rros se produzem.

Não tenho de “validar” coisa alguma para a qual sequer sou plenamente apto, até porque todos os discursos ao tolo não terão efeito, mas sim, nossos “adversários” que tem de entender seus profundos erros, até em Filosofia da Ciência.

Por outro lado, exatamente pela falseabilidade, eles poderiam perfeitamente, com um simples artigo, refutar o que lhes causa tanta repulsa - no fundo estúpida, claro - e teriam a “glória eterna”.

Eu prefiro minha humilde posição de fazê-los em farelo com suas crenças, que no fundo, são pretensões de tirania.


Bom, sobre as afirmações de Popper, de um cunho “metafísico” na Teoria da Evolução, acredito que esgotei o assunto há um bocado de tempo, e reforcemos, sejamos sinceros, o grande pensador aqui errou, até por desconhecer certos aspectos da “ciência única” que é a Biologia:

A carta de Popper sobre evolução das espécies
Uma correspondência do filósofo da ciência e sua verdadeira posição sobre evolução
Scientia

Um desabafo até arrogante: Não trato do tema com amadores sem preparo e leigos, por simples economia de tempo. As retratações de Popper e as críticas a este ponto em sua ampla obra são abundantes, e não vai ser citando exatamente um pensador que limita pesadamente inúmeras afirmações dos criacionistas, basicamente pelo critério de demarcação, que irão os criacionistas obter algum resultado em fazer algum mínimo risco no que seja a poderosa Teoria “eixo” da Biologia.

“É um erro de raciocínio tentar refutar outras teorias e omitir os problemas que tua 'crença' apresenta.”

Interessante como eles são repetitivos, não?

Quando refutamos outra “teoria” (no mais vulgar sentido do termo, que é de hipótese), não precisamos tratar de qualquer coisa, que seja até um defeito grave, da teoria que defendemos.

Por uma analogia até boba, é como dizer que eu não possa demolir a casa que está para desabar porque o caminhão em que cheguei está com um pneu meio murcho.

Por uma analogia mais séria, é dizer que não possa atacar os problemas observacionais e de Física da Teoria do Estado Estacionário em Cosmologia por ter o Modelo FLRW problemas para tratar o universo acima de determinada temperatura e densidade nos primeiros instantes da história do universo.

Sabemos que a evolução dos seres vivos, o objeto, a Teoria Sintética da Evolução em Biologia, seu modelo que inclui potentemente a Genética, é a Teoria Científica “eixo” da Biologia e de inúmeros campos relacionados. Isso tem um tremendo significado num campo científico. A própria Física, rainha das Ciência, não o possui, num conflito que há entre Relatividade e Mecânica Quântica, ainda não resolvido e talvez que jamais venha a ser. A Biologia não tem, na Terra, este problema;

Agora façamos uma lista de possíveis problemas:

A evolução das aves é um campo um tanto nebuloso na sua cladística específica. Certos pontos ainda são obscuros. Estou exagerando, pois muito já sabemos, e o entendimento tem se tornado acelerado.

A árvore da ancestralidade e dos diversos parentes do homem não é bem definida. Idem ao anterior, mas deixemos assim.

A evolução dos mamíferos de ovíparos para marsupiais e placentários é um tanto obscura. Ibidem.

Podemos retroceder no tempo e dizer que temos problema até com a transição de organismos unicelulares para pluricelulares nos é um mistério, mesmo com agregações de simples amebas e os cnidários e seu desenvolvimento já mostrando o contrário.
Poderiam nossos “adversários” fazer uma longa lista, as quais, normalmente, são mais problemas de sua ignorância no campo de que da “nossa teoria”. Muitas vezes, tais “lacunas” são até sem qualquer sentido, como incluir a origem da vida no que trata evolução dos seres vivos.

Ainda assim, infelizmente para os criacionistas, isso não vai derrubar o processo evolutivo de um cão, de um cavalo, das baleias, das plantas com flores, inúmeros outros táxons, e sequer vai arranhar os diversos mecanismos do processo evolutivo, inclusive em seus mecanismos genéticos, que sustentam a evolução dos seres vivos.

Por esses motivos, nas entrelinhas das “falhas” acima, que a Teoria da Evolução é entre as teorias científicas, a que mais tem resistido ao flagelo da falseabilidade desde que sequer os fundamentos popperianos da falseabilidade existiam. Está entre as mais sólidas Teorias Científicas pois seus mecanismos são relativamente simples, suas evidências esmagadoras e sua comprovação experimental e em campo, por exemplo, nas especiações, ocorrem constantemente em apresentação na literatura científica.

Podemos ter até os quatro pneus de nosso caminhão furados, e o motor fundir na entrada do terreno. Ainda sim, demoliremos facilmente, por poderoso método, a casa da pseudociência, por sinal, nas palavras de um conhecido da Biologia, “um jardim mal cuidado”, do criacionismo.


“Dessa forma, sempre raivosos, pseudo-cientistas ateus sempre misturam religião com ciência, o que não os deixa enxergar novos horizontes,”

Bom, seguidamente somos “raivosos” pois a teimosia, a soberba do ignorante, a empáfia, a confusão completa dos criacionistas é irritante, mas acho que entendi o ponto.

Perdão, mas “pseudos” são os criacionistas, e inclusive, por definição e exemplo clássico. Tentam socar a peça quadrada e cheia de rachaduras de suas afirmações no buraco redondo e perfeitamente usinado do que seja o conhecimento científico, já para a Idade da terra e seus diversos processos na casa dos dois séculos.

Não somos nós, claramente, que misturamos religião e Ciência, muito pelo contrário. Basta ver as universidades católicas com seus centros de excelência pelo mundo em Biologia, e até pesquisadores em paleontologia que são sacerdotes. Theodosius Dobzhansky., por exemplo marcante, era um homem religiosos. Aqui, temos a clara associação de que aceitar o fato da evolução e entender sua Teoria Científica é relacionado com ateísmo, o que é uma falácia de associação indevida mais que clássica.

De nosso lado, temos a fé que pode resistir, como é natural em quem tem fé, aos fatos apresentados pelo mundo. Do outro lado temos o fundamentalismo que quer distorcer os fatos e tentar abrir rachaduras num sólido edifício. Lamento, somos, mais que tudo, uma impenetrável muralha, e Ciência é força destruidora, não volume de argla que atenda a desejos autoritários de péssimos artesãos.

Artesão tão ruins ue olham apenas para baixo, para um único livro. Não vejo, lembramos, budistas amolarem cientistas e outros com seus dogmas de criação, e boa parte dos cristãos, mesmo em posições de liderança de sua fé, o fazerem. ATé porque todas estas pessoas, predominantemente os cientistas, realmente enxergam novos horizontes.

“Kuhn tinha razão quando afirmou que a ciência defende seus paradigmas, eu diria que os defende como se fossem crentes defendendo Deus, o que coloca ateus e crentes na mesma esfera.”

Sinceramente, seguido, tenho dificuldades até em decompor a verborreia de criacionistas. Mas tentemos.

Kuhn não os sustenta, e sim, a Ciência defende seus paradigmas. O cenário espaço-tempo absoluto e apriorístico de Newton e infiltrando-se na Filosofia predominantemente com Kant causou até cansaço a Einstein e Eddington. Até Friedmann e Lemaître, mais diretamente este, enfrentaram paradigmas que foram de Einstein e outros, diretamente seus seguidores (que em Ciência não tem relação alguma com seguir algo como um pastor ou teólogo). Shoemaker e outros enfrentaram geólogos do mundo inteiro que não aceitavam que rochas do tamanho de montanhas caíssem do céu. Alfred Wegener e seus predecessores enfrentaram um mundo que dizia que os continentes eram fixos na história da Terra, um problema intimamente ligado com erros dos criacionistas e até na refutação total do que pudesse ser mesmo com diversos problemas menores um “dilúvio universal”. A lista poderia seguir longamente, e renderia um artigo por si só, tenho mais que certeza.

Mas Kuhn não abre porta em seu “edifício de afirmações”, nos paradigmas que apresenta que a ciência constrói como trincheiras, para o que sejam os criacionistas. Einstein, Eddington, Friedmann, Lemaître e outros citados tinham algo, e como tinham! Criacionistas não possuem coisa alguma, a não ser dogmas e fundamentalismo.

Existe a famosa frase de Einstein que se ele estivesse errado, bastaria uma única pessoa a refutá-lo, e não cem assinando algum manifesto. Criacionistas não são Einstein, não são sequer cem cientistas com sólida formação assinando algo. Eles são uma anomalia cultural teimosa e fundamentalmente errada. Todo o discurso sólido e bem construído de Kuhn, que sigo com tantas unhas como sigo Popper, e faz alguns estragos inclusive neste, não os salva, sequer defende posições.

Todos os rançosos e embolorados cartapácios de miríades de páginas dos criacionistas não farão qualquer efeito, pois como afirmamos acima, o que tem tentado atacar exatamente para sustentar como sobrevivente a Teoria da Evolução é arma muito mais perigosa, a própria Ciência, coisa que eles não são, e com seus princípios mais profundos, jamais serão.

Ciência jamais é certeza, sempre insisto. Ciência é permanente dúvida.


“Por isso não se vanglorie como se ateísmo fizesse melhor ciência, no fundo fazem pior ciência. E aprenda a ter humildade, porque já deu para perceber que você é um lixo.”

Notemos a falácia da associação indevida de ateísmo, coisa que filosoficamente sequer sou, pois agnóstico - única posição filosófica honesta.

Ateísmo não, produz Ciência, isso até baratas que andam perto de livros de Popper e Kuhn sabem, mas materialismo produz Ciência, pois senão, as hipóteses mais profundas, os ditos em certos meios e de meu uso “postulados científicos” teriam de incluir o sobrenatural, e portanto, romperiam com a demarcação, o que tornaria toda a construção científica impossvel.

Por exemplo novamente didático, eu poderia afirmar que o que faz ímãs atrairem-se seriam micro-exus eletromagnéticos invisíveis e indetectáveis, e tal, exatamente como um fantasmão providente que tem de ter criado, entre inúmeras outras infelizes para nós criaturas, muriçocas 6500 anos atrás, não poderia ser negado, nem mesmo evidenciado.

Por isso que o sobrenatural não pode ser afirmado em ciência, e temos de nos limitar, por simples exclusão, ao natural, e neste, ao materialismo, no sentido de energia e matéria, até prova em contrário, as únicas coisas - e são na verdade a mesma, desde o início do século XX) - que compõe o mundo. Temos de afirmar o que “existe”, o que é detectável, não conjeturas além do mundo, como poderosos seres ou simples pequenos exus, como base dos fenômenos, ou nos calar. MIcro exus, assim, como o ser dos seres, não são falseáveis, pois não podemos comprovar inexistência.

Como consequência direta, se conjecturas fossem postuláveis no científico, a diversidade possível para explicar-se miraculosamente qualquer fenômeno seria infinita, e teríamos um caos, e não qualquer mínima solução, mesmo para os mais simples fenômenos.
Em caso de nosso desconhecimento, calemo-nos, e não coloquemos micro-exus como causa de coisa alguma.


Agora, abandone-mos as frases de nosso “amiguinho” por alguns parágrafos.

Máxima citada pelo meu adversário:
A inteligência é útil para tudo, mas não é suficiente para nada. - Henti-Frederic Amiel.

Citemos outras frases:

Os velhos acreditam em tudo; os adultos suspeitam de tudo; os jovens sabem tudo. - Oscar Wilde

Em termos de ciência, para evitar a ironia de Wilde, seja sempre na curiosidade um jovem, na paciência um velho mas no método um adulto maduro (lembre-se que Ciência é dúvida, como afirmei). Mas aprenda rápido o método todo, pois o homem finda, mesmo para os crentes, e como também ironizou Wilde.

“O que caracteriza a juventude é a certeza da imortalidade.”


Agora uma piada que representa muito bem o problema que criacionistas tem com evidências científicas:


O detetive chega para um indivíduo de certa pitoresca nacionalidade, depois de passar dias e dias disfarçado, seguindo a esposa de nome Maria, suspeita de estar traindo o cliente, esposo, de nome Manuel:
- Segui ela ontem o Motel "Vamunessaqueébão". Me disfarcei de empregado, vi os dois sorridentes entrando na suíte presidencial, que tem cama redonda, espelhos e outros equipamentos. Aí, quando cheguei perto da fechadura, olhei pelo buraco, sua esposa estava tirando a roupa e aí..
- Fala, gajo*, o que aconteceu?
- O cara tirou a cueca e pendurou na maçaneta, não vi mais nada.
- Ora, raios*, esta dúvida é que me mata!

* Supomos que sejam palavras e expressões claramente de origem num vocabulário do Oriente Médio ou sudeste da Europa, próximo aos Balcans.

Recomendações de leitura
Princípio de Demarcação de Karl Popper
Um princípio em Filosofia da Ciência que estabelece a natureza das hipóteses.

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